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Alicia Klein

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Palmeiras 2022: do sempre desconfie ao nunca duvide

Murilo, jogador do Palmeiras, comemora seu gol contra o São Paulo - Marcello Zambrana/AGIF
Murilo, jogador do Palmeiras, comemora seu gol contra o São Paulo Imagem: Marcello Zambrana/AGIF

21/06/2022 16h37

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O que mais me chama a atenção neste Palmeiras é a aparente confiança inabalável na vitória. Ao menos, na possibilidade da vitória. Uma coisa que vem de dentro do campo, nunca de fora, com uma das torcidas mais ressabiadas do planeta (que sempre pensa: o time é bom, mas vai perder porque começou perdendo e porque já passou da hora de as coisas começarem a dar errado).

Torcedoras e torcedores escaldados, mais recentemente com o Palmeiras de 2018-2019, avistam uma derrota como uma derrota. Na melhor das hipóteses, como no caso de um gol aos 45 minutos do segundo tempo, como um empate com sabor de vitória. Raramente, vislumbram uma virada.

O time de Abel Ferreira enxerga a luta infinita. O "só acaba quando termina". Faca nos dentes do início ao fim.

Não seria raro - e muito menos repreensível - contentar-se com o 1 a 1 arrancado no limite do tempo regulamentar. Empate com sabor de vitória. Segura todo mundo lá atrás e celebra a manutenção da invencibilidade, agora de 19 jogos, a importância de não perder para um rival em uma semana difícil, a liderança do campeonato com um ponto de vantagem.

Mas a sensação que eu tenho é de que nada disso importa para a equipa técnica de Abel. Só importa lutar até o final. Tabus que se lasquem.

O gol de Murilo, aos 50 minutos da etapa final, saiu depois de uma sequência de três escanteios. Uma pressão absurda. Quando o empate já teria sido bom. Quando até a torcida já estava feliz com o um ponto resgatado no apagar das luzes.

A questão neste Palmeiras de 2021-2022 é que as luzes não se apagam. O time oscila, mas volta. Perde jogadores, mas compensa. Joga mal, mas vence.

A equipe ficou sem Gustavo Gómez e também sem tomar gols. Quando ele voltou, foi para fazer gols. Raphael Veiga saiu e não fez falta. Marcos Rocha também. Zé Rafael fez falta ontem, mas só no primeiro tempo. Dá-se um jeito de algum jeito.

A efusividade nas comemorações mostra o quanto o "todos somos um" e o "contra tudo e contra todos" pegaram. Independentemente do que se fale nas entrevistas, a reação dos jogadores diz tudo.

É da natureza da torcida palmeirense desacreditar. Acreditar que uma "Parmerada" está sempre à espreita, que se tudo vai muito bem é porque deve acabar a qualquer momento. Espero, sinceramente, que esta fase não seja apenas uma memória, o momento que deveria ter sido aproveitado, mas não foi compreendido enquanto acontecia.

A Parmerada de 2022 é estar perdendo e marcar 4 gols em 7 minutos. Ou dois nos acréscimos, para virar em cima de um grande rival, na casa dele. A Parmerada de 2022 é a virada.

Não são só os títulos - e eles são muitos. A Era Abel Ferreira pode deixar no Palmeiras o legado da confiança, do acreditar até o final, da fé inabalável no time da virada. A jornada do "sempre desconfie" para o "nunca duvide". Seria inédito. E inestimável.

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