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Abel deve satisfações e desculpas a muito mais do que três mulheres

Como até as pedras já sabem, Abel Ferreira foi grosseiro e machista com a repórter Alinne Fanelli, ontem, depois da goleada sobre o Cuiabá.

Goleada. Estêvão voando. Pergunta sobre a lesão de Mayke. Nada para dar errado. Mas deu.

Em uma resposta tão insólita quanto infeliz, o treinador disse que só devia satisfação à sua mãe, esposa e à Leila Pereira. Ao longo da fala, pareceu perceber a besteira que havia dito e tentar consertar para dar a entender que se referia a pessoas em geral. Ficou péssimo. A jornalista ainda perguntou se ele havia falado com Estêvão depois da primeira convocação para a Seleção e Abel de novo retorquiu de maneira ríspida, fazendo alusão a cobranças sobre seu sucesso.

A coluna apurou que foram justamente essas cobranças que deixaram o português de cabeça quente, mesmo após uma atuação irretocável da equipe, em Campinas. Parte da torcida gritou na arquibancada que o Brasileirão é obrigação. Dá para imaginar o que o técnico pensa desse tipo de coisa.

Seria razoável imaginar também que ele não aproveitasse para descontar seu dissabor por meio de uma fala completamente machista sobre mulheres para uma mulher. E aí está o que Abel talvez não tenha entendido ainda, passadas algumas horas do incidente.

É ótimo que ele tenha ligado para a Alinne a fim de se desculpar diretamente. Mas não é suficiente. É importante que ele tenha soltado uma nota oficial dizendo que foi infeliz na resposta (que chamou de "mal-entendido"). Mas não é suficiente. Assim como não é suficiente para fugir da pecha de machista dizer que respeita sua mãe, sua esposa e sua chefe. Ou ter filhas ou ser simpático com algumas mulheres. Respeitar mulheres passa por respeitar todas as mulheres, o tempo todo, em todos os ambientes.

E é por isso que Abel Ferreira deve satisfação a todas nós. Deve desculpas decentes, sem poréns ou "a quem se sentiu ofendida". Deve aprender com o incidente para não repeti-lo e nos ajudar a combater episódios semelhantes — garanto que nossa vida no futebol já é dura o bastante sem esse tipo de patada. Deve nos dar as mãos em vez de lavar as mãos de sua responsabilidade.

Isso, claro, se este assunto for verdadeiramente importante para ele. E não só quando disser respeito às suas familiares ou à mulher que paga o seu salário.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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