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Zaidan: Paulistão ainda tem alguma importância e muita dificuldade

Cássio ergue a taça do Campeonato Paulista em 2019; Corinthians é o atual campeão - Marcello Zambrana/AGIF
Cássio ergue a taça do Campeonato Paulista em 2019; Corinthians é o atual campeão Imagem: Marcello Zambrana/AGIF

20/01/2020 12h00

O título paulista mais recente do São Paulo foi em 2005. Na história do clube, não houve outro período tão longo sem o troféu estadual. O recorde anterior, de 1958 a 1969, geralmente é associado ao esforço dedicado à construção do Morumbi, tempos em que os recursos eram transformados em cimento. A última conquista antes do novo estádio foi em 1957, quando o São Paulo tinha Mauro, Zizinho, Dino Sani, De Sordi, Canhoteiro e companhia, sob o comando de Béla Guttmann.

Vieram, então, as magrezes, a seca, mas a grandeza da agremiação tinha sua manifestação em campo garantida principalmente por Roberto Dias. Concluído o estádio, recuperada a capacidade de buscar craques, o São Paulo conseguiu Toninho, Gerson e o título paulista de 1970. Contratou Pedro Rocha e foi campeão também em 71. Estava mantida a rotina de Toninho, que desembarcou no Morumbi logo depois de ganhar três estaduais seguidos pelo Santos, ou seja, a taça de 71 significava seu quinto título paulista consecutivo. E o São Paulo finalmente voltava a experimentar farturas.

É razoável relacionar o longo tempo sem faixas e taças com o orçamento apertado, feito para garantir o pagamento das contas da grande obra de cimento e aço, mas os maiores obstáculos entre o clube e os troféus eram mesmo os formidáveis esquadrões de Santos e Palmeiras naqueles tempos. Dos doze títulos do Campeonato Paulista disputados de 58 a 69, nove ficaram com o Santos - o Palmeiras ganhou em 59, 63 e 66. Não era diferente nas competições nacionais. Somando Taça Brasil e Torneio Roberto Gomes Pedrosa, foram disputados, de 59 a 70, catorze títulos; destes, o Santos venceu seis e o Palmeiras, quatro (os demais ficaram com Bahia, Cruzeiro, Botafogo e Fluminense).

Depois do bicampeonato paulista em 71, o São Paulo ganhou onze estaduais, seis Brasileiros, três Libertadores e três Mundiais. A importância do estadual é reduzida, encolhida, a cada troféu nacional, a cada taça buscada no estrangeiro. Tem sido assim com todos os grandes clubes brasileiros. Mas o título paulista em 2005 teve significado especial para o São Paulo; reanimou, livrou de amarras, abriu caminho para o que veio na sequência: a terceira Libertadores, o terceiro mundial, três títulos brasileiros seguidos.

Também o Palmeiras está tempo expressivo sem ganhar o Campeonato Paulista: levantou o estadual pela última vez em 2008. De lá para cá, foram cinco conquistas do Corinthians (2009-13-17-18-19) e cinco do Santos (2010-11-12-15-16). Somente o Ituano, campeão em 2014, se intrometeu no domínio dos alvinegros.

Depois daquele título em 2008, o Palmeiras ganhou dois Campeonatos Brasileiros e duas Copas do Brasil, sofreu a angústia de um rebaixamento, passou por uma transformação administrativa, aumentou sua receita para níveis muito altos e fez da Libertadores uma meta habitual. A maior capacidade de investimento no futebol, a ótima estrutura física, o excelente estádio e a boa condição financeira vieram acompanhados de exigência permanente por títulos.

Naturalmente, nenhum dos quatro grandes clubes paulistas faz da faixa estadual seu objetivo primordial, mas está claro que as conquistas que mais importam podem ficar menos distantes para o time que contar com a partida, a ignição, o estímulo da taça doméstica. Santos, Corinthians e Palmeiras estão sob nova direção técnica, e o título estadual pode tornar as coisas bem menos complicadas para o treinador que conquistá-lo. Para o São Paulo, que manteve Fernando Diniz, um troféu em começo de temporada, para além de acabar com a longa e incômoda seca, faria seu técnico experimentar algum sossego, certo conforto, algo parecido com confiança emanada desde os microfones e arquibancadas.

O Campeonato Paulista, tal e qual os demais estaduais, não tem mais o prestígio e a relevância de tempos idos, mas ainda guarda alguma importância e muita dificuldade. Há, sim, bom valor na conquista de uma competição que tem cinco dos vinte times que disputarão a primeira divisão nacional deste ano. Considerando as peculiaridades e esquisitices do calendário do futebol brasileiro, as disputas caseiras também servem para correções, aperfeiçoamentos, filtros, antes dos principais embates da temporada. Os estaduais podem revelar soluções, permitir experiências, abrir olhos. Ensinam, embora nem todos aprendam. Alguma carga útil, mesmo que cicatrizes, se carrega desde os estaduais até aos grandes confrontos no país, na América do Sul, talvez em um canto longe no mundo.

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