Como o surfe aproveita era de ouro do Brasil para chegar à TV Globo
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No próximo domingo (16), o surfe vai viver mais um momento histórico na mídia esportiva brasileira com a transmissão, em TV aberta, das finais da etapa de Abu Dhabi da WSL (World Surf League), a liga mundial da modalidade, pela Globo. O evento vai ocupar espaço no 'Esporte Espetacular', programa semanal da emissora.
Mas esse não é o primeiro marco histórico que o esporte das ondas conquista na maior emissora do país, que até já abriu mão de novela no horário nobre para mostrar disputa de medalhas olímpicas no ano passado, nos Jogos de Paris com a peculiaridade de fuso horário provocada pelo local de disputas ter sido deslocado para o Taiti. Mesmo assim, a TV Globo lançou o surfe na grade em pleno espaço das novelas. Como chegamos a esse ponto?
A coluna conversou com Ivan Martinho, presidente da WSL na América Latina, que expôs o momento vivido pelo Brasil há mais de 10 anos no surfe como fundamental para a modalidade ocupar os espaços esportivos que um dia já foram de outros esportes com brasileiros no topo, como a Fórmula 1, o MMA e o vôlei no segundo lugar da preferência da população, abaixo do futebol.
"O que a gente tem (no surfe) é o esporte mais vencedor da década no Brasil. Não tem nada que se compare. Por uma coincidência, combina em um momento no qual a seleção brasileira (de futebol) não tem conseguido trazer grandes conquistas importantes, e isso causa inclusive alguma ansiedade no povo brasileiro, em relação à nossa expectativa de ver o Brasil ganhando, como já fizemos cinco vezes, e tendo como uma referência maior na América Latina a Argentina no futebol, o que é uma dor até maior", avaliou Martinho sobre o contexto atual.
O sucesso do Brasil, com a geração batizada de "Brazilian Storm" no começo da década passada e que se tornou muito vitoriosa com nomes como Gabriel Medina, Filipe Toledo, Ítalo Ferreira, Adriano Souza (Mineirinho), entre outros, chamou atenção da Globo, que passou a transmitir a WSL no sportv e no Globoplay há três anos e agora acaba de renovar o contrato por mais quatro temporadas, levando já um evento para a TV aberta.
"A gente tem um contrato multiplataforma. Eles transmitem no sportv e no Globoplay, fazem uma cobertura no ge, o editorial é na TV Globo, e o 'fora da água' é no Canal Off. Esses cinco canais que (estão) nesse acordo ajudam a gente a ter conteúdo de surfe quase todos os dias do ano nas plataformas Globo. E isso é importantíssimo para um esporte como o nosso do ponto de vista não só do alcance, mas também da frequência", disse Ivan Martinho.
"Aquela decisão de colocar as disputas de medalhas do Gabriel e da Tati ao vivo, no horário nobre, foi uma decisão baseada em dados. Não foi uma aposta. Eles nunca fazem apostas em TV aberta, onde só entra o que é certeza que pode dar audiência. Aquelas conquistas do bronze do Gabriel e da Tati com a prata, até curiosamente com uma bateria em que o Gabriel ficou na maior parte boiando na água esperando a onda, e isso gerou bastante curiosidade e discussões nas redes. Naquele dia mais de 48 milhões de pessoas assistiram ao vivo ao nosso esporte", comemorou o presidente da WSL na América Latina.
Mas a estratégia na parceria com a Globo é baseada não apenas nos eventos e transmissões com conquistas de brasileiros, mas também em encaixar o surfe e seus atletas na grade dos canais de uma forma geral, explorando formatos e linguagem diferentes para chegar ao máximo de pessoas.
"A Globo ajuda a construir os ídolos, o que é muito importante. Nós podemos fazer com que outros atletas participem da programação no entretenimento, como já tivemos o Pedro Scooby no 'Big Brother', o Lucas Chumbo em 'No Limite'. Eles podem ir nos programas de entrevistas, Pedro Bial, Ana Maria Braga. E isso começa a colocar atenção (nos atletas) com um nível de projeção que nenhum outro canal é capaz de ter. E isso ajuda muito a gente a contar a história dos seres humanos por trás dos atletas, que é algo que cria conexão com as pessoas", afirmou Martinho.
Questionado pela coluna sobre o processo de renovação do contrato que deu à Globo mais quatro anos das transmissões da WSL no Brasil, o presidente da organização na América Latina disse que houve concorrência e disputa pelos direitos.
"Obviamente são processos confidenciais, mas teve concorrência, sim, tivemos outras empresas que quiseram entrar no surfe. É um pouco do reflexo do sucesso. Tempos atrás não tinha tanta concorrência, hoje tem. E não é só a questão da audiência, tem o dinheiro que vem junto também. São diversas marcas que a gente trouxe, são marcas de renome e algumas não estão no futebol", contou Ivan Martinho.
"A gente já tinha uma parceria muito positiva e bacana com a Globo, por tudo isso que a Globo faz pelo esporte. A gente reconhece que ninguém (mais) tem a capacidade de fazer em um país como o nosso. Quando ela acredita no esporte, coloca de fato no holofote, é outro tamanho de exposição, de comentários", completou.
No domingo, a transmissão da TV Globo terá narração de Everaldo Marques, com comentários de Breno Dines e Gabriel Medina, que está lesionado e atualmente fora das disputas do circuito. Também joga muito a favor o uso de piscinas de ondas artificiais, que deixa o evento mais previsível em termos de realização e horários das baterias, sem depender das variáveis da natureza. A etapa de Abu Dhabi como um todo é justamente mais curta por isso, ocorrendo de hoje a domingo.
Mesmo sem Medina, o Brasil ainda terá 12 surfistas na disputa: 10 no masculino, sendo Ítalo Ferreira (um título mundial e um ouro olímpico); Filipe Toledo (dois títulos mundiais); João Chianca, o "Chumbinho"; os irmãos Samuel e Miguel Pupo; Deivid Silva; Alejo Muniz; Ian Gouveia; Yago Dora e Edgar Groggia, que disputa a elite do surfe pela primeira vez. E duas atletas no feminino, a medalhista olímpica de prata Tatiana Weston-Webb e a jovem Luana Silva.
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