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André Rocha

Única boa notícia para o Flamengo é não ser mais o grande favorito

Vitinho e Bruno Alves disputam a bola na partida entre Flamengo x São Paulo, pela Copa do Brasil - André Mourão/Foto FC/UOL
Vitinho e Bruno Alves disputam a bola na partida entre Flamengo x São Paulo, pela Copa do Brasil Imagem: André Mourão/Foto FC/UOL

Colunista do UOL Esporte

16/11/2020 09h33

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Diego Alves; Isla, Rodrigo Caio, Natan (Léo Pereira), Filipe Luís; Willian Arão (Thiago Maia), Gerson, Everton Ribeiro e De Arrascaeta: Gabigol (Pedro) e Bruno Henrique.

Esse seria um esboço do que Rogério Ceni poderia escalar se tivesse todo o elenco do Flamengo à disposição para a volta das quartas de final da Copa do Brasil contra o São Paulo, no Morumbi. Precisando reverter a desvantagem de 2 a 1 construída pelo Tricolor no Maracanã.

Mas dos 14 citados, apenas metade está garantida, a princípio, entre os relacionados: Diego Alves, Natan, Léo Pereira, Arão, Gerson, Arrascaeta e Bruno Henrique. E o uruguaio não apresenta condições de atuar por 90 minutos. Os demais ou estão lesionados, ou servindo seleções na data FIFA. E Diego Ribas, um reserva importante, considerado um dos capitães e líderes da equipe, também se recupera de lesão e está fora. Pedro, Gabigol, Thiago Maia e Everton Ribeiro são dúvidas, até para aproveitamento no banco de reservas.

Além disso, os que têm jogado demonstram nítido cansaço, justamente pelas ausências dos companheiros. Uma, em especial, mais longa e traumática: Rodrigo Caio, que não joga desde a vitória sobre o Barcelona por 2 a 1 em Guayaquil, no dia 22 de setembro. Logo o mais qualificado no setor problemático em toda temporada, mesmo nos tempos de Jorge Jesus.

Ausências que ganham um peso ainda maior por conta da qualidade e do momento do adversário. O trabalho de Fernando Diniz no São Paulo nunca pareceu tão consolidado e rendendo frutos, como o grande futebol de Gabriel Sara e Brenner. É o time que menos perdeu pontos no Brasileiro e, junto com Palmeiras e Grêmio, vem em ascensão, melhorando desempenho e resultados.

Todo este contexto coloca o Flamengo, pela primeira vez em 2020, sem o status de favorito absoluto. Mesmo sem torcida no estádio, o mando de campo e a vantagem do empate pesam muito a favor dos paulistas.

Mas talvez essa seja a única boa notícia recente para os rubro-negros. Um dos motivos para as dificuldades enfrentadas pela equipe desde a volta do futebol é a "fome" dos adversários contra o "time da moda", melhor elenco do país e do continente. Que venceu cinco dos últimos sete títulos que disputou. Todos jogam a vida.

O fim da aura de imbatível, perdendo posições inclusive na tabela do Brasileiro - agora ocupando a quarta colocação. É claro que resultados ruins abalam a confiança, ainda mais com erros primários como os muitos cometidos por Gustavo Henrique, a falha de Hugo contra o São Paulo e o inacreditável gol perdido por Lincoln aos 45 minutos do segundo tempo do empate por 1 a 1 com o Atlético-GO no Maracanã.

Mas também permite que o time possa ter uma postura mais reativa, sem tantas responsabilidades. Um pouco "franco-atirador" e transferindo responsabilidade para o outro lado. Os rivais têm encontrado um cenário bastante confortável: se perder é normal, foi para o favorito; se vencer é um grande feito, que vai repercutir forte nas mídias tradicional e alternativa.

Na quarta, o favoritismo é do São Paulo, que carrega ainda o peso de oito anos sem títulos e das eliminações recentes no Paulista, na fase de grupos da Libertadores e na Sul-Americana. Mais uma decepção, e nestas condições, levaria Diniz e seus comandados de volta ao inferno das críticas impiedosas. Mesmo com boa campanha nos pontos corridos.

É a chance do Fla buscar superação, despertar do ar "blasé" dos últimos tempos e se reconectar com sua história. Na grande maioria das principais conquistas do time de maior torcida do país, a condição não era de favoritismo absoluto. Nas três Copas do Brasil que ganhou, nas duas Libertadores, na lendária vitória sobre o Liverpool em 1981, na Copa União de 1987 e até no Brasileiro do ano passado - quem não lembra de jornalistas antecipando o título do Palmeiras de Felipão na quinta rodada?

A única exceção foi o Brasileiro de 1982. Campeão da Libertadores e Mundial do ano anterior, entrou como o time a ser batido e, ainda assim, faturou a taça. Não sem muito sofrimento, virando alguns jogos que pareciam impossíveis e ganhando as disputas de mata-mata sempre decidindo fora de casa. Superando no caminho São Paulo, Internacional, Corinthians, Atlético-MG, Santos e, na final, o Grêmio, campeão nacional de 1981.

Agora Rogério Ceni pode usar os problemas a seu favor. Mobilizando os atletas, que parecem dispersos desde a saída de Jesus, e podendo jogar reagindo, ou forçando os erros do São Paulo. E com licença para simplificar a saída de bola, sem vergonha para algumas ligações diretas ou mesmo chutões caso os defensores estejam pressionados. Minimizando erros para aproveitar os do adversário. Não é mais "vergonha".

Pode ser a tábua de salvação para buscar uma classificação improvável, mas que fica mais possível justamente pelas chances reduzidas que alteram radicalmente o contexto.