Alicia Klein

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No que fãs de Taylor Swift se parecem com os de futebol

Sou tão "swiftie" quanto sou Dinizista, então me peguei chocada com as condições a que fãs estavam se submetendo para ver a cantora no Rio.

Claro, ninguém sabia que estaríamos no inferno em meados de novembro, suportando sensação térmica de 50 ou até 60 graus. Ninguém sabia que a distribuição dos kits VIPs e a gestão da organizadora do evento seriam tão ruins — embora esse tipo de coisa não exatamente surpreenda por aqui. Ninguém sabia que uma jovem iria morrer por causa do calor.

Mas aconteceu. Uma mulher morreu. Morreu. Dentro do Nilton Santos, no show da Taylor Swift. E isso não bastou para cancelar na mesma hora o show do dia seguinte, quando já se tinha a previsão de 42 graus à sombra.

Os fãs só souberam que não haveria show às 17h45 do sábado, já lá dentro, já sujeitados a muitas horas de um sol escaldante.

Saíram cabisbaixos, revoltados, confusos e, como ocorrera na primeira noite, foram confrontados com mais uma dura realidade carioca: o arrastão. A polícia não sabia do risco? Não aprendera com a saída do show do RBD, no mesmo lugar?

Mais tarde, um fã que passeava na cidade foi assaltado e morto em Copacabana.

Tudo bem. Hoje tem mais.

Não importam as mortes, não importam os 40 graus, não importa a água a 12 reais, não importa a falta de consideração de Taylor, não importam os carros da comitiva apreendidos, não importam as fraldas geriátricas para não precisar sair do gargarejo. Segue o jogo.

Absurdo!, bradei.

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Aí me lembrei de quantas vezes passei infinitas horas em fila para comprar ingresso. Tomando chuva. Negociando com cambista. Sentindo o mijo de alguém escorrer pelo último degrau do Parque Antarctica, fazendo xixi em condições insalubres, ficando sem beber água para não precisar fazer xixi, usando calça no verão para tentar ser menos assediada, sendo assediada mesmo assim. Vendo gente morrer pela televisão, correndo de polícia montada, tomando gás lacrimogêneo na fuça, passando frio e calor, andando quilômetros até conseguir subir num ônibus e voltar para casa de madrugada. E indo mesmo assim.

Não era pela Taylor. Era por um monte de cara correndo atrás de uma bola. Às vezes, um monte de cara ruim, sem pirotecnia, com coreografias bem mal ensaiadas, em palcos medíocres.

É simplesmente estarrecedor observar o tipo de coisas a que nos submetemos pelo fanatismo. Absolutamente irrazoável. Irracional e estúpido mesmo. Por um monte de gente que nem sabe que você existe. Ganhando zilhões enquanto você se desdobra para encaixar a paixão maluca no orçamento. Que vai embora de limusine enquanto você se vira para achar um busão.

O que fazer a respeito? Melhorar o que dá para melhorar: liberar água e comida (o mínimo!), limpar banheiros, cobrar os organizadores, prevenir todo tipo de assédio e acertar o policiamento.

E o fãs? Sejam de Taylor ou Tiquinho, pesa-me dizer que para esses provavelmente não há cura. Vão continuar se esgoelando e chorando e rindo e amando e gastando o que não têm, por motivos que desafiam a lógica.

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Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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