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Alicia Klein

OPINIÃO

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CBF tenta mudar, mas problema central da arbitragem permanece

Apresentação da nova equipe de arbitragem da CBF - Igor Siqueira/UOL
Apresentação da nova equipe de arbitragem da CBF Imagem: Igor Siqueira/UOL

22/06/2022 15h59

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A CBF anunciou hoje a nova formação da sua Comissão de Arbitragem. A principal diferença? A presença de profissionais que deixaram os campos há pouco tempo. O mesmo pessoal amador, de uma arbitragem historicamente ruim, só que mais novos.

Agora há também um gerente técnico de VAR. Será Péricles Bassols, que em 2020 deixou a posição como comentarista do Esporte Interativo para voltar à arbitragem, justamente como árbitro de vídeo, empolgado pela possibilidade de integrar o quadro internacional da FIFA, que permite a presença de profissionais com até 55 anos na função.

Wilson Seneme, o presidente da Comissão, e Bassols também anunciaram hoje a formação da linha de impedimento do VAR ao vivo, na televisão. Pensei: interessante, pode desencorajar algumas decisões erradas. Mas não, o objetivo não é esse.

"A gente entende que quando as pessoas que acompanham a transmissão virem a construção da linha, elas vão entender o final dela. Foi assistindo aos jogos da Premier League que vi isso. Facilita muito a vida de quem está assistindo. A partir da próxima rodada, estará disponível para a transmissão oficial", contou Seneme.

Ah, o problema não é a arbitragem. O problema é a gente, que não entende o que eles fazem lá na cabine.

Para ser justa, Seneme reconhece a necessidade de melhora, ao mesmo tempo em que tenta não ser responsabilizado por um problema que não vem de hoje.

"Como a gente não vai admitir que a gente não tem que melhorar o VAR?… Uma das questões são a checagem que não tem potencial e o jogo não recomeça. Isso tira o jogador do foco do jogo. Ele passa a ter o foco na arbitragem, quando não é necessário." Ele explicou ainda que a CBF deve agilizar a publicação dos áudios do VAR, que seriam lentas por conta de falta de pessoal.

"A gente sabe que o futebol urge de mudanças e que o futebol não para. A gente chegou aqui na sexta e no sábado começava o Brasileirão da Série A. Não estou me eximindo de responsabilidade de erros de arbitragem. Os erros do fim de semana anterior são meus. Mas não refletem o meu trabalho. Essa é a realidade."

Vejo avanços e boa vontade, mas não vejo o entendimento do cerne da questão. Colocar mais gente amadora, com um pouco mais de treinamento, com uma comunicação melhorada, continua dando enorme margem para erros. Que, aliás, não me pareceram ser totalmente admitidos por Seneme nessas declarações.

Claro, há um problema de comunicação, de comportamento dos jogadores, dos técnicos e das torcidas. Qual a melhor maneira de resolvê-los? Errando menos. E como errar menos? Criando a profissão bem remunerada de árbitro/árbitra, treinando incessantemente e aprendendo com os lugares onde a arbitragem funciona infinitamente melhor.

Ah, e pelo amor da deusa, inserir um pouco mais de diversidade nessa Comissão. Entre os 18 integrantes, há apenas quatro mulheres: a responsável pela arbitragem feminina (ufa), a coordenadora administrativa do futsal e duas analistas administrativas. É 2022, gente. Não dá mais.

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