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André Rocha

No duelo de narrativas, Flamengo deve ficar com o 2º tempo contra o Grêmio

Gabigol comemora gol do Flamengo sobre o Grêmio em duelo pelo Brasileirão 2020 - Fernando Alves/AGIF
Gabigol comemora gol do Flamengo sobre o Grêmio em duelo pelo Brasileirão 2020 Imagem: Fernando Alves/AGIF

Colunista do UOL Esporte

29/01/2021 08h07

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Renato Gaúcho parece ter perdido o rumo com a virada que o Grêmio levou do Internacional no domingo. Ou dobrou a aposta para tirar o foco da queda gremista que coloca em risco ainda maior a Copa do Brasil e pode enfiar o time em uma fase preliminar da próxima Libertadores já no início de março.

Pior, com grandes chances de ser obrigado a ver o maior rival campeão brasileiro depois de 41 anos. Um título que o Grêmio, mesmo vivendo uma era vencedora nos últimos quatro anos, não conquista desde 1996. Seria o primeiro de um gaúcho na era dos pontos corridos. Se acontecer, o maior ídolo do tricolor terá muito a explicar.

E Renato só gosta de elogios, exaltação e jornalistas "brothers". Se for questionado com mais veemência é capaz de absurdos como ameaçar colocar fanáticos gremistas atrás de profissionais que o criticam. Em tempos de afronta ao jornalismo desde as esferas superiores do país é uma atitude covarde, para dizer o mínimo.

Difícil imaginar o treinador do Grêmio pedindo diretamente para seus jogadores entregarem o jogo em casa para o Flamengo. Não teria essa audácia diante de campeões como Kannemann e Maicon, Mas ao dizer que pretendia escalar o time sub-23 nos jogos que restam no campeonato e só não fez porque o presidente Romildo Bolzan não autorizou, Renato desmobilizou o elenco.

Diante das dificuldades impostas pelo Flamengo no segundo tempo, uma vitória parcial por 1 a 0 pôde se transformar em mais uma virada, desta vez por 4 a 2. Mais uma finalização bem-sucedida das 14 rubro-negras, seis no alvo, e o Grêmio levaria outra surra de cinco do time carioca, mas desta vez em casa.

Porque o time de Rogério Ceni teve 45 minutos dignos dos melhores momentos com Jorge Jesus. Por mais que se evite a "viuvez" do técnico português, foi impossível não lembrar de 2019, especialmente nos primeiros 20 minutos da segunda etapa.

Tudo por uma mudança, ou "resgate", que desamarrou o time em campo. De Arrascaeta saiu da função de meia central em um 4-2-3-1 e voltou para o lado esquerdo. Bruno Henrique saiu da ponta e ganhou liberdade de movimentação no ataque. Além disso, Diego Ribas ficou mais fixo à frente da defesa e Gerson se adiantou como meia. Ou seja, um retorno ao 4-1-3-2.

A alteração no desenho tático e a dinâmica ofensiva do atual campeão brasileiro desarticularam o Grêmio defensivamente. No primeiro tempo, alguns problemas e a chance clara desperdiçada por Gabigol antes de Alisson cruzar e Diego Souza se desgarrar de Willian Arão e Gustavo Henrique para abrir o placar.

O Flamengo trabalhava a bola (terminou com 52% de posse e 89% de efetividade nos passes), até finalizou mais no primeiro tempo (seis a quatro), porém tinha dificuldade de criar a chance cristalina, com exceção do bom passe de Everton Ribeiro para o camisa nove finalizar com o tornozelo à direita do goleiro Vanderlei.

Faltava profundidade. E quando Gabigol conseguia receber às costas dos zagueiros adversários faltava companhia, porque Everton Ribeiro e Bruno Henrique estavam muito abertos e Arrascaeta distante porque recuava demais para armar, já que Diego e Gerson ficavam alinhados à frente da defesa.

Quando Gabigol deslocou pela esquerda, Everton Ribeiro estava na área para empatar. Depois o camisa nove marcou um golaço, com toque de categoria deixando Vanderlei pregado no chão. Mais um deslocamento de Gabigol no setor do zagueiro Rodrigues, substituto do lesionado Geromel, e assistência para De Arrascaeta. 3 a 1 em vinte minutos.

A impressão é de que Ceni, enfim, percebeu a melhor maneira de aproveitar seu quarteto ofensivo. Everton Ribeiro e Arrascaeta são meias criativos que partem das pontas. Com pés "trocados" - o canhoto pela direita, o destro à esquerda. A tendência é sempre cortar para dentro e buscar o passe. Se só tiver a ultrapassagem do lateral fica "manjado", fácil de bloquear.

Precisa dos deslocamentos dos atacantes ou a projeção de um meio-campista, como Gerson fez em vários momentos. Sempre uma opção de infiltração nas costas da defesa oponente. Como Isla recebendo de Vitinho, que entrou na vaga de Everton Ribeiro, para fazer o último gol. Assim o jogo flui, ganha volume e castiga o adversário.

Também alivia a defesa, que sofreu menos e só levou o segundo gol porque a barreira desviou o chute forte de Diego Souza em cobrança de falta que tirou do goleiro Hugo qualquer chance de intervir. Nem as substituições, necessárias pelo desgaste de uma proposta de jogo que exige intensidade muito alta, fizeram o ritmo cair. Desta vez as entradas de João Gomes, Pepê e Pedro, além de Vitinho, não atrapalharam.

É o que o Flamengo precisa levar de Porto Alegre a Recife para o jogo de segunda-feira contra o Sport. Uma rota que cruza o país e vai cobrar fisicamente. E a péssima atuação contra o Athletico três dias depois de se impor diante do Palmeiras faz pensar se os rubro-negros conseguem manter ritmo tão alto.

Se falhar na próxima rodada, a teoria de que o Grêmio facilitou ganhará força. Caso mantenha o desempenho e volte com mais três pontos na luta direta pelo título com o Internacional, a empolgação vai bater em "o campeão voltou!" Nessa disputa de narrativas, o Flamengo deve ficar com o grande segundo tempo em Porto Alegre.

(Estatísticas: SofaScore)