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Alicia Klein

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Por que Abel incomoda tanto e o efeito positivo da onda de recalque

Abel Ferreira, técnico do Palmeiras, observa jogadores durante jogo contra o Atlético-MG - Marcello Zambrana/AGIF
Abel Ferreira, técnico do Palmeiras, observa jogadores durante jogo contra o Atlético-MG Imagem: Marcello Zambrana/AGIF

17/08/2022 13h20

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A onda recente de recalque que tenta atingir Abel Ferreira acabou por produzir um efeito inesperado. Ao menos, por mim.

Os comentários são tão ricos em mágoa e pobres em argumentos, que fizeram até quem não costumava defender o português dedicar espaço a falar bem dele.

O óbvio vai finalmente furando a bolha, mostrando a quem não acompanha ou não tem muita simpatia pelo Palmeiras aquilo que a torcida alviverde já sabe há muito tempo: Abel incomoda porque é gigante.

Incomoda porque ganha muito. Incomoda porque raramente perde. Incomoda porque tem o vestiário na mão. Incomoda porque é elogiado pelos jogadores. Incomoda porque é amado pela torcida. Incomoda porque fala verdades com propriedade. Incomoda porque levou menos de dois anos para marcar seu nome na história do futebol brasileiro. Incomoda porque era um zé-ninguém. Incomoda porque tem só 43 anos. Incomoda porque conseguiu dentro e fora de campo aquilo que praticamente nenhum outro treinador alcançou em tempos recentes: sucesso longevo e sustentável.

Abel Ferreira é campeão com amor. E isso é difícil de engolir, afinal é natural ter inveja de quem é melhor que você. A diferença entre os grandes e os pequenos, porém, não está em se livrar de um sentimento humano.

Está, sim, na capacidade de aprender, de buscar aprimorar-se, de enxergar no outro o que lhe falta e absorver lições. Aliás, foi uma lição dessas que se tornou o estopim da chuva de rancor.

"O Cuca é um treinador experiente, com vários títulos no currículo. Quando ele assistir ao jogo, vai entender que tinha muitos jogadores por fora do nosso bloco, e você tem que colocar gente por dentro para atacar a nossa linha."

Talvez ele pudesse ter começado a aula com um "na minha opinião, ele vai entender". Mas não há qualquer desrespeito na essência do que ele disse.

Assim como não há qualquer essência nos comentários de Jorginho e Cuca, que o criticaram por não ficar em campo para a disputa de pênaltis que colocou o Palmeiras na semifinal.

O treinador do Atlético-GO parece dedicar muito de sua energia ao português. "Quando as pessoas (técnicos) vencem, as pessoas esquecem. Se um treinador brasileiro fosse para dentro do vestiário escutar música na hora do pênalti, ele seria chamado de covarde. Mas porque ganhou, nada acontece. Está tudo certo."

Sério, Jorginho? Sério que você vai se utilizar da nacionalidade e das superstições do colega para exalar sua animosidade? Sério que você não entende o tamanho da diferença que há entre ganhar e perder?

Sim, Abel seria mais criticado sem títulos. Sim, Weverton saiu por cima apesar de cair seis vezes para o mesmo lado. Sim, Danilo e Scarpa talvez acabassem execrados pelas expulsões se o Palmeiras tivesse sido eliminado. Mas não foi. E isso faz, sim, uma enorme diferença.

Quem é do futebol conhece bem o abismo que separa a vitória da derrota. E deveria respeitar um cara que nunca faltou ao respeito com os colegas, a equipe, os funcionários do clube, a instituição que representa. Que construiu um nome na terra do futebol fazendo um trabalho duro e bem-sucedido, que já não dá para ignorar ou tentar atribuir aos astros, à sorte, ao chaveamento.

É óbvio que Abel tem defeitos, mas faria bem a muita gente se ocupar mais das suas qualidades, para não perder a oportunidade de absorver tudo que ele tem a ensinar.

Ou pode ficar no veneninho mesmo e seguir pequeno. Cada um com seu cada qual.