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Clodoaldo Silva

Ausência de candidatos com deficiência reflete falta de políticas ao setor

Urna eletrônica - Agência Brasil/Fabio Rodrigues Pozzebom
Urna eletrônica Imagem: Agência Brasil/Fabio Rodrigues Pozzebom

12/11/2020 18h09

Só parece que evoluímos, mas na verdade falta muito para alcançar. No próximo domingo (15) é dia de eleições. E hoje venho aqui dizer que nós precisamos votar em nós mesmos para que possamos ter representatividade nos municípios. E a representatividade política irá garantir direitos para nós e fazer, cada vez mais, com que sejamos vistos e defendidos.

Infelizmente, segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), compilados pela Agência Pública, apenas 1,2% do total de candidatos que concorrem as eleições tem algum tipo de deficiência. A maioria dos candidatos que declarou alguma deficiência tenta uma vaga nas câmaras municipais (6.096). Outros 249 concorrem como prefeito/a e 239, como vice-prefeito/a. Dos 6.584 candidatos com deficiência nessas eleições, 4.911 são homens e 1.673 são mulheres.

Quase metade deles declarou possuir deficiência física. Em seguida, estão as deficiências visual e auditiva, e a menos frequente é o autismo. É importante ressaltar que cerca de um terço afirmou ter algum tipo de deficiência, mas não especificou.

Por incrível que pareça, esta é a primeira vez que as eleições brasileiras incluíram a autodeclaração de deficiência no registro de pedidos de candidaturas. No entanto, o preenchimento é opcional, assim como ocorre com as informações sobre raça/cor.

A falta de equidade e representatividade na política brasileira é alarmante. E quando me refiro à representatividade não posso falar somente da ausência de pessoas com deficiência na política. Faltam mulheres, sobretudo negras, e homens negros e índios.

Para mim, a falta de candidatos com deficiência na política é reflexo da falta dessas pessoas ocupando outros lugares na sociedade também. Como podemos chegar aos cargos políticos sem que o Estado dê prioridade para nós nas políticas públicas?

Eu vivo defendendo que as pessoas com deficiência devem estar em todos os lugares. Se não estiverem, não serão lembradas. Por isso, é muito importante a gente ir para as ruas, ocupar lugares que todos frequentam, estudar, lutar pela acessibilidade e inclusão, estar nas emissoras de rádio e de televisão, ter influência na internet e, é lógico, sermos candidatos nas eleições. Quem melhor do que nós para ocupar os cargos políticos e lutar pelas nossas bandeiras?

Quando vemos esses dados compreendemos que temos um longo caminho para percorrer. No entanto, não podemos deixar de entender o quão significativo e inspirador é ter um dos nossos na política, no esporte, nas empresas e em outros tantos lugares. Servir de exemplo para multiplicar. E é assim que tem que ser. Só assim iremos ocupar mais espaços e, entre eles, os políticos.

No próximo domingo, vamos tentar analisar os candidatos do município ao qual pertencemos e vamos votar com consciência, mas também pela igualdade. Que a gente coloque como prioridade os candidatos que têm propostas para nós, pessoas com deficiência, e, especificamente, votemos em candidatos que além de apresentarem propostas para as pessoas com deficiência sejam eles mesmos pessoas com deficiência. Quem melhor do que nós para lutar por nós mesmos?