Flamengo de Rogério Ceni x São Paulo de Rogério Ceni
Ainda vivendo o otimismo inocente da tenra infância da carreira de treinador, Rogério Ceni ainda não dá sinais de estar emocionalmente apto para encarar o São Paulo, sua figura paterna desde os 17 anos. Eliminar o São Paulo de uma competição é na verdade simbolicamente eliminar finalmente o clube de sua vida, um pensamento ainda pesado demais para um jovem treinador que pode até achar, na superfície de sua consciência, que está fazendo de tudo para derrotar o ex-clube, mas a realidade é que nas profundezas de seus desejos mais inconfessáveis, Rogério ainda não está preparado para o grande confronto consigo mesmo, onde o preço será, inapelavelmente, sair da sombra de seu pai dominador, o Gigante do Morumbi.
Após sua demissão como técnico do São Paulo em 2017, um obcecado Ceni dedicou-se a vagar pelo Brasil perseguindo o ex-clube em confrontos diretos para ajudar da maneira como pode, ou seja, treinando as equipes que o São Paulo encontra pelos mata-matas do país.
No Fortaleza, onde o treinador passou quase dois anos disfarçado, ganhando a confiança de torcedores e funcionários, Rogério pela primeira vez esteve frente a frente com seu emblemático duelo e, não surpreendentemente, o São Paulo passou. Agora, o novo técnico do Flamengo já na estreia iniciou os trabalhos da eliminação de seu novo contratante, e se tudo continuar saindo como planejado, a conclusão óbvia é que ele deve assumir Grêmio ou Cuiabá nas semifinais, até garantir o título inédito do Tricolor na Copa do Brasil.
O velho golpe do auxiliar do Guardiola
Até lá, Ceni deve continuar o delicado trabalho no Rubro-Negro, um clube ainda mentalmente abalado pela pitoresca passagem de Domenéc Torrent, que após aplicar na entrevista de emprego a conhecida tática de dizer que o maior defeito é o "perfeccionismo" e que "não vai mexer no time", foi imediatamente contratado.
O Flamengo, e por que não, o brasileiro, parecem sofrer de um retorno ao complexo de vira-latas do qual Nelson Rodrigues e a Seleção Brasileira campeã de 58 haviam nos libertado. Tentamos fingir que está tudo bem, mas a constrangedora tendência a deixar-se iludir por todo suposto contato com Guardiola ou qualquer coisa que remeta remotamente ao Barcelona parece gritar o retrocesso de nossa autoestima. Ainda que, justiça seja feita, seja um retrocesso plenamente justificado.
Em outras palavras, o golpe do "auxiliar do Guardiola" é o novo "Muricy fez estágio no Barcelona", armadilha também aplicada no Flamengo em 2016, após uma visita guiada do ex-treinador com um grupo de turistas idosos da CVC no clube catalão. E isso para ficar só nos treinadores, porque nem quero entrar no mérito da contratação do primo do Messi para não desesperar o leitor.
A bem da verdade, a Gávea tem um longo histórico de ingenuidade diante da malícia alheia, desde o famoso caso do atleta Vampeta que "fingia que jogava" (fingia muito mal, por sinal) enquanto o clube (também muito mal) "fingia que pagava", passando por contratações, para citar só algumas, como as de Mozart, Dimba, Ronaldinho Gaúcho, Carlos Eduardo e Vitinho, até o técnico Reinaldo Rueda, que saiu para comprar cigarros e fazer uma cirurgia - e nunca mais voltou.
Mas para onde terá ido Domenéc? Certamente a buscar alguma liga sem são paulos, atléticos mineiros ou mesmo goianienses, de onde ele provavelmente gostaria de nunca ter saído.
Essa coluna não reflete nem minhas próprias opiniões. Escrevo enquanto discordo veementemente de minhas próprias palavras.
Questionamento do Prof. Cerginho
Craque Daniel é apresentador do Falha de Cobertura, (supostamente) ex-jogador, empresário de atletas e inocentado de todas as acusações feitas contra ele. (Personagem interpretado por Daniel Furlan, um dos criadores da TV Quase, que exibe na internet o Falha de Cobertura e Choque de Cultura.)
