Fogaça: Como os clubes grandes devem usar os estaduais?
Mais uma temporada que começa e sempre o mesmo debate: para que servem os campeonatos estaduais? Ao meu ver, talvez não seja essa a pergunta correta. O que temos que nos perguntar é "Como os times grandes deveriam utilizar os estaduais"?
Para a grande maioria dos clubes de futebol do Brasil, os torneios dos Estados são muito importantes. Eles começam a se preparar antes, fazem esforços hercúleos para contratar e montar uma estrutura. Há geralmente uma mobilização das comunidades e torcidas. Isso não pode ser relevado! Ao mesmo tempo, os clubes pequenos raramente conseguem levantar uma taça de campeão dos seus estados. As federações terminam criando outros torneios e taças alternativas para dar um consolo a todo esse esforço.
É preciso olhar para todas as perspectivas. Os clubes pequenos precisam jogar o máximo possível. Os grandes precisam focar nas competições que lhe são importantes. A imprensa precisa de conteúdo para gerar notícias. E o público gosta de jogos interessantes e da rivalidade local.
Então, os clubes grandes deveriam encarar os estaduais como verdadeiros laboratórios. Ou para desenvolver jovens talentos como faz o Athletico-PR ou para testar formações, dinâmicas e estratégias com o grupo principal, focando as competições vindouras. Jamais como prioridade vencer o título. Torcida e imprensa deveriam apoiar isso, e saber que uma derrota para um time pequeno, ou um desempenho abaixo do aceitável, faz parte desse "laboratório" para torneios mais importantes.
O problema surge quando, devido aos desempenhos e resultados ruins, começa a velha ladainha de trocar treinador, jogar com força máxima, bla bla bla. Esse eterno loop que vitimiza o planejamento dos clubes grandes e amassa os pequenos.
Hoje, a tecnologia permite novas formas de gerar recursos financeiros e os clubes podem se aproveitar das plataformas de streaming, video on demand (VOD) e over-the-top (OTT) para ganhar dinheiro - por exemplo, a plataforma Footters que na Espanha transmite online jogos das divisões menores e monetiza aos clubes diretamente.
Assim, fortalecidos pelo comércio e indústria local além da renda das novas tecnologias, os clubes menores podem se tornar mais independentes da verba da TV (a qual vai acabar, inclusive). O que não impede de negociar jogos com outros canais que possam interessar.
Novos recursos, novas ideias, novas tecnologias. O mundo mudou e algumas estruturas do futebol demoram mais para aceitar as mudanças. Os torneios estaduais são superimportantes para a cultura do nosso futebol. E o papel dos grandes clubes é fundamental nesse processo.
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