Topo

Alicia Klein

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Depois de Cuca: como os homens podem ajudar

Cuca retornou ao Atlético-MG após sete meses  - GettyImages
Cuca retornou ao Atlético-MG após sete meses Imagem: GettyImages

27/07/2022 18h28

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Passei uma noite desta semana — a semana de Cuca, a semana depois de tantas histórias tenebrosas — na casa de uma grande jornalista esportiva brasileira, ao lado de outras grandes profissionais da mídia esportiva brasileira. Mulher que em frente e atrás das câmeras ajudam a contar histórias que adoramos consumir.

Acontece que, para contar essas histórias, passamos por inúmeras situações que não deveríamos passar. Ganhamos menos do que poderíamos ganhar. Toleramos coisas que não deveríamos tolerar.

Sempre sob a pressão de precisar admitir que hoje é tudo muito melhor do que já foi um dia. Pelo menos há mais mulheres. O assédio diminuiu. Algumas chegaram a posições de chefia.

Fato. Mas qualquer evolução basta? O seu time era o lanterna. Agora, ele ocupa a 18ª posição. Duas casas acima, ainda no Z-4. Te basta? Pode parar de brigar porque melhorou?

Não.

Se tem uma coisa que o esporte nos ensina é o poder do coletivo. A união faz a força. Todos somos um.

O erro no caso da luta por equidade me parece ser o fato de tanta gente achar que essa luta é só nossa, das mulheres. Ain, se pelo menos vocês fossem mais unidas, menos competitivas.

Mano do céu, nós somos unidas para caramba. Se chegamos vivas onde chegamos, se atingimos qualquer sucesso com alguma sanidade, foi dando as mãos umas às outras.

Sabe o que falta? Os homens. Os caras que concordam com a gente, que sabem que têm amigos abusadores, que não gostam das piadas cretinas, que também ficam desconfortáveis com situações machistas, que não compactuam, Mas compactuam na medida em que permanecem calados.

É difícil comprar brigas. Sinceramente, na maioria dos dias, eu preferiria vender as minhas. Só que evitar o machismo, o racismo, a LGBTfobia é um luxo que só o homem branco hétero tem.

O que ele/você também tem é um enorme poder nessa luta, uma voz que ainda encontra plataformas maiores do que a nossa, canetas mais decisivas, influência maior sobre os pares.

Enquanto assédio, estupro, violências grandes e supostamente pequenas ficarem parecendo coisa de mina chata que não vira o disco, não avançaremos o suficiente para estarmos seguras.

Depois dos meus comentários sobre Cuca, diversos homens me perguntaram o que eu achava que eles poderiam fazer para ajudar? Só isso já me enche o coração de esperança. Pois bem.

Engrossem o nosso coro. Cobrem dos amigos. Não deixem passar comentários idiotas. Estejam atentos ao incômodo das mulheres. Envolvam-se. Botem a mão na massa. Arrisquem-se.

Um mundo menos hostil para nós será um mundo melhor para todo mundo.

No que tange à cobertura esportiva, acreditem em quem está vendo a revolução de dentro: um jornalismo com mais Renatas e Karines, Anas e Millys, Robertas e Bárbaras, Rafaelles e Camilas, Amaras e Lulus, Fernandas e Gabis, Domitilas e tantas outras será um jornalismo melhor. Mais rico, mais divertido, mais saudável.

Vocês vêm com a gente?