Allan Simon

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Record se deu mal com acordo Globo-LFU no Brasileirão? Saiba o que rolou

O anúncio da compra por parte da Globo dos direitos de transmissão dos clubes da LFU (Liga Forte União) no Brasileirão de 2025 a 2029 gerou uma confusão em parte do público por causa de um ponto específico: a emissora terá o direito de mostrar jogos desse bloco na TV aberta. No ano passado, a Record anunciou a compra dos direitos nessa mídia de um jogo por rodada na negociação feita também com a Liga Forte.

Nas redes sociais e nos comentários recebidos no conteúdo da coluna e do nosso canal no YouTube, imediatamente internautas passaram a dizer que a Record "se deu mal", que a Globo "passou a perna" na emissora levando um pacote com 9 dos 10 jogos, e podendo transmitir a mesma partida que o canal de Edir Macedo exibirá nos domingos às 18h30 e quartas às 19h30. Mas isso não é realidade dos fatos.

Primeiro: a Record comprou os direitos de transmissão do Brasileirão com a LFU sabendo que existia a possibilidade de a empresa que comprasse um dos pacotes maiores do mesmo bloco usar em plataformas abertas. A coluna confirmou essa informação, a direção da emissora paulista sempre soube que a Globo tinha essa chance.

No dia 26 de abril de 2024, pelo menos quatro meses antes de a Record comprar o pacote de transmissões abertas, esta coluna publicou uma reportagem mostrando como a LFU venderia os direitos. Na época, as empresas interessadas receberam uma apresentação que mostrava um pacote "A", de plataformas abertas, e dois pacotes "B1 e B2" pensados para plataformas pagas. Veja o que escrevemos na época sobre esses pacotes:

"Serão dois pacotes iguais que foram originalmente concebidos para atender ao mercado de plataformas pagas. Mas as empresas que foram informadas sobre o modelo já receberam sinalização de que poderão usar como quiserem os jogos que comprarem".

Ou seja, estava claro que qualquer empresa poderia adquirir os pacotes B1 e B2, independentemente do uso em plataformas abertas ou fechadas. Daquele texto em diante, apenas duas mudanças aconteceram no formato da negociação: o pacote A foi vendido para duas empresas, e não apenas uma, com Record e YouTube compartilhando a mesma partida, e a reconfiguração dos pacotes B1 e B2, com a Amazon comprando apenas um jogo por rodada, e não o '2,25', deixando todos os duelos restantes no outro pacote.

Segundo: a Record terá a exclusividade em TV aberta de seu jogo, o que significa que a TV Globo não pode transmitir essa mesma partida. Nem mesmo o sportv poderá concorrer no mesmo duelo da emissora de Edir Macedo. O canal já tinha garantida a concorrência do YouTube com a CazéTV, que tem potencial muito maior de dividir audiência do que um PPV como o Premiere.

Terceiro: a Record está pagando entre R$ 200 mi e R$ 220 mi por ano pelo contrato de TV aberta, de acordo com apuração da coluna. Logo, não era de se esperar uma exclusividade total nesta mídia. A Globo vai pagar R$ 850 milhões (no cenário de 12 clubes na LFU, descontando R$ 100 mi para cada time a menos, como será o caso em 2025 com 11 participantes, ou eventualmente aumentando caso o bloco no futuro chegue a 13 times na Série A).

O resumo: em toda a história dessa negociação, a Record sabia o que estava comprando e quanto estava pagando. A Globo precisava muito do pacote da LFU não apenas para "salvar" o Premiere, mas também para compor várias vezes a chamada "divisão de praças" na TV aberta, de maneira que garanta sempre um jogo para São Paulo e outro para o Rio de Janeiro nas janelas tradicionais da emissora (domingos às 16h e quartas às 21h30).

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Com a chance inédita na era dos pontos corridos de mostrar jogos em horários diferentes daqueles exibidos pela TV Globo de forma consistente, a Record tem uma chance de construir nova cultura na TV aberta, alavancar a grade aos domingos como já faz no Paulistão, principalmente na briga contra o SBT pela vice-liderança diária, e de mostrar jogos que a Globo jamais permitiu nos tempos em que sublicenciava o canal de Edir Macedo no Brasileirão entre 2002 e 2006. Se isso vai dar certo ou não, serão cenas dos próximos capítulos. Mas dizer que a Record "se deu mal" só por causa do acerto entre Globo e LFU não é possível agora.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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