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As tantas violências de gênero contidas em casos como o de Caio Paulista

As informações contidas no boletim de ocorrência registrado pela ex-companheira de Caio Paulista são assustadoras. Conforme relatou a competentíssima repórter Livia Camillo, ela teria sido vítima de violência psicológica, sequestro, ameaças, murros e pontapés. No joelho, na costela, na coxa, nos pés, na cara, na boca.

Eles têm uma filha juntos, o que só pode surpreender quem não entende nada sobre violência contra a mulher.

Já falei cento e uma mil vezes sobre por que acreditar na palavra da mulher nestes casos. E não só porque, nestes casos, a palavra da vítima literalmente tem valor de prova ou mesmo porque há fotos do resultado das supostas agressões. Se ainda lhe restam dúvidas, por favor, leia minha amiga Milly Lacombe aqui.

Também não vou falar que o Palmeiras já deveria ter suspendido o atleta, enquanto seguem as investigações, como uma demonstração de que realmente não tolera a violência de gênero.

Francamente, estou exausta.

O desabafo que deixo aqui hoje diz respeito às outras mil microagressões que reverberam de casos como estes. Desde os dias de trabalho perdidos, ao apoio psicológico necessário, os traumas eternos, a desconfiança que não se esvai nunca, atingindo indiretamente todas mulheres que de alguma forma são tocadas por essas histórias. Ou que precisam contá-las.

Ou vocês acham que as jornalistas, advogadas, delegadas, psicólogas e demais profissionais envolvidas nestas pautas passam incólumes por elas? Que não revivem suas próprias desgraças nem são obrigadas a ouvir gracinhas, babaquices, suspeitas de gente que, apesar de todas as evidências, ainda não acredita em palavra de mulher, especialmente quando tem homem conhecido e rico no meio?

O caso Silvio Almeida foi emblemático. Perdi a conta de quantas conhecidas me disseram ter passado os dias subsequentes como eu: em uma tristeza e desespero profundos, querendo puxar a cordinha para descer. Pensando que não temos para onde correr. Que ainda vivem duvidando de nós. No que precisamos fazer para que essas atrocidades finalmente cessem.

Continuo sem resposta e sem esperança. Até porque não param de surgir no noticiário Anielles, Anas Claras, Gisèles, Rebeccas. Não param de nos lembrar que, mesmo quando não é conosco, é sempre conosco. Há sempre uma dor a sentir e uma conta a pagar.

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Como nos recordam todos os dias, nenhum ato de violência se encerra nele mesmo.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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