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Cláudio Zaidan - Seleção brasileira: é hora de experiências

Fabinho, volante da seleção brasileira: por erro de Tite, ele não foi convocado para a Copa América - Lucas Figueiredo/CBF
Fabinho, volante da seleção brasileira: por erro de Tite, ele não foi convocado para a Copa América Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

09/09/2019 04h00

O amistoso do Brasil contra o Peru só será útil se Tite escalar jogadores que chegaram agora à seleção. Se a intenção é observá-los para além dos treinos, jogos assim são ideais. Falta muito tempo até que comece o classificatório para a Copa de 22, a comissão técnica trabalha com mais sossego depois do título na Copa América, e não é momento de preocupações excessivas com o entrosamento do time; logo, estão dadas as condições para testar novidades, inclusive táticas.

É a hora de escalar Samir, Jorge, Vinícius Junior e Bruno Henrique. Paquetá, que já foi titular em amistosos no primeiro semestre, precisa de mais oportunidades e mais tempo em campo; não adianta entrar faltando dez minutos para o final do jogo. O mesmo vale para Fabinho, titular e campeão europeu pelo Liverpool, que, por erro do Tite, não foi convocado para a Copa América.

Pode ser que somente dois ou três sejam aprovados. É comum que jogadores de bom nível técnico se inibam quando vestem a camisa do Brasil, como se tivessem de carregar todo o peso da extraordinária história da seleção; e que outros, convocados por estarem jogando bem em seus clubes, não se adaptem ao modo de jogar do escrete ou, dado o nível de exigência que acompanha a seleção, não consigam mostrar qualidade suficiente. É o jogo amistoso, pois, que o treinador deve usar como filtro; melhor ainda quando a próxima competição oficial está longe.

Citei a ausência de Fabinho na Copa América como um dos erros de Tite naquela convocação. Na minha opinião, o técnico brasileiro também errou ao não chamar Renan Lodi. Já que Tite parece decidido a não convocar Marcelo, a lateral esquerda segue disputada por Filipe Luís, Alex Sandro, Alex Telles e, agora, Jorge; também Arana, recém-chegado ao Atalanta, pode entrar na parada, principalmente se for bem na Liga dos Campeões.

Nenhum deles tem jogado mais que Lodi, que rapidamente conseguiu convencer Simeone e tomou conta da lateral. Para os amistosos deste setembro, Lodi e Jorge seriam os melhores nomes. Chamaram Lodi para a seleção sub-23, o que é incompatível com o estágio que o jogador já alcançou. O Atlético Madrid desprezou a convocação e não liberou o jogador, ou seja, Lodi ficou fora dos dois times.

No jogo contra a Colômbia, a seleção fez um primeiro tempo muito ruim: marcação fraca e desorientada, muitos passes errados e quase nenhuma qualidade no ataque. Não por acaso, a Colômbia foi para o intervalo com a vantagem de 2 a 1. O Brasil melhorou quando Neymar, apagado na primeira metade da partida, deixou de se limitar à ponta esquerda, se aproximou de Firmino e começou a entrar na área; passou, ainda, a apostar mais na velocidade e no drible. Também por isso, ou seja, tendo de se preocupar mais com Neymar, a Colômbia recuou muito e tomou o empate. O gol de Neymar foi decorrência direta desses fatores e, é claro, do ótimo passe de Daniel Alves.

O certo é que o Brasil fez um jogo medíocre, o que, por ser um amistoso, não é problema importante. Mas o fato é que, faltando meses para o classificatório sul-americano (e pouco mais de três anos para o Mundial no Catar), os amistosos deste semestre devem ser aproveitados por Tite para observar, mudar, experimentar, em vez de se ancorar no título sul-americano. É muito difícil que o time campeão em julho deste ano chegue à Copa do Mundo sem mudanças relevantes. A própria história da seleção revela esse dinamismo.

Cabe, portanto, ao treinador buscar alternativas; e ele tem de fazer isso incansável e permanentemente. Tite parece avesso a mudanças de roteiro, mas nenhum time importante pode ficar confinado a um só modo de jogar. E também é dever de um técnico de seleção ficar atento aos jogadores que merecem pelo menos uma chance.

Vejam o caso do Gabriel. Não há garantia de que ele repetirá na seleção o que tem feito pelo Flamengo, mas é óbvio que suas atuações nesta temporada quase exigem que Tite o convoque e o observe em campo. Seria diferente se os que têm jogado na seleção fossem claramente superiores, mas, com exceção de Neymar, não é o caso.

Aqui no Campo Livre do UOL Esporte, duas ou três vezes escrevemos que há um excesso de datas para os amistosos entre seleções, o que, no caso do Brasil, é agravado pela não interrupção de jogos do campeonato nacional e da Copa do Brasil, provocando interferência técnica nas competições que deveriam receber o zelo da CBF. Já que os clubes brasileiros não conseguem evitar tal situação, que pelo menos Tite utilize bem esses jogos e encontre, ao fim, o melhor time possível para disputar a Copa do Mundo.

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