Topo

André Rocha

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Vitor Pereira sofre no Corinthians com nosso profissionalismo de resultado

Vítor Pereira comanda o Corinthians em derrota para o Atlético-GO na Copa do Brasil - Heber Gomes/AGIF
Vítor Pereira comanda o Corinthians em derrota para o Atlético-GO na Copa do Brasil Imagem: Heber Gomes/AGIF

Colunista do UOL Esporte

06/08/2022 09h36

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Vitor Pereira não foi feliz contra o Flamengo em Itaquera. Porque não teve Willian e Renato Augusto no jogo mais importante da temporada até então, perdeu Maycon lesionado ainda no primeiro tempo e, no segundo, as entradas de Giuliano e Roger Guedes, com Yuri Alberto indo jogar pela esquerda, não funcionaram.

O cenário agora é de ladeira íngreme para subir na Copa do Brasil contra o Atlético-GO, depois da derrota por 2 a 0 fora na ida, uma virada improvável no Maracanã para sobreviver na Libertadores e quatro pontos do líder Palmeiras no Brasileiro que parecem com reversão mais viável na matemática do que na bola jogada.

Com as chances de título na temporada mais remotas, começam os questionamentos em relação aos métodos e comportamentos que antes eram elogiados.

Os treinos intensos, prática comum nos principais centros, viram alvo de críticas, inclusive com pedidos por coletivos de 11 contra 11 no campo inteiro, que exigem menos dos atletas. Também o incômodo com as coletivas que fogem do padrão "eu confio no meu grupo" e coloca dedo em feridas, carências e falhas dos jogadores. Se Roger Guedes não recompõe pela esquerda, a culpa é de Vitor Pereira?

Apesar do "respaldo" da diretoria, parece claro que começou um processo de fritura que pode se concretizar em caso de eliminações nas copas e se não vencer o Palmeiras em Itaquera, no próximo sábado (13), em casa pela 23ª rodada do Brasileiro.

Se acontecer, o treinador português será mais uma vítima do nosso profissionalismo de resultado. Ou seja, o que deveria ser o padrão de exigência em um esporte de alto rendimento só vale se trouxer vitórias a curto prazo. Mesmo sem pré-temporada e participação na montagem do elenco e precisando se adaptar ao futebol brasileiro jogando a cada três ou quatro dias.

Reparemos nos exemplos mais bem-sucedidos de técnicos estrangeiros nos últimos anos, que, inclusive, motivaram o Corinthians a entrar na "moda".

Jorge Jesus chegou com personalidade forte, gritando com Wilian Arão para todos ouvirem e impondo seus métodos no estilo "cala a boca, faz o que eu mando e joga". Foi absolvido na eliminação nas quartas da Copa do Brasil para o Athletico porque foi nos pênaltis, era seu terceiro jogo oficial no comando da equipe e a culpa recaiu mais sobre os jogadores.

Mas quando escalou Rafinha na linha de meio-campo e Rodinei na lateral e saiu com um 2 a 0 contra na visita ao Emelec pelas oitavas da Libertadores, o mundo caiu na cabeça do treinador. Só a reversão do placar no Maracanã com vitória nos pênaltis, que colocou o time nas quartas depois de nove anos, salvou Jesus. Com tempo e paz para trabalhar, montou o time histórico que ganhou Libertadores e Brasileiro em cinco meses.

Abel Ferreira precisou de três para conquistar Copa do Brasil e Libertadores pelo Palmeiras. Time forte, acertos do jovem técnico, com a ajuda da ótima transição do auxiliar Andrey "Cebola" Lopes depois da saída de Vanderlei Luxemburgo, e contextos favoráveis nas duas competições, especialmente no mata-mata nacional. Virou ídolo rapidamente.

Ou seja, as contratações, sem muita convicção, como é de praxe no Brasil, só ganharam um respaldo real por causa da sobrevivência. Porque os resultados aliviaram a pressão e deram moral às comissões técnicas. Se vence, o treinador pode cobrar mais. O jogador, especialmente aquele que voltou da Europa atrás de "conforto", se vê obrigado a obedecer. Ou as vitórias, que trazem os elogios e as massagens de ego na imprensa e nas redes sociais, compensam o esforço.

Vitor Pereira não teve a mesma sorte/competência de seus compatriotas. Por isso já está no fio da navalha pronta para cortar a carne e depois jogar na máquina de moer treinadores que é o futebol brasileiro. Sem critérios além dos placares dos jogos e das colocações nos campeonatos. Sem avaliar contextos.

Trabalho a médio ou longo prazo? Só com taças. Simples assim.