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André Rocha

Palmeiras 1x1 Flamengo foi o jogo do "dane-se" para a Covid. Agora é tarde

Jogadores do Palmeiras disputam lance com jogadores do Flamengo durante partida do Brasileirão 2020 - Marcello Zambrana/AGIF
Jogadores do Palmeiras disputam lance com jogadores do Flamengo durante partida do Brasileirão 2020 Imagem: Marcello Zambrana/AGIF

Colunista do UOL Esporte

21/11/2020 09h41

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A 22ª rodada do Brasileiro começa com a previsão de 57 ausências por testes positivos de Covid-19, incluindo atletas e treinadores. O Palmeiras é o mais afetado para o jogo contra o Goiás, com 19 infectados.

Um absurdo que coloca em xeque os protocolos da CBF, embora a experiência de simplesmente andar na rua e ver tanta gente sem as devidas proteções em uma pandemia dê alguma razão para a tese da entidade: a maior chance de contaminação dos profissionais é na vida pessoal. Fotos de jogadores sem máscaras em festas têm sido cada vez mais comuns. Uma irresponsabilidade para quem depende do corpo para exercer o próprio ofício.

Seja como for, ao menos o jogo entre Goiás e Palmeiras, marcado para hoje, sábado, às 21h na Serrinha, deveria ser adiado por uma questão de saúde pública. Com o surto no clube, não há certeza do potencial de transmissão de algum membro da delegação em uma viagem interestadual. Colocando, inclusive, os funcionários do Estádio Hailé Pinheiro em risco.

Mas o clube paulista não fez nenhuma requisição à CBF e vai para o jogo, mesmo com apenas 12 jogadores disponíveis. Por uma questão de coerência, lembrando do dia 27 de setembro.

Allianz Parque, por volta de 16h30. Quando Jean Pierre Gonçalves Lima apitou o início de Palmeiras x Flamengo, o futebol brasileiro deu o grande "dane-se", para não usar o termo apropriado, para a Covid-19.

Não que o Flamengo tivesse razão. O clube fez força para que o futebol voltasse o mais rápido possível, incensou os protocolos internos e também da CBF, mas não foi responsável na viagem ao Equador para os jogos contra Independiente del Valle e Barcelona de Guayaquil, com vários dirigentes na delegação podendo pegar e transmitir a doença. Sem contar a viagem de volta com jogadores sem máscaras, o que acarretou a demissão do funcionário que publicou a foto nas redes sociais. Ele devia ser o culpado mesmo...

Mas aquele jogo não deveria ter sido realizado por uma questão de saúde pública. Só que os clubes, para variar, só se preocuparam com o resultado esportivo. O Flamengo com medo de perder, o Palmeiras querendo tirar proveito da situação. E dane-se se aquele funcionário mais humilde do Palmeiras trabalhando no estádio corria o risco de ser infectado.

No fundo, todos erramos. Porque nós da imprensa também naturalizamos. A pauta depois da partida era a grande atuação de Hugo e a incapacidade do Palmeiras, então comandado por Vanderlei Luxemburgo, de se impor em casa diante do rival destroçado. Três dias depois, com o time carioca goleando o Del Valle por 4 a 0 no Maracanã, a tese era de que o acontecido no Allianz Parque havia sido positivo, já que a comissão técnica encontrara nos jovens vindos das divisões de base soluções para as ausências dos titulares.

Uma vergonha que este colunista assume. Aquele jogo era simbólico, entre os times com maior capacidade de investimento. Os últimos campeões brasileiros. O país todo vendo aquela disputa judicial para a realização ou não da partida. Alguém deveria ter demonstrado bom senso e pensado no mais importante: a vida.

Nós, sociedade brasileira, deixamos passar. O jogo terminou empatado, ninguém venceu no dia do "Dane-se". Perdemos todos e agora é tarde.