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André Rocha

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Por que o Corinthians não pode ter o Flamengo como exemplo nas finanças

Corinthians anunciou a contratação de Giuliano - Divulgação/Corinthians
Corinthians anunciou a contratação de Giuliano Imagem: Divulgação/Corinthians

Colunista do UOL Esporte

17/07/2021 06h53

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Depois de reestruturar o elenco e economizar cerca de 4,5 milhões de reais com dispensas e empréstimos, como foram os casos de Otero, Jemerson, Cazares, Ramiro, Camacho, Bruno Méndez, Marllon e Walter, o Corinthians vai ao mercado.

Giuliano foi contratado, Renato Augusto está na mira, Paulinho despertou interesse e houve sondagem por Roger Guedes e Calleri. A busca é por jogadores livres no mercado e que o clube só tenha que arcar com os salários. Experientes, de bom nível e que cheguem para ser titulares.

Com dívida de quase um bilhão de reais, um estádio para quitar ainda sem bilheteria por conta da pandemia e débitos com profissionais da base, a notícia sobre contratações gerou questionamentos sobre a austeridade fiscal da gestão do novo presidente, Duilio Monteiro Alves.

De fato, a atitude correta seria cortar fundo na carne até equacionar dívidas, recuperar credibilidade e atrair investidores. Foi o que o Flamengo fez a partir de 2013, com a chegada ao poder do grupo encabeçado por Eduardo Bandeira de Mello. Desde 2019 colhe os frutos, apesar das dificuldades recentes que fazem o clube vender mais que contratar. Mas ainda com time muito forte e elenco qualificado para a média brasileira.

O Corinthians não tem um investidor poderoso, como foi Paulo Nobre e é a Crefisa para o Palmeiras, ou um mecenas como a Unimed foi para o Fluminense e o MRV é para o Atlético Mineiro. Assim como o Flamengo, o maior patrimônio do clube paulista é a capacidade de gerar receitas pela enorme torcida.

Mas há um elemento importante que distingue consideravelmente o Corinthians de 2021 do Flamengo de 2013 e, portanto, não pode servir de exemplo nas finanças. Não é só o fato do time paulista ter estádio próprio e o rubro-negro, não.

O Flamengo que perdeu pontos pela escalação do suspenso André Santos em 2013 e flertou com a "zona de confusão" de Vanderlei Luxemburgo até 2015 tinha a certeza de que, caso fosse rebaixado, ao menos na primeira temporada teria receita de TV no mesmo nível da Série A.

A regra mudou no ano passado e o Cruzeiro, rebaixado em 2019, viu a receita de TV cair de R$ 102,5 milhões para R$ 40 milhões, considerando que parte do pay-per-view ficou para este ano. Uma queda muito brusca.

O Corinthians faturou R$ 189 milhões de TV em 2019. Caiu no ano passado para R$ 160 milhões. Agora pode ter outra queda, mesmo sem a possibilidade do torcedor ir à Neo Quimica Arena. Além da crise no país, conta muito o fato da equipe ter perdido competitividade.

Se cair para a Série B, a receita não deve passar dos R$ 60 milhões. Uma perda colossal que deixaria a gestão praticamente inviável. Por isso é preciso encontrar um meio-termo, ainda que possa soar incoerente e irresponsável administrativamente.

O Corinthians ocupa a 12ª colocação da tabela da Série A, com 14 pontos em 11 jogos. Sete a mais que o Sport, primeiro do Z-4. Vantagem razoável, assim como o desempenho até aqui é de meio de tabela. Mas uma sequência de lesões em elenco curto e de nível mediano pode fazer estragos e aumentar o risco.

Por isso vale diminuir um pouco a economia nos salários e investir em jogadores que mudem o elenco de patamar e ofereçam opções de qualidade ao treinador Sylvinho. Para respirar aliviado na primeira metade da tabela e até sonhar com uma vaga na Libertadores, o que geraria "dinheiro novo" e relevância, atraindo novamente o torcedor. Quem sabe com a volta segura do público aos estádios em breve?

Pode dar errado e justificar as muitas críticas. O ideal seria um clube com o potencial do Corinthians estar organizado e saudável financeiramente. Mas gestões irresponsáveis entregaram esse cenário complexo. O Flamengo teve uma saída dentro do contexto da época. O gigante paulista precisa encontrar outras soluções hoje.