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André Rocha

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Guardiola perdeu a Champions quando pensou no Newcastle dentro do Bernabéu

Pep Guardiola, do Manchester City, em jogo contra o Real Madrid pela Liga dos Campeões - Alex Livesey - Danehouse/Getty Images
Pep Guardiola, do Manchester City, em jogo contra o Real Madrid pela Liga dos Campeões Imagem: Alex Livesey - Danehouse/Getty Images

Colunista do UOL Esporte

06/05/2022 08h51

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O Manchester City se classificou para a final da Liga dos Campeões 2020/21 ao vencer o PSG de virada por 2 a 1, no Etihad Stadium. Havia vencido a ida da semifinal pelo mesmo placar, em Paris.

Gabriel Jesus selou a classificação aos 32 minutos do segundo tempo, Por necessidade, Pep Guardiola havia trocado apenas Zinchenko pelo atacante brasileiro, aos 19 da segunda etapa. Na primeira partida contra os franceses, também só uma substituição em 90 minutos: João Cancelo por Zinchenko.

O sacrifício do time que jogava pela Champions era compensado na Premier League. Afinal, a vantagem do time azul de Manchester sobre o rival United era de dez pontos e o título seria confirmado matematicamente na 36ª rodada.

A ponto do City, na rodada anterior, justamente no fim de semana seguinte à classificação para a final europeia, escalar reservas e ser derrotado por 2 a 1 pelo Chelsea, que seria o algoz na decisão realizada no Estádio do Dragão.

O cenário em 2021/22 foi justamente o oposto. A decisão da vaga na final era fora de casa, no Santiago Bernabéu contra o Real Madrid. Também para administrar a vantagem de um gol. E, principalmente, a disputa nos pontos corridos agora está acirrada, com apenas um ponto de vantagem sobre o Liverpool.

Mesmo cenário da temporada 2018/19. O City terminou campeão, com 98 pontos, um a mais que o Liverpool em disputa épica. Só que a equipe de Guardiola havia sido eliminada ainda nas quartas da Champions pelo Tottenham e pôde se dedicar à reta final do campeonato inglês, enquanto os Reds dividiam a atenção com o torneio continental que conquistaria vencendo os próprios Spurs.

Agora era obrigatório dividir atenções. E quando Mahrez abriu o placar em Madri com o chute forte que venceu Courtois, aos 28 do segundo tempo, o mundo pensou que a semifinal estava resolvida. Inclusive Pep Guardiola.

Por isso trocou Gabriel Jesus por Grealish e Mahrez por Fernandinho. Já havia feito duas substituições: Zinchenko pelo exausto Walker, que o treinador manteve em campo enquanto foi possível, e Gundogan pelo também desgastado Kevin De Bruyne. Ambas realizadas segundos antes do gol dos citizens.

Muitas trocas pensando nas duas frentes, ao contrário da temporada anterior. Afinal, no domingo, pela 36ª rodada da Premier League, o time tem mais uma "final" em casa contra o duro Newcastle de Bruno Guimarães, e o Liverpool pode tropeçar no sábado, em Anfield, contra o Tottenham que busca vaga na Champions.

Só que contra o Real Madrid que pareceu morto contra PSG e Chelsea nas etapas anteriores e ainda mais no Bernabéu, ou você não dá a mínima chance fazendo uma vantagem inalcançável, ou deixa o que tem de melhor e a última gota de suor e concentração até o final.

As trocas depois do gol marcado até faziam algum sentido, para fortalecer o meio-campo e ganhar velocidade nas transições ofensivas. Tanto que Grealish perdeu duas grandes chances de fazer 2 a 0. O jogo estava controlado e o time merengue parecia cansado e desorganizado.

Mas era o Real Madrid no Bernabéu. O gol de Rodrygo aos 90 despertou o gigante moribundo e a explosão de fé no estádio deixou o adversário, que ainda ganha "casca" na principal competição de clubes do planeta, atônito. A segurança, até um certo relaxamento, virou pânico com o segundo gol de Rodrygo e o Bernabéu em êxtase.

A prorrogação foi apenas a consequência natural de um roteiro mais que previsível: dois times desfigurados, mas o Real ainda contava com as estrelas Vinicius Júnior e Benzema, que sofreu e converteu o pênalti que garantiu a vaga, chegando ao 15º gol nesta edição, o décimo nos mata-matas.

Fernandinho ainda perderia um gol incrível no lance final do primeiro tempo do tempo extra. Será que Mahrez, Jesus ou De Bruyne, que saíram durante os 90 minutos, desperdiçariam? Ou será que haveria prorrogação se Guardiola tivesse mantido os titulares, como fez na temporada passada?

Nunca saberemos. O fato é que o Real Madrid está na decisão e levará o talento de seus craques, a mística e o peso de sua camisa e, acima de tudo, a dedicação exclusiva até o dia 28, no Stade de France. Afinal, o título espanhol foi garantido matematicamente no último fim de semana.

Já o Liverpool segue na perseguição ao City na liga e ainda tem uma final de Copa da Inglaterra contra o Chelsea, exatamente duas semanas antes da decisão continental. Pode pesar para Jürgen Klopp e seus comandados.

Pep Guardiola assistirá mais uma final de Champions pela TV ou no celular por streaming. Porque cometeu o pecado mortal de pensar no Newcastle dentro do Bernabéu antes do apito final. Pagou caro, bem caro. Mais até que os 100 milhões de euros gastos pelo reserva Jack Grealish.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL