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André Rocha

Sampaoli mais pragmático é boa notícia para o líder Galo

Vargas fez sua estreia com a camisa do Galo e ficou feliz com atuação e a vitória alvinegra - Pedro Souza/Atletico-MG
Vargas fez sua estreia com a camisa do Galo e ficou feliz com atuação e a vitória alvinegra Imagem: Pedro Souza/Atletico-MG

Colunista do UOL Esporte

15/11/2020 09h41

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O Santos de Jorge Sampaoli terminou o Brasileiro de 2019 com a segunda colocação, mas não foi o time que lutou ponto a ponto, ou ao menos tentou adiar ao máximo a confirmação do título do Flamengo de Jorge Jesus. Esse papel coube ao Palmeiras, que buscou uma reação sob o comando de Mano Menezes, mas não teve regularidade para conter o maior campeão da era dos pontos corridos.

Porque o alvinegro praiano tropeçou demais na própria irregularidade, mesmo com foco total na competição de pontos corridos, já que foi eliminado precocemente na Copa do Brasil e na Sul-Americana. Inquieto, Sampaoli mudava formações e sistemas freneticamente.

Até que a inviabilidade do título acalmasse o argentino e fizesse optar pelo mais simples: uma equipe que trabalhava para os ponteiros Marinho e Soteldo brilharem. Acumulou bons resultados, inclusive os 4 a 0 sobre o Flamengo na última rodada, e se despediu da temporada com uma imagem positiva.

Agora no Atlético Mineiro, o treinador parecia se perder novamente. Depois de emendar quatro partidas sem vitórias, com reveses doídos para Bahia e Palmeiras, e dar a impressão de que desestabilizara o vestiário com insistentes pedidos por reforços, a resposta nos últimos jogos foi mais que positiva.

Com a boa notícia da adição de uma dose necessária de pragmatismo para sobreviver ao contexto louco do futebol brasileiro, mesmo não sofrendo novamente com o calendário insano - mas, desta vez, sem responsabilidade nas eliminações vexatórias do Galo na Sul-Americana e na Copa do Brasil.

Contra o Flamengo, mesmo no MIneirão, um time mais reativo, explorando as fragilidades defensivas do rival então comandado por Domènec Torrent. Três zagueiros, com Junior Alonso pela esquerda como um lateral mais fixo para Guilherme Arana negar as infiltrações de Isla. Bola roubada, velocidade nas pontas com Savarino e Keno buscando Eduardo Sasha na área. 4 a 0, fora o baile.

Para enfrentar o Corinthians na Neo Quimica Arena, Sampaoli sabia que Vagner Mancini repetiria a estratégia da vitória sobre o Internacional: linhas compactas, intensidade na marcação no próprio campo e velocidade nas transições ofensivas.

Como resposta, tentou um "3-1-6", como o próprio técnico descreveu na coletiva. Mas um tanto desconjuntado, com Allan fazendo o terceiro zagueiro pela esquerda, Jair à frente da defesa e uma linha com Guga aberto pela direita, o estreante Vargas, Zaracho, Sasha, Guilherme Arana mais por dentro e Keno.

A descoordenação do setor esquerdo custou caro com Fagner e Ramiro deitando e rolando e criando a jogada do gol de Matheus Davó. Aproveitando também a desconcentração por conta do pênalti claro de Gil em Vargas não marcado pela arbitragem, VAR incluso. Um absurdo logo nos primeiros minutos que impactou diretamente no desempenho de um Atlético que parecia sucumbir novamente diante de um adversário fechado e acelerando os contragolpes.

Mas Sampaoli trabalhou no intervalo e corrigiu o posicionamento, optando por algo menos arrojado. Trouxe Guga e Arana de volta às laterais e Allan ao meio-campo, adiantando Jair. Como Guga não chega tanto ao fundo, inverteu Keno de lado e colocou Vargas na esquerda para buscar as diagonais e abrir o corredor para Arana. Um 4-3-3 mais simples e prático.

Assim saiu o gol de empate: belo toque de calcanhar de Vargas para Arana infiltrar e finalizar. A outra solução pragmática foi explorar a notória deficiência do Corinthians no jogo aéreo. Ainda mais com o time perdendo estatura em função dos muitos desfalques. Só Marllon e Gil tinham condições de duelar com os atacantes nos cruzamentos, que nem foram tantos: os mesmos 17 do Corinthians. Mas com planejamento, especialmente nos laterais cobrados na área da equipe paulista. O Atlético ganhou 31 dos 45 duelos pelo alto.

Por isso também as entradas de Nathan, com mais presença de área que Zaracho, e Marrony, onze centímetros mais alto que Sasha. E com intensidade para aproveitar cruzamento de Keno, entrar nas costas do zagueiro Marllon e marcar o gol da virada.

Foram 13 finalizações contra oito e 67% de posse de bola. A diferença no acerto dos passes foi abissal: 84% contra 63%. Ou seja, as digitais de Sampaoli estavam lá e o modelo de jogo do agora líder Atlético não deve mudar. Mas com as adaptações necessárias de um técnico mais sereno com o pedido de contratações atendido e ainda mais focado no fim do jejum atleticano de quase meio século no Brasileiro. Nunca pareceu tão possível.

(Estatísticas: SofaScore)