Topo

Allan Simon

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

NSports comemora 5 anos com parceria COB/Casimiro e mira canal na TV paga

Guilherme Figueiredo, CEO da NSports - NSports/Divulgação
Guilherme Figueiredo, CEO da NSports Imagem: NSports/Divulgação

Colunista do UOL

28/02/2023 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

A plataforma de streaming NSports está completando cinco anos de existência com transmissões de diversos esportes e campeonatos. A empresa, fundada em fevereiro de 2018, já exibiu de graça ou por pay-per-view eventos como a Série C do Brasileirão, campeonatos estaduais, competições de basquete, futsal e muitas outras modalidades esportivas. Agora, a empresa mira um canal linear na TV paga e também viverá a parceria com Casimiro no Canal Olímpico do Brasil, fechada pelo streamer com o COB (Comitê Olímpico do Brasil).

A coluna conversou com Guilherme Figueiredo, CEO da NSports. A empresa já ostenta a marca de 1,4 milhão de cadastros em sua plataforma, e desse bolo um total de 250 mil representa quem já pagou por algum tipo de conteúdo PPV em algum momento no streaming.

"A CazéTV busca um novo público, e isso é maravilhoso para nós. Porque eles não vão conseguir transmitir, e nem é a ideia, 100% dos jogos. Vão ser momentos específicos das transmissões, e isso naturalmente vai trazer um público maior para o restante dos eventos", analisa o executivo da empresa que produz o Canal Olímpico do Brasil.

Guilherme ainda opinou sobre a possibilidade de que essa parceria busque os direitos dos Jogos Pan-Americanos, atualmente sem transmissão definida no Brasil após a rescisão do contrato que a Record tinha com a Panam Sports (antiga Odepa, entidade que organiza o evento).

"Hoje, conhecendo um pouco do ecossistema e até as conversas de bastidores de como a gente tenta trazer receitas conjuntas, eu acho que o mais provável nessa história toda vai ser uma grande composição. NSports com o COB no Canal Olímpico do Brasil, CazéTV certamente tem interesse em fazer parte da transmissão. Acho muito difícil o sportv ficar fora dos Jogos Pan-Americanos. Talvez não vá com o ímpeto que foi a edições anteriores, mas acho que dificilmente vai ficar fora. Então em blackout eu acho muito difícil ficar", disse.

Na entrevista exclusiva, o executivo falou sobre os projetos do streaming e as novas parcerias, além de analisar o momento atual do mercado de direitos de transmissão. Confira:

UOL - Como estão os projetos atualmente da NSports e como a empresa avalia esses cinco anos de existência?

Guilherme Figueiredo: Desde 2018, o nosso diferencial que nos fez chegar até aqui foi a criação do canal oficial via streaming de cada uma das instituições que a gente trabalha. Superliga de Vôlei a gente transmite no canal "Vôlei Brasil", COB (Comitê Olímpico do Brasil) tem o Canal Olímpico do Brasil, LNF (Liga Nacional de Futsal) tem a LNF TV, a gente tem os estaduais de futebol no ar, Paranaense e Catarinense no PPV e o Mineiro gratuito, porque são só os times do interior, a gente preferiu deixar com sinal aberto para testar mais a audiência e testar também um formato com publicidade. Esse ano a gente vai para a quinta temporada da LNF, vai ser a maior LNF de todas, vão ser 24 clubes e por volta de 300 jogos de futsal que serão transmitidos, mais os da confederação e futsal feminino. Temos mais uma temporada de Superliga além desta que está terminando. Uma das novidades é o canal do vôlei de praia, que a gente não fazia das transmissões da CBV e agora vamos assumir, vão ser por volta de 20 jogos por etapa transmitidos por streaming com narrador, comentarista, múltiplas câmeras também, uma transmissão bem diferente que vem compor nosso pacote de esportes de areia, a gente já tem o beach tennis com a Copa do Mundo e outros eventos.

UOL - A Série C do Brasileirão não continua em 2023?

Guilherme: A Série C não, porque está com o DAZN, que renovou o contrato. Nos anos anteriores, a gente sublicenciava o direito do DAZN, e esse ano por enquanto não acertou e acho que vai ser difícil acertar, eles estão agora com a Eleven, então não sei como eles vão fazer, mas por enquanto a gente não tem o sublicenciamento.

UOL - Você citou várias competições que são transmitidas, algumas são gratuitas e outras PPV. O quanto essas competições que são colocadas em pay-per-view conseguem atrair de assinantes, considerando que são competições que antes eram "abandonadas" pelos grupos maiores de comunicação?

Guilherme: A gente brinca que não tem uma receita "mágica" na NSports para pagar a conta toda. A gente tem quatro linhas de receitas principais: o PPV, que hoje está no Paranaense, Catarinense, Liga Futsal e Superliga de Vôlei. Tem publicidade, e aí todos os canais gratuitos e também os de PPV têm publicidade. Venda de direitos, a gente tem uma parte importante de receita que vem de venda de direitos para o exterior. E em alguns casos também os serviços de produção, as entidades nos ajudam também numa parte de produção, já que a gente oferece desde a plataforma, a produção e a forma de monetização, em alguns momentos tem a colaboração das entidades esportivas.

Respondendo mais diretamente a sua pergunta, o que a gente fez especialmente na Superliga e na Liga Futsal: para a gente conseguir viabilizar todos os jogos transmitidos, era preciso esse mix de receitas, então a gente prefere ter a maior parte dos jogos em PPV para atender aquele heavy user mesmo do esporte, e naturalmente a gente busca audiência do esporte com distribuição ampliada.

Esse ano na Liga Futsal - a liga sempre tem jogos de sexta a segunda - a gente isolou um jogo na terça-feira, e estamos chamando de "Tuesday Night Futsal", porque o conceito é muito parecido com o "Monday Night Football" (janela de transmissões da NFL às segundas-feiras) de ter um jogo isolado para ser 100% aberto, e não só a gente abrindo, mas usando influenciadores, usando canais de marcas, a gente trabalha para ter o último jogo da rodada aberto para ampliar o número de pessoas que assistem, o número de pessoas com contato com o futsal, e isso dentro da nossa missão de democratização do acesso é importante também. Isso nos ajuda com números, a trazer mais cadastros para vender mais PPV. Varia bastante, mas ao redor de 10 a 15 mil pessoas por ano pagam para ter acesso a esse conteúdo. Os estaduais um pouco mais, Liga Futsal e Superliga um pouco menos, mas sempre conseguimos manter por aí.

UOL - Vocês estão completando cinco anos e foi justamente nesse período que o mercado de direitos de transmissão passou por uma revolução. É provavelmente a maior revolução da história dos direitos de transmissão no Brasil. Como a NSports acompanhou isso, e como vocês estão vendo esse cenário fora da empresa também, com os movimentos do mercado de futebol e também de outros esportes?

Guilherme: A gente pegou isso de ponta a ponta, desde quando tinha que explicar o que era streaming. Eu nunca vou esquecer, uma vez a gente recebeu e-mail de um cara que comprou um pacote e reclamou dizendo "vocês não têm vergonha de vender uma transmissão pelo computador?". E olha onde a gente chegou. A pandemia acelerou em décadas o que iria naturalmente acontecer, a pandemia condensou em 10 meses o que iria acontecer em 10 anos. Os grandes players já vieram e voltaram, a gente passou por todo esse processo. Primeiro veio o DAZN, parecia que iria dominar tudo, depois saiu do mercado e agora está voltando para entender o que está acontecendo. Depois a gente viu a história do "YouTube e Facebook vão dominar e comprar todos os direitos, vai ser impossível comprar direitos".

Hoje o Facebook nem está na lista de possíveis compradores de direitos, e o próprio YouTube a gente já vê que vem em um formato muito diferente de compra, e não é o que se imaginava. Eles normalmente dão apoio para outros players, seja Desimpedidos, CazéTV ou a gente mesmo em alguns casos nos quais distribuímos no YouTube. E temos agora as novas plataformas, mesmo, Paramount+, Amazon Prime Video, que usam o esporte de uma forma diferente do que a gente usa. Por exemplo, para o Prime Video não faz sentido ter 100% da Liga Nacional de Futsal, não é isso que vai trazer assinatura para ela. O que faz sentido é ter 10, 20 jogos da Copa do Brasil, exclusivos, ter o Corinthians, o Flamengo, o Palmeiras exclusivos, isso é que traz assinatura para eles.

O nosso objetivo é muito claro desde o início: é ampliar o acesso e democratizar as transmissões. Tem momentos que a gente briga, tem momentos que a briga não é nossa. A gente provavelmente não vai entrar numa Série A do Campeonato Brasileiro, pelo menos por enquanto, mas estamos no BID (processo de concorrência por direitos) da Série B, por exemplo. A gente está agora no trabalho do possível lançamento de um canal linear, a gente vem maturando essa ideia e agora a gente efetivamente está começando a desenhar para o meio de 2023 ter um trabalho nesse sentido.

Parece um negócio meio antigo, a TV a cabo está perdendo assinantes, mas na verdade é um processo de públicos distintos. O que a gente aprendeu muito nesse período é que o público do streaming é totalmente distinto do público da TV paga, e complementar. Então tem muitas entidades que nos pedem para colocar o conteúdo em TV fechada. Às vezes o dono da franquia só assiste pela TV. Às vezes o público é um pouco mais velho e que reclama na rede social porque não sabe usar o streaming. Então a gente entende que dentro do processo de democratização, atingir públicos distintos faz sentido.

UOL: O que a gente ouviu muito nos últimos tempos é que a TV paga é uma mídia que cada vez mais vem perdendo clientes no Brasil. E ouvia-se muito que com a chegada do streaming, os detentores de direitos poderiam fazer mais dinheiro diretamente com as transmissões, sem deixar uma parte para as operadoras nos canais lineares. Mas, mesmo assim, ainda hoje vocês consideram financeiramente interessante chegar a esse público diferente, mesmo tendo esses intermediários no caminho?

Guilherme: Sim, quando você vê a Netflix colocando um canal na Claro, que você vai lá e consegue acessar e assinar a Netflix pela Claro... a gente esteve recentemente com um executivo da Claro e ele comentou que quando a Netflix surgiu, eles tiveram uma reunião e o tom era de "quebramos", e hoje a Claro é provavelmente um dos maiores vendedores de Netflix do Brasil. Porque a base (de assinantes) eles têm. Não só a base de TV a cabo, que naturalmente vem diminuindo, mas é uma base importante e com muito poder de compra, mas também a base mobile (celulares).

O que toda plataforma de streaming quer é base para conseguir crescer e oferecer seus serviços. Não é um movimento novo, tanto que a gente vê a Netflix na TV a cabo. É muito difícil mudar hábitos. Eu tenho 45 anos, o meu hábito ainda é chegar em casa e ligar TV a cabo. Eu assisto muito por streaming, por celular. Mas o meu Premiere está comprado na TV a cabo, e o Premiere Play eu uso quando estou fora de casa e tal.

A nossa oferta no digital não só não vai diminuir, como vai aumentar. Tendo um canal linear é impossível colocar todo o conteúdo que a gente tem, tem momentos no fim de semana que a gente tem seis ou sete eventos simultâneos acontecendo, é por isso que a gente nasceu digital. Mas o canal linear nos permite atingir um público diferente, até pela facilidade com as operadoras agora de ser um serviço mais misto de streaming com operadora.

UOL: A gente vê hoje nos fãs de futebol um incômodo com os serviços de streaming porque é preciso assinar muitas coisas para ter acesso a todos os campeonatos. Um torcedor do Palmeiras, por exemplo, se não for assinante de TV paga, ele tem que assinar HBO Max para ver o Paulista, Paramount+ e Star+ para a Libertadores toda, o Premiere dentro do Globoplay para garantir Brasileirão e a Copa do Brasil, que também tem jogos no Prime Video, e assim vai virando uma bola de neve. Mas por outro lado, esse torcedor endeusa um pouco um passado no qual quase tudo estava no pacote intermediário de TV paga, se você tivesse sportv, ESPN, Fox Sports, Esporte Interativo e BandSports, você conseguia ter não todos os jogos, porque já tinha o Premiere no PPV, mas um pouco de todos os campeonatos. Não vai mais acontecer esse tipo de TV paga que a gente via e os torcedores tanto lembram?

Guilherme: Exatamente. E digo mais: vai chegar um momento em que a gente não vai saber mais o que é TV aberta, o que é TV paga e o que é streaming. Por exemplo, boa parte dos nossos usuários acessa pelo celular a NSports. Só que o hábito de acesso é espelhar na TV o jogo. Isso é TV paga ou streaming? Porque na prática está assistindo pela TV. O YouTube é a mesma coisa. Ele vai lá pela TV e vê o jogo de graça, é TV aberta ou streaming?

Hoje talvez a gente tenha que falar mais de hardware/software, do que de TV aberta/paga/streaming, é tudo uma mistura. E sem dúvida quem se confunde com isso é o usuário. Daqui a pouco a gente vai ter a profissão de consultor esportivo para saber onde o seu time está jogando. É normal, essa fragmentação de plataformas, apesar de ampliar a oferta, atrapalha o usuário. Mas, no fim das contas, quem quer mesmo vai buscar.

O que eu acho é que a TV aberta, mesmo, Globo, SBT, RedeTV!, Band, são muito importantes, mais até do que a TV fechada, para pegar um público que não é heavy user. Isso para você ganhar base daquela modalidade, esporte ou atleta, a TV aberta é muito importante. E a gente vê isso quando a Globo mantém a mesma audiência sem o futebol e com futebol. Ali quem está perdendo, na minha opinião, é o futebol. Porque são pessoas que não foram para outro lugar assistir, seja Flamengo, Corinthians, São Paulo, eles simplesmente ficaram ali assistindo ao que a Globo está passando no momento. Então a importância na estratégia de distribuição de uma entidade de que a TV aberta serve para ampliar a base.

UOL: Voltando um pouco para a questão dos vários esportes olímpicos que a NSports transmite, agora vocês terão CazéTV em parceria com o Canal Olímpico. Muita gente já ficou empolgada com o anúncio do Casimiro, o que a gente pode esperar dessa parceria?

Guilherme: O nome NSports vem de "n" modalidades, de várias modalidades. Isso é uma coisa que nos orgulha demais, no ano passado a gente transmitiu 35 modalidades diferentes. É muita coisa. Você pode falar qualquer modalidade e a gente já transmitiu. É um trabalho que a gente vem fazendo com o COB desde 2021 e era esse o objetivo principal do Canal Olímpico do Brasil. A CazéTV vem muito na linha do que a gente fala de estratégia de distribuição. Quando eu tenho um conteúdo que é gratuito e que o nosso objetivo é democratizar as transmissões esportivas, para nós quanto mais audiência a gente tiver, melhor.

A CazéTV é uma parceira da mesma forma como o BandSports foi parceiro em algumas transmissões, o sportv foi parceiro em transmissões de ginástica, e a gente fez junto. O Canal Olímpico tem 100% dos eventos, é um repositório que você sempre vai estar lá armazenado, o heavy user do esporte não tem muita dúvida de que vai encontrar ali os eventos. A CazéTV busca um novo público, e isso é maravilhoso para nós. Porque eles não vão conseguir transmitir, e nem é a ideia, 100% dos jogos. Vão ser momentos específicos das transmissões, e isso naturalmente vai trazer um público maior para o restante dos eventos.

Então a CazéTV é um baita parceiro de distribuição em um primeiro momento. Um excelente parceiro comercial, acho que a LiveMode tem feito de uma forma incrível essa parte de comercialização dos ativos que eles têm, então é um baita parceiro comercial que a gente ganha também, e a qualidade de comunicação com o seu público que têm Casimiro, Luisinho, todo o time, naturalmente vai somar com o nosso time do Canal Olímpico do Brasil.

UOL: Não tenho como não citar a coisa que os fãs de esportes olímpicos mais perguntam que é em relação aos Jogos Pan-Americanos de Santiago-2023. É um evento que a gente se acostumou a ter transmissões. No Rio-2007 a gente teve Globo, Record e Band. Depois a Record se gabou de uma exclusividade total em Guadalajara-2011, passou a dividir com o sportv em Toronto-2015 e Lima-2019, mas rescindiu o contrato e não sabemos onde vai passar a edição deste ano. Como está isso no mercado?

Guilherme: Sem dúvida é o mais importante direito do ano nos esportes olímpicos. Eu não imagino que vá ficar em blackout (sem transmissão) no Brasil. Acho muito difícil ficar em blackout. Hoje, conhecendo um pouco do ecossistema e até as conversas de bastidores de como a gente tenta trazer receitas conjuntas, eu acho que o mais provável nessa história toda vai ser uma grande composição. NSports com o COB no Canal Olímpico do Brasil, CazéTV certamente tem interesse em fazer parte da transmissão. Acho muito difícil o sportv ficar fora dos Jogos Pan-Americanos. Talvez não vá com o ímpeto que foi a edições anteriores, mas acho que dificilmente vai ficar fora. Então em blackout eu acho muito difícil ficar. Agora o desafio é como atender aos anseios da Panam Sports sobre remuneração desses direitos. Vai ser uma questão de conversas, de quanto dinheiro tem na mesa, quanto a gente pode dividir, para que a gente possa oferecer ao usuário final o máximo de cobertura possível.

Nos Jogos Sul-Americanos de 2022, nós transmitimos 100% no Canal Olímpico do Brasil em um acordo do COB com a Odesur (entidade organizadora). E a gente chegou a ter oito sinais simultâneos, então capacidade técnica para fazer a cobertura completa dos Jogos Pan-Americanos, eu não tenho dúvida que nós conseguimos fazer no Canal Olímpico, na CazéTV e eventualmente até com o sportv, apesar de ser um formato um pouco diferente. Nos próximos meses deve se decidir, mas certamente teremos Canal Olímpico, CazéTV e sportv trabalhando juntos para que o fã brasileiro tenha a maior cobertura possível.