Alicia Klein

Alicia Klein

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
ReportagemEsporte

Carta aberta do maior coletivo LGBTQIA+ do Palmeiras para Vitor Roque

Diante da postagem homofóbica (rapidamente apagada) de Vitor Roque, do Palmeiras, a coluna abriu seu espaço para o Porcoíris, maior coletivo LGBTQIA+ do Palmeiras e um dos maiores do mundo. Os integrantes do grupo enviaram esta carta aberta.

PARA VITOR HUGO ROQUE FERREIRA

Vitor, você sabe o que é preconceito, ser inferiorizado por sua cor de pele, ser visto como alguém maldito, indigno de sentimentos, de afeto e respeito. Mesmo tendo dinheiro, status, fama e moral, basta você cometer um vacilo e os dedos indicadores apontados para sua cara serão mais duros, mais raivosos. Só porque você é preto. Como muitos de nós.

Sabemos também que você não foi ensinado a compreender certas coisas, porque desde cedo teve que aprender a sustentar sua família. Como muitos de nós. Primeiro vem o dinheiro, depois vem qualquer outra coisa na vida. E não, não estamos passando pano para você só porque você é preto, não teve instrução ou qualquer coisa do tipo. Estamos sendo realistas.

O preconceito, seja machismo, homofobia ou racismo, você aprende antes mesmo de falar. Você aprende que tal brinquedo não é pra você, você aprende que precisa usar vestidinho ou falar grosso, você aprende que aquela pessoa com o tom de pele mais escura pode ser bandida e precisa tomar cuidado. Tudo isso nós aprendemos na infância, antes mesmo de completarmos uma frase.

Vitor, você não é um moleque. Você tem 20 anos, você tem capacidade cognitiva para entender o que é certo e o que é errado. Nós acreditamos nisso. E acreditamos que você entendeu o recado da diretoria do Palmeiras quando pediu para que você apagasse a última foto do carrossel que postou no Instagram. Porque você, mesmo sem imaginar, incitou violência contra muita gente. Um tigre comendo a cabeça de um veado dá moral para outros homens saírem por aí matando outras pessoas.

Se esse texto chegar em você, que entenda: você instigou, mesmo que sem querer, uma tragédia, seja esta pessoal ou coletiva. Mesmo que você tenha apagado minutos depois, a internet não é escrita a lápis. Como dizem: o print é eterno, meu parceiro.

Ninguém quer implantar uma ditadura gay no futebol. Acredite, não é nossa intenção. O nosso querer é um só: respeito. Somos iguais em muitas coisas, o que existe de diferente é a sexualidade. Só isso. É errado? Acreditamos que você também entende que não.

Ficamos felizes quando, finalmente, você foi contratado. Abraçamos você. Esperamos você se adaptar e não julgamos. E vamos te defender se você for atacado só porque é um homem preto com todas as nossas forças. Porque não suportamos nenhuma forma de preconceito. Mas também não vamos suportar vacilo. Homofobia é crime, não é frescura. O que você postou ontem pode prejudicar o Palmeiras, que um dia já sofreu preconceito. Tanto preconceito que precisou mudar de nome. Um dia nosso nome era Palestra Itália. O preconceito nos fez mudar para Palmeiras.

Continua após a publicidade

O PorcoÍris acredita que você é capaz de refletir sobre essa foto e entende que a mesma mira que hoje sequer espera um erro para manchar sua pele para sempre, é a mesma mira que sequer espera um erro para manchar a nossa para sempre também. Que você seja muito feliz no Palmeiras e nos faça feliz como nos fez ontem, das 18h até 20h quando você postou a maldita foto e azedou nossa noite. Não gostamos do SPFC, mas odiamos toda e qualquer forma de preconceito contra qualquer ser humano.

Deixamos aqui o nosso abraço. E a reflexão que você pode ser muito mais como ser humano. E te admiramos pra caramba, Tigrinho. Só não manche a honra daqueles que fazem o Palmeiras existir. Bora seguir na liderança do futebol brasileiro e na liderança do respeito. Somos capazes disso. Somos diversos. Somos Palmeiras.

Coletivo PorcoÍris.

Siga Alicia Klein no Instagram

Se inscreva no canal de Alicia Klein e Milly Lacombe no YouTube

Assine a newsletter da Alicia Klein

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.