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Marcos, Neymar e cia: como é difícil ter ídolos no futebol

É raro atravessar uma semana de futebol sem um episódio misógino, racista, homofóbico. Quem domina o futebol faz questão de nos lembrar quem é bem-vindo no meio e quem não é.

Episódios como a postagem homofóbica de Vitor Roque e o soco desferido por Paulo Vitor em Diego, depois de ser chamado de macaco, constituem apenas instâncias maiores, com mais publicidade. A violência é diária.

O duro nesses momentos é que poucas máscaras sobrevivem. Somos obrigadas e obrigados a nos desencantar com pessoas de quem queríamos gostar. E muito.

Post de Vitor Roque
Post de Vitor Roque Imagem: Reprodução

Nem falo de Roque ou de Diego, o racista. Estes talvez ainda possam aprender, se desculpar, melhorar.

Falo de nomes rodados e experientes como o goleiro Marcos e Neymar, e tantos outros como eles que têm o privilégio de ocupar espaço não apenas na mídia, mas no coração das pessoas. Com o privilégio, deveria vir a responsabilidade. Só que não. Eles dizem o que querem, o que pensam, vociferam suas crenças e seus ódios sem qualquer preocupação com "quem se sentiu ofendido".

O ídolo palmeirense, conhecido pela ausência de papas na língua, postou hoje em seu Instagram uma reprimenda ao jornalista Rogério Barolo, que criticou o atacante em uma mesa-redonda. "Logo vc Barolo, que vive de xingar todo mundo no seu canal, vem chamar o outro de homofóbico? Vitor Roque apagou, mas eu vou deixar aqui, vai lacrar com sua laia vai? Zoeira de futebol, fica ai rotulando o cara, se num guenta, comenta jogo de peteca." Neymar comentou, com vários emojis de gargalhada e palminhas: "Você é o melhor".

O que vem abaixo é tão vil quanto você imagina. Porta aberta para todo tipo de preconceito em forma de "zoeira".

Não importa que diversos coletivos e pessoas LGBTQIA+, além de aliados, tenham expressado sua revolta com a homofobia recreativa do post do Tigrinho (como a carta aberta publicada ontem nesta coluna).

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Nem o fato de praticamente toda a grande imprensa ter chamado o episódio daquilo que ele foi (homofóbico) os ajudou a refletir — felizmente passamos do tempo de chamar essas coisas de "polêmicas". Nada os faz parar por um momento e pensar que possam estar causando dor, inclusive a quem sempre os idolatrou. Ou que tipo de exemplo estão dando às próximas gerações. Afinal, eles poderiam continuar acreditando no que quisessem, sem postar nada e influenciar milhares, senão milhões, de seguidores. Dane-se. Falo o que quero. Não aguenta, vai comentar jogo de peteca.

Como seria bom ter heróis no futebol.

Está mais fácil acreditar em gnomos, fadas e outros seres mágicos.

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