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André Rocha

Mourinho aprimora retranca "mutante" que minimiza erros no Tottenham líder

Acabado? José Mourinho está dando a volta por cima no Tottenham - Getty Images
Acabado? José Mourinho está dando a volta por cima no Tottenham Imagem: Getty Images

Colunista do UOL Esporte

29/11/2020 16h05

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O Tottenham manteve a liderança da Premier League, pelo menos até o jogo do Leicester City em casa contra o Fulham, com o empate sem gols com o Chelsea no Stamford Bridge. Os números deixam claro que o objetivo da equipe de José Mourinho foi conquistado nesta dura sequência para os Spurs, contra Manchester CIty, Blues e Arsenal, o outro rival londrino, em casa na próxima rodada.

Apenas 40% de posse e as mesmas cinco finalizações, uma no alvo, do primeiro tempo. Segunda etapa de controle total, negando espaços e minimizando erros. Estratégia inteligente em uma temporada atípica, sujeita a oscilações naturais e, consequentemente, mais falhas.

Mourinho tirou o asterisco, a vergonha da retranca desde os duelos da Internazionale com o Barcelona de Guardiola na década passada. Também deu a inteligência na ocupação dos espaços importantes para as infiltrações dos adversários. Aos poucos foi carregando nas cores e abraçando o personagem meio "Darth Vader", na contramão da agressividade e do espírito ofensivo. Até perder mercado no topo e parecer ultrapassado.

O ano "sabático" serviu para rever conceitos, mas não dentro de uma guinada na visão de futebol. O português claramente segue convicto da eficiência do jogo de transições aproveitando os erros dos adversários, mas com os devidos ajustes. E o Tottenham apresenta um pouco dessas novas ideias para aprimorar o trabalho sem bola.

Como as "mutações" na última linha defensiva para guardar a própria meta. Para não perder a velocidade e a fina sintonia com Harry Kane do sul-coreano Son nos contragolpes, Mourinho muitas vezes arma um 6-3-1 com o recuo dos volantes entre laterais e zagueiros na última linha. Contra o Chelsea, Cissoko pela direita e Hajbjerg à esquerda.

Mas também pode recuar o holandês Bergwijn pela esquerda como um lateral, trazendo Reguilón para dentro e adiantando Hajbjerg como volante, variando a linha de seis na defesa que complica a mobilidade do ataque do oponente.

Ndombelé, em tese o meia central do 4-2-3-1 que é a base tática, se transforma em volante na proteção da própria área. Isso em uma fase defensiva quando o adversário trabalha a bola e se instala no campo de ataque. Em alguns momentos, o Tottenham adianta a marcação para retomar a bola e definir rapidamente os ataques.

Com Kane trabalhando como "falso nove" para atrair a marcação dos zagueiros. Algo que já está sendo estudado pelos rivais e surpreende menos. Contra o Chelsea, muitas vezes foi Kanté quem saiu para combater o camisa dez dos Spurs, deixando os zagueiros Zouma e Thiago Silva atentos às diagonais de Son.

Nenhum problema para Mourinho, que projeta sua equipe para não conceder chances cristalinas ao adversário. Desde a saída de bola sustentada, com os volantes próximos dos zagueiros, justamente para que, em caso de bola perdida, a defesa não esteja tão desprotegida. Evitando muitos passes por dentro, buscando acionar mais rapidamente os laterais Aurier e Reguilón. E se alguém ficar muito pressionado, a ligação direta está liberada.

A proposta, porém, tem problemas. Os Spurs sofreram com a mobilidade de Mason Mount do meio para o ataque e as diagonais de Timo Werner a partir do lado esquerdo. Sem contar a presença de área de Giroud, que entrou na vaga de Abraham e perdeu a grande chance, já nos acréscimos, em falha do zagueiro Joe Rodon, substituto de Alderweireld. Recuou no pé do francês, que errou no toque fraco por cima do goleiro Lloris. O Chelsea ficou mais perto da vitória, mas domínio não garante os três pontos.

Definitivamente, nos jogos grandes o Tottenham não faz a mínima questão de ter a bola. A ponto de Mourinho brincar na coletiva depois da vitória por 2 a 0 sobre o City de Guardiola: "Eles podem levar a bola para casa, se quiserem", em resposta a uma pergunta sobre o alto índice de posse do adversário. Todos querem resultado, mas para o português é o objetivo único. Sem subjetividade e espaço para entretenimento. Diversão para ele é vencer.

Ou não perder, como no Stamford Bridge. A missão da retranca "mutante" foi cumprida.

(Estatísticas: BBC)