Topo

Bala na Cesta

Quando o basquete é maior que o medo do coronavírus, por Rodrigo Salomão

Maccabi - Rodrigo Salomão
Maccabi Imagem: Rodrigo Salomão

08/03/2020 04h12

* Por Rodrigo Salomão

Semana especial na principal liga europeia de basquete. Depois de já serem confirmadas três equipes nos playoffs (Anadolu, Real Madrid e Barcelona), foi a vez de Maccabi Tel Aviv e CSKA também carimbarem seus respectivos passaportes para as quartas de final da Euroliga. Com rodadas "back-to-back" em dias caóticos em virtude do coronavírus, assunto não faltou.

Vou falar especificamente do que aconteceu comigo em Tel Aviv, Israel, para dar um panorama de como a propagação do vírus tornou-se protagonista de uma das partidas mais esperadas desta temporada. Afinal de contas, na quarta-feira que passou, 4 de março, o Maccabi receberia o líder Anadolu Efes, invicto há 11 jogos. O problema é que ninguém saberia sequer se haveria jogo. No mesmo dia, o Ministério da Saúde do país emitiu diversos comunicados, determinando a quarentena de muita gente nas mais variadas condições, além de proibir eventos que ultrapassassem um público total de 5 mil pessoas. Problema importante para o representante do país na Euroliga, já que a previsão era de 11 mil pessoas (lotação esgotada). Um ponto de interrogação pairava sobre a realização do duelo e como tudo seria resolvido em tão pouco tempo.

O que fazer no meio de tanta confusão? Ficaria pior. Com período de 14 dias de incubação máxima para o vírus, percebeu-se que o elenco do Maccabi Tel Aviv se encaixava na norma ministerial e também precisaria ficar de quarentena! Afinal de contas, o time havia atuado na Espanha há 12 dias, na vitória contra o Valencia. Incerteza total entre seguir a diretriz do órgão governamental ou simplesmente jogar. E eles não só jogaram, como venceram o time a ser batido.

Com milhares de torcedores "teimosos" no entorno, os acessos estavam fechados até mesmo para a imprensa faltando poucos minutos para o duelo. Conversa daqui, pressão dali, muita gente desesperada para entrar e acompanhar um jogo que podia ser crucial na caminhada do time. Eis que os portões foram abertos para que no máximo 5 mil pudessem acompanhar o duelo, assim como a imprensa, liberada para poder trabalhar nos lugares de sempre.

Sensação estranha de ver o ginásio com apenas metade de sua capacidade. Mas os que compareceram fizeram barulho em dobro, por todo o contexto (sobraram ofensas até ao corona), e ajudaram o time de Israel na vitória por 77-75 diante do grande favorito desta edição. Com direito a marcação individual muito bem-sucedida do prodígio Deni Avdija em Shane Larkin (possível MVP) no último lance do duelo. Mais um resultado fantástico.

"Isso nunca me aconteceu na carreira, foi uma situação muito incomum e difícil de prever. Mas lidamos muito bem, mentalizamos que vencer era muito importante mesmo que a arena não estivesse lotada", afirmou o técnico Ioannis Sfairopoulos.

"Nós achamos que não haveria torcida, apenas familiares. Depois que vimos as pessoas entrarem durante o aquecimento, ficamos um pouco chocados, mas isso nos deu motivação extra. Não sei como eles eram tão barulhentos, parecia que o ginásio estava lotado", revelou na mesma linha o ala Angelo Caloiaro.

Agora são 13 vitórias em 14 jogos em Tel Aviv, o que aumenta ainda mais a importância pelo mando de quadra nos playoffs. O problema é que, dois dias depois, em Belgrado, a alta rotação do elenco não foi suficiente para vencer mais uma. O Estrela Vermelha dominou a partida, com um 92 a 76 imponente, fazendo com que CSKA e Maccabi trocassem de papéis na tabela, nos critérios de desempate. Agora são os russos que controlam a 4ª posição, enquanto os israelenses estão em 5º.

O diferencial do Maccabi, sempre importante destacar, é que o grupo segue sem três atletas que iniciaram o ano como titulares. Todos lesionados. E ainda assim a campanha tem sido tão boa que não há nenhum risco iminente de se ver alcançado pelo sexto lugar (hoje, o Panathinaikos, cinco vitórias atrás). Os que já confirmaram suas vagas, de fato, sobraram na turma. Com coronavírus ou sem coronavírus, a luta pela taça segue imprevisível.

Curtinhas da Euroliga:

  • Por falar em Estrela Vermelha, o time utilizou um belíssimo uniforme retrô em homenagem ao time campeão europeu em 1974. Deu sorte contra o Maccabi, com uma vitória para lá de contundente;

  • Também mencionamos Shane Larkin, armador do Anadolu e potencial MVP da fase regular dessa temporada. Pois é. O norte-americano (agora naturalizado turco) anotou 40 pontos contra o Olympiacos e assim tornou-se o único jogador da história da Euroliga a fazer mais de 40 pontos duas vezes. Isso sem falar nas suas 10 cestas de três contra os gregos, também recorde histórico ao lado de Andrew Goudelock;

  • A briga pelos playoffs tende a se tornar insana com seis rodadas por jogar. Apenas 3 vitórias separam o 6º (Panathinaikos) do 14º lugar (Estrela Vermelha). As próximas partidas prometem demais. Na próxima semana tem mais!