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André Rocha

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Já é hora de os rivais usarem as armas de Abel Ferreira contra o Palmeiras

Abel Ferreira chegou a sete títulos no comando do Palmeiras após a conquista da Supercopa 2023 - Ettore Chiereguini/AGIF
Abel Ferreira chegou a sete títulos no comando do Palmeiras após a conquista da Supercopa 2023 Imagem: Ettore Chiereguini/AGIF

Colunista do UOL Esporte

01/02/2023 08h17

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Abel Ferreira afirmou na entrevista depois da conquista da Supercopa do Brasil que a vitória era uma "revanche" pela derrota (nos pênaltis) para o Flamengo pela mesma taça em 2021.

Será que Vitor Pereira ou alguma liderança do time carioca lembrou aos jogadores que essa era a primeira disputa de taça com o Palmeiras após a derrota na final da Libertadores do ano retrasado?

O português certamente mencionou a eliminação nas oitavas da Copa do Brasil para o São Paulo com a intenção de mobilizar todos para o Choque-Rei. Será que Rogério Ceni motivou seus comandados em busca de uma "forra" dos 4 a 0 da final estadual do ano passado, já que era o primeiro confronto pelo mesmo torneio, no mesmo estádio, desde a goleada?

Abel captou rapidamente o espírito do Palmeiras, mas também do futebol brasileiro. O jogador daqui se motiva e concentra mais caso a vitória seja uma "resposta" a alguém. O atleta tem que entrar "mordido" e para isso as narrativas Davi x Golias e "contra tudo e contra todos" se encaixam perfeitamente.

Cabe aos rivais devolver na mesma moeda. Qualquer declaração vinda do Palmeiras, nem que seja "estamos confiantes de que podemos vencer" deve ser usada no vestiário como um "menosprezo". Como Abel e jogadores costumam fazer, seja com um mero palpite de placar de um adversário em coletiva ou uma declaração até respeitosa de Everton Cebolinha, desejando que o clube paulista não contratasse mais ninguém até o jogo contra o Flamengo.

Se o Palmeiras é o time mais forte e vencedor do país é hora de tratá-lo como o oponente a ser batido. Transferir favoritismo e responsabilidade para o mais poderoso. Jogar a vida.

No plano tático, recuar linhas, tirar espaços e qualquer chance do Alviverde acelerar o jogo como gosta. Não pode deixar os latifúndios que o Flamengo cedeu no Mané Garrincha. O Palmeiras empilha taças e todos continuam jogando de igual para igual ou até tentando se impor. Errado.

Em relação à arbitragem, caberia a todos os treinadores adversários reservarem o confronto com o atual campeão brasileiro para mudar de comportamento. Não quebrar microfone, entrar na frente do adversário para impedir a cobrança rápida de lateral ou colocar a mão no ombro da quarta árbitra em atitude intimidadora.

Apenas aprontar um escarcéu igual ou pior que Abel e sua comissão técnica em qualquer lance, até lateral. Se for expulso, tudo bem. É só depois falar publicamente que sente vergonha, mas que no campo só pensa em competir. Abel já notou que a arbitragem, VAR incluso, funciona à base de gritaria e reclamações.

A ponto de julgarem que o quarto gol do Palmeiras no sábado foi legal porque "ninguém do Flamengo reclamou". E quem garante que o juiz e o árbitro de vídeo não "interpretaram" que Mayke não atrapalhou o goleiro Santos pensando no escândalo que Abel e auxiliares fariam em caso de gol anulado?

Abel Ferreira é o maior técnico da história do Palmeiras. Competência mais que comprovada, em mata-mata e pontos corridos. Também a inteligência de se adaptar bem ao contexto brasileiro. Talvez por isso não saia do clube.

Salário bem acima da média, idolatria da torcida e controle da narrativa, com a "cumplicidade" de rivais e imprensa, que perdem tempo preocupados com o comportamento dele à beira do campo e fazendo acusações descabidas, quando o problema é exclusivamente da arbitragem: primeira reclamação acintosa é amarelo e a segunda é vermelho. Simples assim.

Já passou da hora de os rivais usarem as armas de Abel contra o Palmeiras. Se não mudarem continuarão vendo o português colecionando troféus e medalhas.