Topo

André Rocha

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Flamengo e a malandragem na "liberdade" da lei do mais forte

Mosaico da torcida do Flamengo durante partida contra Fluminense no estádio Maracanã pelo campeonato Carioca 2021. - Thiago Ribeiro/AGIF
Mosaico da torcida do Flamengo durante partida contra Fluminense no estádio Maracanã pelo campeonato Carioca 2021. Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF

Colunista do UOL Esporte

05/08/2021 09h04

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

No momento em que o Flamengo volta a ser elogiado e admirado dentro de campo por conta do bom futebol nos últimos jogos, a diretoria aparece para resgatar a antipatia de muitos e a fama de "malvadão" com mais uma atitude controversa.

O clube conseguiu uma liminar no STJD para ter público nos estádios em seus jogos como mandante no Brasileiro. Contrariando acordo entre os times da Série A para que essa ação fosse em conjunto e não desequilibrasse a competição.

Pleitear um direito na Justiça é legítimo, ainda mais com tantos antecedentes, igualmente equivocados, em finais de Libertadores e Copa América no Rio de Janeiro e a torcida no Mané Garrincha contra o Defensa. No fundo, há falhas de protocolo contra a pandemia em todos os lugares, inclusive na Eurocopa e nos Jogos Olímpicos. O ser humano parece não ter disciplina para se limitar por tanto tempo.

Mas "o combinado não é caro". Se os clubes acordaram que voltariam em conjunto, convém respeitar. Mas é aí que entra a malandragem da "liberdade".

O Brasil sempre foi um país sem grande senso de coletividade. Um grande "cada um por si, Deus por todos". Mas nos últimos tempos, talvez desde 2019 e de forma mais clara na pandemia, o conceito de liberdade vem sendo distorcido. Uma espécie de anarcocapitalismo tupiniquim que, no fundo, é a selvageria.

Liberdade de ir e vir, liberdade de portar uma arma, liberdade de não usar máscara, liberdade de contaminar o outro, liberdade de vender ou comprar vacina, liberdade de morrer. Só que com todos livres e desprotegidos, vigora a lei do mais forte. De quem tem a caneta, o dinheiro e/ou a pistola. Ou seja, a barbárie contra a civilização.

A direção do Flamengo se alinha com essa visão desde sempre. Na volta apressada do futebol em 2020, na "gestação" da MP do Mandante em conversa direta de presidentes entre Rodolfo Landim e Jair Bolsonaro. Na pressão por volta do público quando ainda nem havia vacina.

Agora Landim não vê problema em ser presidente do Flamengo e interventor da CBF. E a liberdade? Não importa a Lei Pelé, que proíbe que presidente de clube assuma cargo na entidade. Afinal, ele está a serviço da Justiça, que determinou a intervenção, não da confederação. Aliás, o ordenamento juridico "freestyle" está em voga no país há muito tempo. Ética? Ora, a ética!

É claro que há muitas incoerências e não existe só um vilão. Os outros clubes falam agora em "isonomia", mas quando a CBF não respeita as datas FIFA e o Flamengo tem cinco titulares importantes convocados, ninguém admite o desequilíbrio e a punição ao mais competente. No máximo os jogos são adiados para serem empilhados mais à frente, caso o time carioca siga vivo no Brasileiro, na Copa do Brasil e na Libertadores.

O Flamengo é o time de maior torcida, maior engajamento em redes sociais. Suas ações geram mais repercussão que as dos "coirmãos". É um poder midiático e de influência considerável. Qualquer competição sem o clube perderia relevância, é inegável. Por isso o abuso, o confronto, o "meu pirão primeiro".

Na lógica da selvageria, quem pode mais chora menos. O Flamengo quer tudo. Mas no futebol, ao confrontar a CBF e os rivais, pode terminar sem nada. Mesmo encantando nos gramados.