Richarlyson mostra quem é 'macho' de verdade no futebol
Único grande jogador do futebol brasileiro a se revelar publicamente LGBTQIA+, Richarlyson deu ontem mais uma amostra de sua grandeza.
Mas, antes, um lembrete de como chegamos até aqui.
Com o São Paulo, Richarlyson foi campeão mundial (2005) e tricampeão brasileiro (2006, 2007, 2008). Peça fundamental da equipe, foi eleito Bola de Prata em 2007 e convocado para a seleção brasileira em 2008. Em 2013, sagrou-se campeão da Libertadores pelo Galo.
Durante anos, sofreu preconceito por sua suposta orientação sexual. Em 2007, o dirigente palmeirense José Cyrillo Júnior insinuou que o atleta era gay e recebeu em troca uma queixa-crime. Na sentença em que arquivou o caso, o juiz Manoel Maximiniano Junqueira Filho afirmou que não seriam aceitos homossexuais no futebol porque isso prejudicaria o pensamento da equipe. Na sentença, declarou que futebol era "coisa de macho".
Em 2018, 99 jogadores foram homenageados na inauguração da Calçada da Fama do Morumbi. Mesmo campeão mundial e tri brasileiro, Richarlyson ficou de fora da lista elaborada sob o comando do presidente Leco. Só foi incluído em 2021, na gestão Julio Casares.
Em 2022, já comentarista do Grupo Globo, falou abertamente sobre sua vida pessoal pela primeira vez, no excelente podcast Nos Armários dos Vestiários: "A vida inteira me perguntaram se sou gay. Eu já me relacionei com homem e já me relacionei com mulher também. Só que aí eu falo hoje aqui e daqui a pouco estará estampada a notícia: 'Richarlyson é bissexual'. E o meme já vem pronto. Dirão: 'Nossa, mas jura? Eu nem imaginava'. Cara, eu sou normal, eu tenho vontades e desejos. Já namorei homem, já namorei mulher, mas e aí? Vai fazer o quê? Nada."
Sim, e daí?
Ontem, uma semana depois do post homofóbico de Vitor Roque, que gerou um dilúvio de declarações homofóbicas de gente importante do futebol, Richarlyson se apresentou na Dança dos Famosos, no Domingão do Huck. Na TV aberta, de shortinho de tigre, ele dominou o palco ao lado de Monique Santos, ao som de "Atoladinha". Rebolou, desceu até o chão, bateu cabelo, fez e aconteceu.
Ao final, beijinho no ombro e a seguinte declaração: "Quando eu resolvo falar sobre a minha sexualidade, em nenhum momento alguém dentro de casa apontou o dedo ou jogou uma pedra. Quando eu sou convidado para participar de um quadro tão importante, eu não posso entregar tudo. Eu tenho que entregar mais que tudo. Hoje eu mostrei que você pode ser quem você é, sim!"
Pode e deve. Volante campeão. Atleta de primeira linha. Comunicador. Bissexual. Dançarino. Macho o bastante para ser quem é.
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Opinião
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