Médica do Corinthians foi demitida por machismo?
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Quando uma mulher inserida em um ambiente quase 100% masculino perde o emprego, é inevitável especular sobre a presença de misoginia. Ela teria sido limada tão rápido se fosse homem? Acharam mais fácil cortá-la por ser mulher?
Ana Carolina Côrte, ex-chefe do departamento médico do Corinthians e também gerente de saúde do Comitê Olímpico do Brasil, foi a primeira e era a única mulher ocupando esta posição na Série A do futebol brasileiro. Presença feminina praticamente exclusiva nos bancos de reserva ou dentro de campo, ao atender algum atleta do Timão. Chamava a atenção e era, para muitas mulheres, uma referência de algo que às vezes parece impossível: chegar lá.
Bastante elogiada por atletas, ela passou sete anos no clube. Por supostos atritos e o tratamento dado a Matheuzinho — criticado publicamente por Dorival — foi demitida sumariamente.
Os rumores abundam. Não é difícil imaginar o incômodo gerado por uma mulher que se destaca no mundo do futebol masculino. Aliás, mulheres como eu não precisam imaginar. A gente sabe. A desconfiança chega sempre antes.
A questão da misoginia aqui não diz respeito ao caso específico de Côrte. É lógico que podemos ser dispensadas pela qualidade do nosso trabalho, que falhamos e que há incompetentes entre nós. Normal.
Mas quando há só uma entre centenas (ou milhares), é impossível separar a pessoa do cenário. Não questionamos se um homem branco hétero sofreu preconceito porque ele é mais um, é a classe dominante, é a maioria. Entram, saem, segue o jogo. Com mulheres, não temos esse luxo. Não importa se são boazinhas ou vilãs. São únicas, e isso muda tudo.
Não à toa comentam tanto cada passo de Leila Pereira, Dilma Rousseff ou qualquer equivalente. Ela realmente não servia para o cargo ou seu erro foi ser mulher? No caso da doutora corintiana, suspeito que muito ainda virá à tona. Mas tenho certeza que veríamos a história toda de outro modo se ela não fosse a única.
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