Topo

André Rocha

PSG sobrevive na Champions, mas depende demais de Neymar e Mbappé

Colunista do UOL Esporte

24/11/2020 19h33

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Desde o início do projeto do Paris Saint-Gerrmain com Neymar e Mbappé em 2017, ou mesmo antes, o grande desafio dos treinadores no clube era abrigar os talentos dentro de uma equipe minimamente equilibrada e adequada ao futebol atual.

Durante muito tempo o problema era que o time ficava "faceiro" demais e marcava com os olhos, sem intensidade no perde-pressiona e com setores muito espaçados. Sem contar as lesões de Neymar em momentos decisivos da Liga dos Campeões, grande obsessão do clube a partir da mudança de patamar na capacidade de investimento.

Na última edição, a campanha com ida à final em Lisboa sinalizou para Thomas Tuchel a possibilidade de ser mais competitivo. Com um time físico, reativo e deixando uma "reserva" de talento no ataque. Com Di María e Mbappé nas pontas e Neymar como "falso nove". Obviamente com liberdade de movimentação para o tridente.

Deu certo contra Atalanta e RB Leipzig, times ofensivos, porém sem peso para jogos grandes da Champions. Nem tanto diante de um Bayern de Munique dominante, mesmo dentro de uma decisão parelha. A derrota foi frustrante, mas a solução virou referência para Tuchel.

Inclusive nas contratações e dispensas, como Thiago Silva e Cavani. Força e vigor para se defender e os craques resolvendo na frente. Fórmula um tanto arcaica para 2020, lembrando, por exemplo, o Brasil do último título mundial, em 2002, com Rivaldo & Os Ronaldos.

É claro que o pouquíssimo tempo de transição para a temporada 2020/21, já que disputou o último jogo da anterior, serve como atenuante. É um período atípico, sem dúvida. Mas a mudança ajudou pouco, principalmente porque o time francês piorou na construção ofensiva, quando necessita.

O sorteio da fase de grupos na Champions também não ajudou. Com Manchester United e um reencontro com o Leipzig seria preciso uma resposta rápida em desempenho, sem tranquilidade para ajustes graduais. O sofrimento veio com derrotas para os grandes concorrentes nas três primeiras rodadas. O mais doloroso e complicado para reverter, os 2 a 1 para os Red Devils em Paris.

Assim a volta em casa contra os alemães virou final. Por isso o retorno de Neymar desde o início depois da lesão que o tirou da seleção brasileira na última data FIFA. Sem condições para 90 minutos, mas foi para o sacrifício. Descansando sem bola na frente e solto para circular pelo ataque.

De novo no 4-3-3 com Di María e Mbappé. Mas com os demais companheiros desconectados, muito preocupados com o trabalho defensivo. Até porque o Leipzig novamente deu trabalho, com a proposta de imposição do jovem treinador Julian Nagelsmann.

Mobilidade do quarteto Dani Olmo-Forsberg-Nkunku-Poulsen, mais o suporte de Sabitzer de trás, que fazia o sistema variar de 4-2-3-1 para 4-1-4-1, e o apoio constante de Angeliño pela esquerda. Pressionando, roubando e trabalhando a bola. Terminou com 60% de posse e 84% de efetividade nos passes.

Mas tão "arame liso" quanto na semifinal da última edição. Das 14 finalizações, apenas três no alvo. Keylor Navas não trabalhou tanto assim para o volume do adversário. Menos mal para um PSG que foi se entrincheirando, Primeiro trocando Di María por Rafinha e se fechando com duas linhas de quatro. Depois recuando o volante Danilo como terceiro zagueiro entre Marquinhos e Diallo.

Só teve um alívio com o desgaste natural de quem atacou na maior parte do jogo. Neymar já não estava mais em campo. Um alívio não só pela questão física, mas também pela tensão do camisa dez, que já tinha amarelo e o vermelho parecia questão de tempo e um destempero. Seria a mancha em uma atuação que não foi brilhante, mas valeu pelo sacrifício e, claro, o gol de pênalti no primeiro tempo que definiu a partida.

Talvez Neymar também esteja nervoso por ver a equipe tão dependente dele e de Mbappé. Di María também desequilibra, inclusive sofrendo a penalidade máxima de Sabitzer muito questionável. Mas nem tanto, até pela carreira já em uma reta final. O brasileiro é o arco, o francês é a flecha. Mas ainda parece pouco. O PSG está engessado demais e nas partidas importantes sofre mais que o esperado.

Um meio-campo burocrático que pode crescer com Verratti e Rafinha, como nos minutos finais. Que deve contar mais com o apoio de Florenzi pela direita, menos com Bakker do lado oposto. Kean ainda não parece pronto e Icardi e Sarabia ficam aquém nos maiores desafios.

No final, valeu o resultado que faz o time chegar aos mesmos seis pontos do Leipzig, ultrapassando no confronto direto, e abre a briga pela segunda vaga. A sobrevivência é importante, mas viver de Neymar e Mbappé pode cobrar um preço caro mais á frente. É pouco e chega a ser decepcionante para um treinador como Tuchel. Pragmatismo tem limite.

(Estatísticas: UEFA)