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Craque Daniel

O eterno Brasil x Bolívia

O Brasil brilha aproveitando-se do fato do futebol não existir mais na Bolívia - Pool/Getty Images
O Brasil brilha aproveitando-se do fato do futebol não existir mais na Bolívia Imagem: Pool/Getty Images

12/10/2020 09h34

A Seleção Brasileira deu início à caminhada rumo à Copa do Mundo do Catar com um placar elástico sobre um pequeno grupo de cidadãos bolivianos. Além de extremamente desfalcada, a Bolívia vem de uma longa paralisação do futebol no país, com a equipe inclusive demonstrando em alguns momentos ter esquecido completamente a modalidade esportiva. Melhor para o Brasil, que atropelou os confusos adversários.

E a bem da verdade, melhor também para a Bolívia, que se viu em campo na situação confortável que é o placar dilatado a ponto de se tornar impossível de ser alcançado, permitindo que os atletas relaxassem e aproveitassem a viagem, seja assistindo ao jogo, seja pensando em outras coisas durante a partida, como longas caminhadas na praia ou o toque sensual da pessoa amada. É impressionante como nossa mente voa quando nos permitimos abandonar a concentração no que estamos fazendo.

Nos últimos anos muito se alardeou que nos tornaríamos uma nova Venezuela, mas é um alívio perceber que a nova Venezuela na verdade é a seleção da Bolívia. Isso graças ao trabalho do seu técnico, que não por coincidência é venezuelano, e foi contratado justamente para implementar essa mentalidade de pior futebol do continente. Os atletas têm correspondido muito bem ao seu estilo de pouca confiança, pobreza tática e nenhuma chance de gol - só lamentando a ausência de Marcelo Moreno, que cumpriria a importante função de perder as chances que o time nunca cria.

Destaques!

Alex Telles, lateral-esquerdo da seleção brasileira - Miguel Schincariol - Miguel Schincariol
Atleta que alega ser Alex Telles
Imagem: Miguel Schincariol

Suposto Alex Telles: Não se ajuda. De visual completamente diferente de sua última aparição na Seleção, só conseguiu comprovar a própria identidade com a chegada às pressas de um documento com foto com a partida já em andamento, e acabou entrando sem tempo para mostrar seu suposto futebol.

Everton Cebolinha: Ainda vivendo a ressaca de uma eliminação vexatória pelo seu novo clube, o Benfica, Everton demonstra não reencontrar suas grandes atuações sem a presença à beira do gramado de seu ex-técnico Renato Gaúcho, sempre aos berros de que jogava melhor que ele, de que seus gols eram mais bonitos que os dele e de que seduzia mais mulheres que ele. Uma técnica de manipulação psicológica e destruição da sanidade mental que o motivador Renato usa com muita naturalidade. Renato não é um grande líder por acaso: ele sabe que um psicológico arrebentado é o caminho mais curto para o sucesso.

Digo isso porque ao contrário do que se acredita, a autoestima não é a chave para grandes conquistas no esporte. Veja o caso de Alexandre Pato: um atleta cuja autoconfiança foi tão irresponsavelmente estimulada que ele passou a viver numa dimensão particular, onde qualquer esforço tornou-se incômodo demais.

Neymar disputa jogada com Jesus Sagredo em Brasil x Bolívia - Miguel Schincariol - Miguel Schincariol
Seu Ney em ação
Imagem: Miguel Schincariol

Neymar: Reclamou de dores lombares durante a semana e foi orientado pelo departamento médico a atirar-se no chão, rolar e gritar apenas quando estritamente necessário.

Mas o grande desafio aqui é que o anteriormente conhecido como "Menino Neymar" (apelido que ninguém tinha a audácia de usar desde o "Menino Jesus") segue em sua implacável jornada rumo ao maior amadurecimento do mundo, quando passará a ser conhecido por "Seu Ney" (esse sim um apelido maduro) e finalmente receberá o prêmio de Jogador Mais Maduro do Mundo (premiação criada e registrada pelo seu pai), de cuecas no programa do Luciano Huck, numa ousada ação de marketing de uma marca de cuecas. Ele ainda tatuará a palavra "maturidade" no tórax (ou "maturidade alada" no antebraço) e substituirá o slogan "ousadia e alegria" por "hesitação e cautela" em suas chuteiras personalizadas. São informações sigilosas que pessoas próximas (não sei próximas a quê ou a quem) trouxeram com exclusividade para essa coluna.

Aí sim, e só aí, ele terá a maturidade necessária para superar Lionel Messi. O fato é que, gostem ou não, Neymar ainda não é melhor que Messi, mas vai ser. Quando o Seu Lionel tiver 80 anos, vítima de derrame, e o brasileiro 76 e meio, o Neymar (ou Seu Ney) vai engolir o Messi. Engolir! Futebol é momento.

Tite: Temia uma Bolívia muito retrancada, estilo que costuma irritar os brasileiros, mas acabou encontrando uma equipe que deixa o adversário fazer gols à vontade, que é a preferência dos nossos técnicos e o que a imprensa esportiva gosta de confundir com bom futebol.

Tendo dito tudo isso, é impossível não se deprimir diante da constatação de que há um ano, na Copa América, também estávamos debatendo um enfadonho Brasil x Bolívia — e ano que vem tem Copa América de novo. A verdade é que por mais que gostemos de pensar que a vida é um épico Brasil x Itália em 70 (ou mesmo 82), a existência humana não passa de um longo e infrutífero Brasil x Bolívia, onde mesmo que você faça cinco gols, ninguém de fato se importa. E, ainda que importasse, nesse jogo da vida somos apenas reservas eternamente aquecendo, mas nunca entrando, ou um gandula que jamais pega na bola. Até que um dia você morre.

Essa coluna não reflete nem minhas próprias opiniões. Escrevo enquanto discordo veementemente de minhas próprias palavras.

Questionamento do Cerginho

Craque Daniel - Questionamento do Cerginho - Você pode ter os melhores ingredientes e cozinhar mal - Coluna Craque Daniel - Coluna Craque Daniel
Imagem: Coluna Craque Daniel

Craque Daniel é apresentador do Falha de Cobertura, (supostamente) ex-jogador, empresário de atletas e inocentado de todas as acusações feitas contra ele.

(Personagem interpretado por Daniel Furlan, um dos criadores da TV Quase, que exibe na internet o Falha de Cobertura e Choque de Cultura.)