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André Rocha

Final paulista no Maracanã é dura lição para o Flamengo

Everton Ribeiro segura troféu de campeão da Libertadores pelo Flamengo em 2019 - Manuel Velasquez/Getty Images
Everton Ribeiro segura troféu de campeão da Libertadores pelo Flamengo em 2019 Imagem: Manuel Velasquez/Getty Images

Colunista do UOL Esporte

13/01/2021 21h53

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O Rio de Janeiro vai receber Palmeiras e Santos no dia 30 de janeiro para decidir a Libertadores. E o Flamengo terá que entregar o cetro e a coroa de campeão sul-americano para um rival nacional. De São Paulo, que também colocou times nas outras duas finais brasileiras: o tricolor do Morumbi, que venceu o Athletico em 2005 e caiu para o Internacional no ano seguinte.

Um duro golpe para quem se imaginava construindo hegemonia no país e no continente depois de emendar as conquistas de Brasileiro, Libertadores, Supercopa do Brasil, Recopa Sul-Americana e o bi carioca. É óbvio que a pandemia virou tudo do avesso, esvaziou os estádios e mudou as perspectivas. Mas não é só isso.

A rigor, 2019 foi uma exceção construída pelo trabalho de Jorge Jesus. Treinador português que mexeu com as estruturas do futebol nacional montando uma equipe competitiva reunindo os talentos contratados depois da reestruturação financeira do clube. Na rédea curta, criando um modelo de trabalho independente do departamento de futebol. Impondo cartão de ponto para os atletas, afastando o auxiliar permanente Marcelo Salles e blindando o elenco de qualquer turbulência política.

Com a volta de Jesus ao Benfica, tudo ruiu. Porque o Flamengo está inserido na realidade carioca. De política acima da competência, de privilégios dentro do elenco, inclusive indicando profissionais para o clube. De relacionamento estreito com políticos populistas. De acomodação e pensamento mágico, acreditando que bastava reproduzir o que foi feito antes e tudo seria resolvido.

A dura realidade é que o português e sua comissão técnica formaram uma ilha de excelência dentro do amadorismo de dirigentes, "conselhinhos" e outras instâncias que entendem de finanças, mas pouco de futebol. Nenhum embasamento técnico e muita sorte na escolha do sucessor de Abel Braga.

Ainda assim, a força solitária do Rio de Janeiro, já que Fluminense, Vasco e Botafogo não conseguem se reestruturar. Um motivo de orgulho bastante questionável, já que a falta de concorrência local e o estadual cada vez mais fraco e desinteressante também contribuem para este cenário complicado.

Essa visão egoísta, que não se importa com os rivais, nunca rendeu bons frutos. Na primeira metade dos anos 1990 era o pensamento de Eurico Miranda na sintonia fina com o então presidente da FFERJ, Eduardo Vianna. Não demorou muito para o dirigente vascaíno perceber que a hegemonia é deficitária e pouco competitiva além das fronteiras. As grandes conquistas do clube cruzmaltino vieram nos anos seguintes.

Ao contrário dos paulistas, que rivalizam, também se enroscam e se atrapalham nas disputas políticas. Mas investem forte no futebol, como o grande centro do país, porém com mais conhecimento de causa. E os quatro mantêm a relevância. O Corinthians ainda é o grande vencedor dos últimos dez anos, com três Brasileiros, uma Libertadores e um Mundial. Mas Santos ganhou Copa do Brasil (2010) e Libertadores (2011) e o Palmeiras faturou dois Brasileiros (2016 e 2018) e também a competição de mata-mata nacional, em 2012 e 2015. Agora o São Paulo é líder do Brasileiro e pode encerrar jejum de oito anos.

O Flamengo tenta duelar com a maior torcida do país que gera audiência, engajamento e, consequentemente, boas receitas. Mas não basta. É preciso saber investir e, principalmente, trabalhar profissionalmente. Que a tão sonhada final no Maracanã protagonizada por paulistas sirva como lição e reflexão que gere ações positivas e inteligentes para que a temporada de sonhos no ano passado não tenha sido um mero espasmo.