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José Cruz: Tragédia da Chape escancara omissão da cartolagem e impunidade

Corpos das vítimas do acidente aéreo da LaMia durante velório coletivo na Arena Condá em 2016. Avião que levava a delegação da Chapecoense para Medellín, na Colômbia, caiu a poucos quilômetros da cidade, deixando 71 mortos e seis feridos.  - Paulo Lisboa/Brazil Photo Press/Folhapress
Corpos das vítimas do acidente aéreo da LaMia durante velório coletivo na Arena Condá em 2016. Avião que levava a delegação da Chapecoense para Medellín, na Colômbia, caiu a poucos quilômetros da cidade, deixando 71 mortos e seis feridos. Imagem: Paulo Lisboa/Brazil Photo Press/Folhapress
José Cruz

20/06/2019 12h29

Quase três anos depois do acidente com o avião da LaMia, que transportava a delegação da Chapecoense e jornalistas para a final da Copa Sul-Americana de 2016, contra o Atlético Nacional, na Colômbia, as famílias dos 67 brasileiros mortos continuam sendo humilhadas por autoridades internacionais e poderosos grupos estrangeiros, numa luta desigual por direitos e reparação.

Entre lágrimas e tristeza, momentos dramáticos daquela tragédia foram rememorados numa audiência pública da Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal, na última terça-feira (18). Foi quando os parlamentares souberam que os familiares das vítimas ainda não conseguiram receber o seguro contratado pela empresa aérea Bisa Seguros y Reaseguros. Três anos depois!

Fabienne Belle e Mara Regina D'Emilio Paiva, respectivamente presidente e vice-presidente da Associação dos Familiares e Amigos das Vítimas do Voo da Chapecoense (AFAV-C), foram didáticas ao explicar as manobras das empresas envolvidas e dos governos da Bolívia e da Colômbia para que o seguro contratado não fosse honrado.

Com advogados especialistas, elas estiveram nos dois países tentando conversar com as autoridades responsáveis. Mas foram "mal recebidas" e "mal tratadas". O caso torna-se mais grave porque, como já se divulgou, a apólice de seguro não cobria voos da empresa LaMia para a Colômbia.

Diante da gravidade dos relatos e da necessidade de um diálogo jurídico-internacional, o presidente da Comissão de Relações Exteriores, senador Nelsinho Trad, convidará o Itamaraty, o Ministério Público Federal e a Advocacia Geral da União para entrarem no caso. Em outras palavras, Trad assumiu a denúncia como uma questão de Estado.

Faz sentido. Afinal, naquela final, a Chapecoense representava o nosso futebol. E teve aval da sempre suspeita Confederação Brasileira de Futebol. Qual foi a atitude da cartolagem da CBF nessa tragédia? Que apoio ofereceu às famílias em defesa daqueles que defenderiam o nosso principal patrimônio cultural-esportivo?

Recentemente, na tragédia do Ninho do Urubu, quando dez garotos foram assassinados num incêndio devido à irresponsabilidade dos cartolas, mais uma vez a CBF se omitiu. Logo ela, que expede o "certificado de clube formador", como o que entregou ao próprio Flamengo sem examinar se as instalações que receberiam os jovens atletas tinham a indispensável segurança.

No episódio da Chapecoense, omitiu-se também a Conmebol, organizadora da competição. Sem agir com autoridade para enfrentar uma tragédia extracampo, os seus cartolas demonstraram que os desmandos em suas gestões são de matar. E, impunes, dão uma banana para as autoridades de todos os níveis.

Nessas gestões suspeitas, o mais valioso patrimônio do nosso esporte, o atleta - e suas famílias, por extensão - está indefeso. E mesmo diante de tantas mortes, até agora ninguém foi preso.

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