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André Rocha

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Rocha: Por que o Flamengo não pode esperar o Galo para contra-atacar?

Guga, do Atlético-MG, e Bruno Henrique, do Flamengo, disputam a bola em duelo no Mineirão - Alexandre Vidal / Flamengo
Guga, do Atlético-MG, e Bruno Henrique, do Flamengo, disputam a bola em duelo no Mineirão Imagem: Alexandre Vidal / Flamengo

Colunista do UOL Esporte

29/10/2021 07h30

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O Bayern de Munique levou uma tunda de 5 a 0 do Borussia M'gladbach e foi eliminado da Copa da Alemanha. O eneacampeão da Bundesliga entrou com titulares e foi surpreendido. Tentou atacar e foi atropelado. Terminou com 62% de posse, finalizou 15 vezes contra 13, mas acabou goleado.

Tinha razão para tentar se impor, mesmo fora de casa. Para variar, é líder nos pontos corridos e está bem também na fase de grupos da Liga dos Campeões. Acontece. Menos mal que foi na copa nacional, normalmente tratada na Europa, com razão, como a competição com menor prioridade para os times mais fortes.

No Brasil, o Flamengo foi eliminado da semifinal da Copa do Brasil no Maracanã pelo Athletico Paranaense. 3 a 0 inquestionáveis, apesar das muitas finalizações e algumas chances desperdiçadas ou salvas pelo goleiro Santos.

Vive uma grave crise no departamento de futebol, com torcida e alguns dirigentes questionando o treinador Renato Gaúcho, que cobra internamente o departamento médico e a preparação física, sustentados por uma gestão que prioriza as relações de amizade em detrimento da excelência profissional.

Um caos. E no sábado tem jogo, novamente em casa, contra o Atlético Mineiro. Líder absoluto do Brasileiro e o outro finalista do mata-mata nacional. Em tese seria uma partida decisiva para os rubro-negros tentarem uma arrancada para o inédito, para o clube, terceiro título consecutivo. E este é o discurso oficial.

Nos bastidores, porém, a disputa é importante apenas para tentar apaziguar minimamente os ânimos e não aprofundar a crise a menos de um mês da final da Libertadores. Buscar o título, com muitos jogos em novembro, inclusive os adiados, seria um risco enorme de chegar estourado em Montevidéu para encarar o Palmeiras. Com a sequência absurda de lesões na temporada seria até o mais provável.

Equipe desorganizada, sem confiança pelos últimos resultados. Adversário embalado, ciente de que uma vitória no Maracanã praticamente decretaria o título que não conquista desde 1971. Eis que surge a questão: por que não transferir a pressão e a responsabilidade para o outro lado?

Por que não se resguardar um pouco, sem tentar partir para cima de forma desesperada e dar campo para Hulk, Nacho, Diego Costa, Zaracho, Guilherme Arana jogarem nos muitos erros que o Flamengo vem cometendo? Por que não inverter essa lógica?

Sim, o Flamengo desde 2016 vem tentando sedimentar um estilo que busca protagonismo nas partidas. Conseguiu de forma brilhante em 2019/2020, enquanto Jorge Jesus esteve no comando técnico. Depois tentou com Domènec Torrent, Rogério Ceni e agora Renato.

Mas, especificamente com este último, algumas das grandes vitórias foram construídas com contragolpes mortais. Especialmente nos 4 a 0 sobre o Grêmio em Porto Alegre. Com um a menos depois da expulsão de Isla no final do primeiro tempo, o time rubro-negro recuou as linhas em um 4-4-1, atraiu o rival e construiu uma goleada implacável. Sem Arrascaeta, que saiu no intervalo, justamente para que o time ficasse mais rápido e organizado defensivamente. Naquela noite, o craque uruguaio não fez falta.

Não é vergonha eventualmente atuar com mais cautela. Sem o "ônibus" eternizado por José Mourinho, apenas não se expondo sem necessidade. Questão de inteligência e bom senso para entender os próprios limites. Sem soberba e teimosia.

Este que escreve viu o Flamengo de Zico jogar mais recuado em clássicos durante momentos de instabilidade. Aliás, a maior vitória daquela equipe foi atuando com mais cuidados defensivos. Adílio recuado para ajudar Andrade na proteção a Junior, que atuou no sacrifício por lesão no joelho. Dois passes em profundidade de Zico para Nunes, um gol de rebote de bola parada e os 3 a 0 sobre o Liverpool em Tóquio foram construídos.

O Brasil de 1970 matou Tchecoslováquia, Uruguai e Itália em rápidos contragolpes, porque sobrava fisicamente no calor mexicano. Desde aquela época, se o time goleia deu show, não importa de que forma saíram os gols.

É claro que se o Flamengo contratasse um técnico reconhecido por seu estilo mais reativo, os questionamentos seriam válidos. Dentro do que o clube pretende ter como marca, realmente não faz sentido. Mas considerando o contexto atual seria até lógico.

Recua, protege melhor a defesa que vem sofrendo quando exposta e acelera as transições ofensivas com Gabigol, Bruno Henrique e, principalmente, campo aberto e, consequentemente, mais espaços para jogar. A responsabilidade que fique para o Galo, favorito no confronto e na disputa pelo título.

Quase sempre foi assim e o Flamengo vem caindo em uma armadilha criada pelas conquistas recentes. Um time cheio de reservas se expôs no Fla-Flu e levou 3 a 1. A afobação para atacar jogou contra na quarta e facilitou o trabalho do Athletico.

Nas últimas derrotas para o Atlético-MG, duas que custaram os empregos de Dome e Ceni, time sem confiança jogando de peito aberto e dando espaços de bandeja. No Mineirão! Por que não respeitar e esperar o time que pratica o melhor futebol do país no momento, mesmo jogando no Maracanã?

Não é pecado. E se vencer nos contra-ataques desta vez, quem vai questionar o time do contestado Renato Gaúcho?