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Alicia Klein

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Palmeiras é bom até quando é ruim

Danilo comemora gol de empate do Palmeiras contra o Atlético-MG, pela Libertadores - Alessandra Torres/AGIF
Danilo comemora gol de empate do Palmeiras contra o Atlético-MG, pela Libertadores Imagem: Alessandra Torres/AGIF

04/08/2022 13h03

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O Palmeiras fez uma coisa rara ontem. Entrou em campo para uma partida decisiva sem o foco tradicional. Desligado e perdido, foi dominado pelo Galo no primeiro tempo. Apesar de conseguir marcar um gol com Piquerez, bem anulado por impedimento, sofreu enorme pressão do time da casa.

O finalzinho do primeiro tempo e o início do segundo prenunciavam uma noite de terror para os palestrinos. Um pênalti besta de Marcos Rocha, em péssimo dia, e um gol contra de Murilo: ducha de água fria nos planos de seguir dominando a América. Pronto, o sonho acabou.

Os cinco minutos seguintes aos 2 a 0 indicavam mais uma goleada alvinegra do que qualquer possibilidade de reação alviverde. Mas Abel Ferreira - e até João Martins - seguia calmo à beira do gramado. Cheguei a pensar: ele sabe de alguma coisa que os palmeirenses não sabem?

Ele sabe. Sabe que ajudou a formar um time chato, encardido, carne de pescoço.

Para se manter na ponta do continente, como escrevi na coluna de ontem, um time precisa ser, acima de tudo, cascudo. O Palmeiras consegue resultados mesmo quando não joga bem, segura a onda sob pressão e a devolve para o adversário. Por isso não perde como visitante há mais de dois anos. Por isso é o atual bicampeão da Libertadores.

Chego a pensar que essa capacidade de resistir quando vai mal é até mais importante do que a de conseguir sempre jogar bem. Porque ninguém consegue. Pode ter o treino que for, a preleção que for, o esquema tático que for: tem dia que é de noite. Que os melhores atletas parecem esquecer o que conhecem de bola. Que o adversário se arma perfeitamente, encaixotando a equipe. Que o craque perde um gol feito.

Com o emocional e o físico em dia, porém, dificilmente a equipe cascuda será atropelada. Pode perder, pode empatar, pode ir mal, mas dificilmente voltará para casa com um resultado irreversível.

Foi assim em 2021, contra o mesmo Atlético-MG. Tinha-se a impressão de que, se piscasse, o Palmeiras seria amassado. Não piscou e contou até com a sorte de um pênalti perdido para avançar e sagrar-se campeão sobre o Flamengo.

Neste 2022, o Palmeiras piscou, mas acordou exatamente a tempo de reverter o pesadelo e seguir para o Allianz Parque precisando de uma vitória simples.

Em tempo, como critico com frequência a arbitragem por aqui, preciso dizer que a de ontem, argentina, deu um banho na brasileira. Errou, como é inevitável. Permitiu até que o Galo abusasse de uma estratégia faltosa para parar o adversário (foram 23 faltas a 9). Ainda assim, mostrou-se segura, coerente e não deixou os jogadores tomarem conta. Logrou não se tornar protagonista do espetáculo, o que hoje em dia já é lucro.

Apesar do domínio inicial do Atlético-MG, a protagonista da noite no Mineirão foi a cabeça fria alviverde. E é ela, mais até do que a qualidade técnica da equipe, que pode manter acesa a esperança da torcida pelo tetra da América.