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André Rocha

Líder São Paulo lembra mais o Flamengo de Jorge Jesus que o time de Ceni

Brenner, do São Paulo, comemora seu gol diante do Fluminense pelo Brasileirão - Jorge Rodrigues/AGIF
Brenner, do São Paulo, comemora seu gol diante do Fluminense pelo Brasileirão Imagem: Jorge Rodrigues/AGIF

Colunista do UOL Esporte

27/12/2020 08h24

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O Fluminense cumpriu sua melhor atuação desde a saída de Odair Hellmann, com mais um período "tampão" do auxiliar permanente Marcão.

Mas o Maracanã novamente foi palco de mais uma grande vitória do São Paulo. 2 a 1 que aumenta a vantagem na liderança no Brasileiro para sete pontos, por conta do empate sem gols do Flamengo com o Fortaleza no Castelão.

Apesar de ter sinalizado a possibilidade de poupar alguns titulares para o jogo de volta, no Morumbi, contra o Grêmio pelas semifinais da Copa do Brasil, Fernando Diniz deu descanso apenas a Juanfran.

Com Igor Vinicius na lateral direita, a equipe foi intensa, organizada num 4-1-3-2 sob a liderança de Daniel Alves no meio-campo, trabalhando com muita mobilidade na frente, pressão no campo adversário, jogadas ensaiadas e traduzindo a superioridade com gols do artilheiro Brenner, que forma com Luciano a dupla de ataque mais eficiente do país.

As características acima lembram algum time de sucesso recente no Brasil?

Sim, o Flamengo de Jorge Jesus, campeão brasileiro e da Libertadores no ano passado. Com desenho tático e proposta semelhantes e ainda mais parecidos no espírito e nas virtudes.

Talvez a equipe rubro-negra do treinador português fosse mais vertical e o São Paulo atual aposte mais na circulação da bola com paciência desde a defesa. Muitas vezes agrupando cinco ou até seis jogadores no setor da bola para trocar passes.

Não necessariamente para inverter o jogo. Em vários momentos a ação ofensiva só troca de lado no passe final. Como a assistência de Reinaldo para Brenner no gol que abriu o placar no Maracanã.

É recorrente a presença de Gabriel Sara e Igor Gomes, os meias pelos lados, bem próximos para trocar passes e criar superioridade numérica. Tocando e girando.

Pode dar errado eventualmente, como no passe equivocado de Sara que o Fluminense aproveitou para empatar com o golaço de Fred. O centroavante veterano, aliás, deu trabalho a Arboleda e Bruno Alves no segundo tempo do clássico tricolor ganhando a maioria das disputas e preparando para seus companheiros. Caio Paulista perdeu a chance mais cristalina que poderia ter decretado o empate.

Mas tudo parece dar certo para o time que trabalha corretamente ao insistir com um projeto que começou com a escolha convicta do treinador, passou pelo lastro de evolução depois da definição de uma base titular e contou com a adesão do elenco que nunca demonstrou publicamente insatisfação com Diniz.

Técnico que apoia, mas também cobra incessantemente de seus atletas. Muitas vezes até de uma maneira histérica e recheada de palavrões. Outra semelhança com Jorge Jesus.

Bem diferente de Rogério Ceni, atual comandante do Flamengo, que é visto à beira do campo muito mais incentivando os jogadores. Mesmo quando tudo parece caminhar errado.

Como no jogo em Fortaleza contra sua ex-equipe. Fechada em um 4-4-2 bem coordenado sem bola que Ceni fez questão de elogiar como um legado dele. Mas sem a rapidez e contundência nos contragolpes agora sob o comando de Marcelo Chamusca.

Mesmo sem sofrer tanto na defesa e conseguir novamente terminar uma partida sem sofrer gols, o Fla de Ceni decepcionou pela capacidade criativa que beirou a indigência.

O time roda a bola de pé em pé lentamente, sem um movimento que fure as linhas e gere a infiltração. A ultrapassagem de Isla no corredor deixado por Everton Ribeiro não surpreende mais. Porque já é esperada pelos adversários, mas, principalmente, pela falta da inversão rápida dos tempos de Domenec Torrent.

A defesa sofre menos, também pelo retorno de Rodrigo Caio à zaga, porém o trabalho ofensivo ficou bem mais pobre. Porque Ceni gosta de ponteiros rápidos e agora conta com meias que partem dos flancos. Não é acaso a queda brusca de rendimento de Everton Ribeiro e Arrascaeta.

Explica também o treinador recorrer tanto ao deslocamento de Bruno Henrique como um típico ponta pela esquerda. Movimento tão criticado nos tempos de Dome, mas agora relativizado por muitos na imprensa que têm uma paciência bem maior com Ceni.

O time carioca, porém, vive fundamentalmente de lampejos de seus talentos. Como a jogada de Pedro no pênalti sofrido e convertido pelo centroavante, mas de forma irregular pelos dois toques depois de escorregar na hora do chute. Houve uma invasão de defensores do time cearense na cobrança, mas não serve como desculpa para futebol tão pobre.

Não basta o discurso populista de "resgate" do time de Jesus que iludiu os incautos que acreditam em pensamento mágico e soluções simples para problemas complexos. Não existe "dublê" de técnico.

É preciso saber construir um trabalho autoral. Diniz ajustou, aparou arestas. Melhorou a transição defensiva e a efetividade no ataque. Agora colhe os frutos, assim como o clube que deu respaldo. E também um protocolo eficiente para evitar surto de Covid-19, assim como um Departamento Médico eficiente, que mantém e recupera atletas para que Diniz tenha o melhor à disposição.

Com todos aptos é possível repetir nos treinos o que acontece nos jogos. Mesmo com menos frequência pela sequência de partidas.

Entregando mais qualidade que Ceni, e também Jorge Sampaoli no Atlético Mineiro, que não conseguem fazer suas equipes evoluirem, mesmo com semanas "cheias" para trabalhar.

O São Paulo se revigora com a capacidade de competir forte em duas frentes. As vitórias e o time ajustado alimentam o ânimo e renovam o fôlego. De novo a lembrança do Flamengo de Jorge Jesus.

Pode terminar também em taças. A do Brasileiro agora parece bem mais próxima.