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André Rocha

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Corinthians é mais um que cai por não entender o que é esse Palmeiras

Renato Augusto tenta jogada em meio a marcadores durante Corinthians x Palmeiras no Brasileirão - Ettore Chiereguini/AGIF
Renato Augusto tenta jogada em meio a marcadores durante Corinthians x Palmeiras no Brasileirão Imagem: Ettore Chiereguini/AGIF

Colunista do UOL Esporte

14/08/2022 08h54Atualizada em 14/08/2022 12h51

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Doze minutos do primeiro tempo. Jogada de Gustavo Mosquito pela direita, ganhando de Piquerez e rolando para Renato Augusto dentro da área. Chute rasteiro, não muito forte, nem com precisão absoluta para defesa de Weverton.

Foi a chance mais cristalina do Corinthians no dérbi de Itaquera. O camisa oito ainda finalizaria mais três vezes, todas em sua jogada característica: corte para dentro e batendo de "chapa", com curva. Todas de fora da área, nenhuma com tanto perigo, dentro das 14 da equipe, quatro no alvo.

Vinte e sete minutos do segundo tempo. Fagner, que havia substituído Rafael Ramos, errou virada de jogo e a bola caiu no pé de Dudu na intermediária. Foi nítida e impressionante a virada de chave dos jogadores do Palmeiras na saída do contragolpe. Velocidade, intensidade e capricho. Parecia bem claro que era a chance que o time visitante esperava. "É agora ou nunca!"

Passe de Wesley, ultrapassagem de Piquerez, toque para dentro da área e Roni marcou contra. Mas se errasse a bola, "Flaco" López muito provavelmente mandaria para as redes. Foram nove finalizações alviverdes, três na direção da meta de Cássio. Só que a oportunidade mais clara foi aproveitada, ainda que com o toque do rival.

Final de jogo, 1 a 0 para o Palmeiras, que abre nove pontos na liderança. O melhor visitante parou o melhor mandante do Brasileiro. E se ninguém fizer nada a respeito, o time de Abel Ferreira deve garantir o titulo brasileiro com algumas rodadas de antecedência.

Porque o Corinthians foi mais um que caiu por não saber o que é enfrentar esse Palmeiras. Ou não entender com exatidão.

É simplesmente um dos times mais conscientes dos últimos tempos no país. Consciência coletiva, resultado da concentração de cada atleta. O tempo de trabalho permitiu que virtudes fossem potencializadas e defeitos corrigidos ou contornados.

O Palmeiras não se apressa mais se estiver diante de um adversário fechado. Roda a bola com calma, nenhum incômodo com os possíveis erros em assistências ou finalizações. Até gosta que o oponente se empolgue e sinta a chance de vitória. Porque vai avançar e dar espaços.

Nessa disputa, Abel sabe que é duro ir às redes contra a sua equipe. Organizado sem bola, com participação de todos. A primeira grande barreira é a dupla Danilo/Zé Rafael. Simplesmente a melhor do país na proteção da última linha. Se passar por eles tem o guardião Gustavo Gómez, que joga praticamente todas e com erro zero. Caso ele também seja batido está lá simplesmente o melhor goleiro do país, disparado. Weverton é praticamente uma garantia de segurança.

São 14 gols sofridos em 22 rodadas. Na série invicta de sete partidas desde os 2 a 0 para o Athletico no Allianz, só dois gols sofridos. Se as goleadas sumiram, os dez gols garantiram seis vitórias e apenas um empate. O que faz, por exemplo, a tentativa de reação do Flamengo, que venceu cinco consecutivas, ser inútil nos números. A distância segue intacta em nove pontos.

Renato Augusto até reconheceu o grande mérito do rival na saída de campo: "Eles aproveitaram nosso erro, acho até que jogamos melhor, criamos bastante, buscamos o resultado do começo ao fim. Mas futebol tem disso, nem sempre quem joga melhor vence. (O Palmeiras) é uma equipe mortal, se der brecha eles fazem".

Eis o ponto. Não basta criar bastante e depois sair de campo dizendo que o melhor não venceu. É obrigatório ser eficiente quando a melhor oportunidade surgir. Como o Palmeiras é quase sempre. Se o espaço aparece, o líder absoluto do campeonato se condiciona mentalmente a não perder a chance. Até no placar mais elástico das últimas partidas, nos 3 a 0 sobre o inconstante Goiás, o melhor contragolpe terminou no belo chute de Mayke.

O Palmeiras parece sempre com a armadilha pronta para o adversário. Raramente dá espetáculo, quase sempre faz parecer aos olhos de todos que não passa de um time comum com resultados melhores que o desempenho. Vence muito, mas sem humilhar ou com um espetáculo que cause temor, mais estudo do oponente, concentração absoluta e até aquela raiva que gera superação.

O discurso de Abel, humilde, jogando o favoritismo para o outro lado, engana. Assim como o de Cuca em 2016 e Felipão em 2018. Faz parecer mais fraco, justamente para gerar o fator surpresa. E aí o adversário normalmente não deixa tudo em campo, ou não tem a consciência de que a chance de vencer a fortaleza defensiva é rara e precisa de 100% de precisão.

Como o Palmeiras faz tantas vezes. Como repetiu em Itaquera, ainda que o toque final tenha sido de Roni. Enquanto a concorrência vacila e prefere subestimar alegando apenas "sorte" e desdenhando o "jogo feio", o Palmeiras vai levando a maior parte das taças para casa. O Brasileiro, inédito para Abel Ferreira, ficou ainda mais encaminhado na Neo Química Arena.

(Estatísticas: SofaScore)

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado, o gol contra do Corinthians foi marcado por Roni e não Bruno Méndez. O erro foi corrigido.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL