Topo

Clodoaldo Silva

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Sem limite com Fernando Fernandes

Amante da natureza e de esportes radicais, ele é uma indicação e tanto para apresentar o reality global - Reprodução
Amante da natureza e de esportes radicais, ele é uma indicação e tanto para apresentar o reality global Imagem: Reprodução

06/01/2022 18h19

Meu amigo Fernando Fernandes foi anunciado hoje, 6 de janeiro, como o apresentador da nova temporada do "No Limite", da Globo. Amante da natureza e de esportes radicais, ele é uma indicação e tanto para apresentar o reality.

Para além disso, é um representante das pessoas com deficiência e estará na telinha da principal emissora aberta do país para mostrar realmente que limite é um lugar que não existe.

Eu sempre digo que é muito importante, nós, pessoas com deficiência, estarmos no máximo de lugares possíveis. Quem não é visto não é lembrado. Outra questão é que normalizar a nossa participação enquanto apresentadores, jornalistas, colunistas e/ou comentaristas é entender que fazemos parte da camada social e que devemos estar em postos da televisão, dos rádios ou dos jornais em pé de igualdade com todos os profissionais.

Essa é uma grande oportunidade para o Fernando. Segundo entrevistas dele que li, a maior da sua vida. Eu me sinto representado e, com certeza, muitas pessoas se sentirão assim. Vale sempre lembrar que, de acordo com o Censo, o Brasil possui 24,5% de pessoas com deficiência. Se formos analisar quantas pessoas estão envolvidas com essas pessoas, no mínimo esse número dobra.

Ter Fernando no reality abre portas para outras pessoas com deficiência na TV. Enquanto veículo de comunicação, a Globo sai mais uma vez na frente no quesito de diversidade. Tenho que tirar o chapéu para a emissora, que foi também uma precursora no que diz respeito à cobertura de Jogos Paralímpicos. Para quem não sabe, ela nunca fez parte dos veículos que eram convidados e custeados pelo Comitê Paralímpico Brasileiro para realizar a cobertura. Sempre esteve com uma equipe própria nos Jogos e entendeu a questão como negócio.

A emissora entendeu o valor do esporte paralímpico e iniciou coberturas únicas. Vale lembrar que nos Jogos Olímpicos passados, por exemplo, não houve interesse pela Record por direitos de imagens dos Jogos Paralímpicos. Por mais que a Globo não dê o mesmo peso de cobertura para as Paralimpíadas, entendo que ainda existe um caminho longo de melhora.

Para a sociedade que há 20 anos não sabia nem o que eram os Jogos e hoje se espelha em grandes paralímpicos que são ídolos de crianças, adolescentes e adultos, com certeza a contribuição da mídia é muito importante nesse processo de reconhecimento das pessoas com deficiência como capazes, bem como de representatividade em diferentes lugares.

Não existe limite quando pensamos na participação e representatividade nos lugares. Nos Jogos Paralímpicos de Tóquio eu, Fernando Fernandes, Adria Santos e Verônica Hipólito fomos alguns dos comentaristas com deficiência que participaram dos trabalhos da Globo e do SporTV. Na ESPN, meu amigo André Brasil encabeçou algumas coberturas. Quando imaginaríamos essa realidade? Inimaginável, mas possível - porque os atletas começaram a aparecer na mídia como uma possibilidade real na sociedade.

O retorno, com certeza, foi sensacional. Quem um dia imaginaria que uma mulher cega poderia ser comentarista da TV? Quem imaginaria que eu, Clodoaldo Silva, divertiria o público? Fernando Fernandes, com sua experiência, também deu show. Verônica ficou marcada com sua linguagem clara e contra o capacitismo.

O mundo mudou. E com ele, existem possibilidades incríveis para nós, que nunca pensamos em ter limites e que entendemos que podemos estar aonde quisermos. Representatividade é importante, mas conscientização também.

Quando a gente normaliza algo, indiretamente, estamos mostrando para as pessoas que temos cara e espaço. Todo mundo tem suas diferenças, algumas são mais visíveis e outras não. E temos que tratar isso com coração aberto e conhecimento. Mostrar na tela da TV é quebrar padrões e abrir trincheiras que daqui para a frente só tendem a melhorar.

Estou feliz com a possibilidade de ver meu amigo "gostosão", o Fernando Fernandes, como apresentador do reality. Não vou perder nada e vou aprender muito com ele. Limite é um lugar que nunca existiu! Deu bom!

Abraços Aquáticos para todos e excelente quinta-feira.