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André Rocha

O Flamengo que só pensa em si entregue à própria sorte no Equador

Beder Caicedo e Diego disputam a bola durante a partida entre Independiente del Valle e Flamengo, pela Libertadores 2020 - Pool/Getty Images
Beder Caicedo e Diego disputam a bola durante a partida entre Independiente del Valle e Flamengo, pela Libertadores 2020 Imagem: Pool/Getty Images

Colunista do UOL Esporte

21/09/2020 10h15

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O Flamengo fez pressão pela volta do futebol já em abril, com o número de contaminados e mortos por Covid-19 crescendo no país. Além das questões financeiras, a ideia era não perder o embalo das conquistas e do bom futebol, além de entregar um horizonte a Jorge Jesus em meio às conversas para a renovação do contrato.

O Carioca voltou e o Flamengo venceu, não mais que a obrigação pela disparidade em relação aos rivais. Jorge Jesus até renovou o contrato, mas de nada adiantou. Partiu para Lisboa de volta ao Benfica. Sem comando técnico, de "luto" pela saída de um dos técnicos mais vencedores da história do clube e com um longo período sem jogos até o início do Brasileiro, o time perdeu o tal embalo.

Rodolfo Landim foi a Brasília e, segundo o mesmo, em uma conversa com o presidente da república - um encontro sem uso de máscaras em meio à pandemia, é bom lembrar - conseguiu uma "canetada" em forma de Medida Provisória para ter o direito como mandante de definir a transmissão de seus jogos. Uma vitória contra a Globo na guerra por valorização no estadual: a emissora ofereceu 18 milhões, o Flamengo queria 80!

Saldo final: transmissões pela FlaTV, uma tentativa frustrada por um aplicativo e uma "vitória" com o SBT exibindo o último Fla-Flu. Mas com arrecadação e alcance bem inferiores aos oferecidos pela Globo. Para completar, o Congresso sentou em cima do projeto e até Turner e Globo evitaram um conflito no Brasileiro. Ou seja, por enquanto deu em nada.

Agora o Flamengo faz pressão, novamente com apoio da Prefeitura do Rio de Janeiro, pela volta do público ao Maracanã. Em defesa da ideia, o argumento dos "cuidados e protocolos" tão exaltados e que, de fato, deram certo na reta final do Carioca e até aqui no Brasileiro.

Mas no Equador veio mais uma lição de que o Fla não está sozinho, não é uma entidade que gravita blindada de acordo com suas próprias práticas. Seis jogadores testaram positivo para a Covid-19 e há o risco de uma contaminação em massa no elenco. Até pela presença de vários dirigentes, muitos deles com presença mais que questionável na delegação, que aumenta a possibilidade de contágio.

Como a Conmebol não é FFERJ, embora pareça em vários momentos, o clube não pode apelar para o adiamento dos jogos contra Barcelona em Guayaquil e Independiente Del Valle no Maracanã. Inclusive por conta do regulamento que permitiu um número maior de inscritos justamente para esta eventualidade. Tudo com apoio do próprio Flamengo, também sedento pelo retorno do torneio continental.

E uma classificação para o mata-mata da Libertadores que parecia tranquila e inicialmente havia até a pretensão de alcançar a melhor colocação geral para sempre decidir no Maracanã, inclusive na final em jogo único marcada para o estádio, agora se transforma em um drama.

Com direito a treino cancelado em Guayaquil pelas cinzas de um vulcão em erupção. Outra prova de que imprevistos acontecem e não é possível fugir de todas as agruras da vida. Mesmo com dinheiro e todos os "protocolos".

Qualquer clube, empresa, pessoa jurídica ou mesmo física tem o direito de lutar por seus interesses. É legítimo. O que se questiona no clube carioca é essa recorrente busca do "jeitinho" para resolver os próprios problemas em pontos que deveriam ser debatidos com os pares, até para ganhar consistência.

O Flamengo que só pensa em si está entregue à própria sorte no Equador. Para cada erro, um castigo. Será que um dia aprende?