Allan Simon

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Vitória da Record sobre Globo é recado: futebol é quem precisa melhorar

A Record conseguiu ontem uma vitória marcante sobre a Globo ao liderar a média de audiência em São Paulo durante o período com bola rolando no clássico entre Corinthians e Santos, válido pela nona rodada do Paulistão 2025. A emissora de Edir Macedo marcou 17,7 pontos entre 21h37 e 23h37, contra 16,1 da TV Globo, que no mesmo período exibiu dois de seus produtos mais fortes, a novela das 21h, 'Mania de Você', e o reality show BBB 25, além do Cine BBB. Os dados são consolidados da Kantar Ibope Media.

O jogo, vencido pelo Corinthians por 2 a 1, fez a Record alcançar pico de 19,7, praticamente 20 pontos no Ibope. O canal atingiu, ainda, 30,1% de participação sobre o total de televisores ligados durante a partida. A famosa briga com o SBT pelo segundo lugar virou até detalhe. A emissora da família Abravanel ficou com apenas 2,9 pontos no período, exibindo a novela 'A Caverna Encantada', o seriado mexicano 'Chapolin' e o 'Programa do Ratinho'. Um massacre. Mas o que tudo isso significa?

Toda vez que uma emissora bate a Globo com futebol, é comum ler os seguintes comentários: "na Globo daria bem mais", "claro, era um clássico, quero ver ganhar com um jogo de time pequeno", "amanhã a Globo volta a liderar de novo e ninguém nem lembra da (inserir a emissora da vez que tiver ganhado aqui)". Neste caso específico, "claro, foi Neymar x Memphis Depay, só assim para a Record ganhar". E aí está: é exatamente esse o ponto.

Desde que a Globo passou a não ter mais domínio completo dos direitos de transmissão no futebol, a mídia esportiva em parte passou a adotar um discurso bastante perigoso de que nada funciona fora da maior emissora do país, aceitando como algo natural da vida as derrotas de competições como Libertadores e Paulistão para produtos como novelas, realities e qualquer outra coisa que estivesse passando na Globo. É como se o futebol devesse se contentar com a verdade absoluta de que precisa muito mais da Globo do que a Globo precisa dele. E isso não é verdade. Ambos precisam muito um do outro.

Tanto é que a Globo recentemente cedeu ao pagar R$ 850 milhões em média por ano à LFU para deter a maior parte do Brasileirão, já tendo acordado antes pagar pelo menos R$ 1,1 bilhão aos times da Libra na mesma competição. A LFU precisava da exposição da Globo, fato. Mas a Globo precisava dos jogos da LFU, outro fato. Um não anula o outro.

Voltando à questão da audiência, assumir que a Record só ganhou da Globo porque Corinthians x Santos tinha Memphis Depay x Neymar em campo carrega consigo uma verdade muito maior do que qualquer tentativa de diminuir o feito da emissora na audiência. Carrega o fato de que é o futebol quem precisa se melhorar como produto.

Se o Brasil tivesse uma liga unificada, em vez dessa aberração que é a divisão em blocos, se tivéssemos toda a organização do Brasileirão nas mãos dessa liga, e não de uma CBF que claramente não sabe como tratá-lo, se os clubes tivessem mais dinheiro para investir na contratação de outros nomes de peso, não seria possível aumentar a audiência também em outros jogos?

Logo que estreou no Santos, na semana anterior, Neymar fez a Record liderar entre 22h54 e 23h43 com um jogo do Peixe diante do Botafogo de Ribeirão Preto. Isso jamais aconteceria anteriormente. Mas a presença de uma estrela desse porte fez a audiência chegar. A Record fez 13,4 de média nessa faixa, que teve Neymar em campo, enquanto a Globo amargava a vice-liderança com 10,8.

Embora na média do jogo ainda tenha ficado na vice-liderança, com 13 pontos contra 18 da Globo. Já era um indicativo de que a coisa ficaria mais pesada quando viesse o clássico com o Corinthians, o time de maior torcida no Paulistão, embalado por uma campanha excelente, já classificado, mas com estádio previsivelmente lotado e com o tal duelo Memphis x Neymar.

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Para efeito de comparação, no primeiro ano do contrato da Record com o Paulistão, um jogo Corinthians x Santos de quarta-feira, também na Neo Química Arena, mas vencido pelo Peixe por 2 a 1, ficou com quase 12 pontos de média. Seis pontos a menos do que o clássico de ontem. Mesmos clubes, cenário diferente com craques em campo. Se o futebol brasileiro acordar, se organizar, buscar maximizar as receitas com inteligência e união, o futuro terá ganhos para todo mundo. E veremos mais vitórias como essas de quem transmite jogos fora da Globo, além de índices ainda maiores quando o futebol for na própria Globo.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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