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Alicia Klein

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Abuso e assédio sexual tolerados no topo da arbitragem sul-americana

O árbitro colombiano Oscar Ruiz em jogo da Copa Sul-Americana de 2010 - AFP PHOTO/Alejandro Pagni
O árbitro colombiano Oscar Ruiz em jogo da Copa Sul-Americana de 2010 Imagem: AFP PHOTO/Alejandro Pagni

09/05/2022 13h06

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Segundo o respeitado jornal inglês The Guardian, o comitê de ética da FIFA está investigando seríssimas acusações de abuso e assédio sexual por parte de gente muito conhecida na arbitragem da Conmebol.

O colombiano Óscar Ruiz apitou nas Copas do Mundo de 2002, 2006 e 2010, e atua desde 2011 como instrutor de arbitragem da FIFA. É um nome certamente familiar para quem acompanhou a Libertadores no início do século. Ele dirigiu 56 partidas da competição e 106 partidas internacionais no continente. Em 2010, foi eleito o terceiro melhor árbitro da década anterior, ao lado de Pierluigi Colina.

São 11 vítimas envolvidas no processo e mais de 30 testemunhas. Ruiz, que nega as acusações, já fora investigado por estupro de um menor e assédio a três colegas. Agora, o caso deve ser reaberto.

Além de Ruiz, Imer Machado, chefe da comissão de arbitragem da Federação Colombiana de Futebol, também enfrenta alegações de abuso e assédio sexual por parte de 14 vítimas e testemunhas.

"Ruiz tocou no meu pênis durante uma pré-temporada", conta o árbitro Harold Perilla. "Me pediu para transar com ele. Era o jeito de eu ser promovido. Machado também tocou no meu pênis e até nos meus testículos na frente de outras pessoas. Por isso eu registrei a denúncia, porque é o mesmo método. Na Colômbia, infelizmente, a maioria precisa dar sexo em troca de se tornar um árbitro internacional."

As acusações dão conta de que Ruiz teria feito sexo com um garoto de 13 anos!

O que mais me impressiona quando casos como este vêm à tona é a eficácia da rede de acobertamento, o quanto um homem com poder é capaz de fazer impunemente, os crimes que lhe são permitidos, em troca do quê? Continuidade? Evitar a fadiga?

Trinta são as testemunhas dispostas a falar. Imaginemos então quantas pessoas sabiam, quantos foram os que se calaram e deixaram que um homem capaz de abusar de um garoto seguisse treinando (ensinando!) outros profissionais, seguisse uma figura de destaque, digno de respeito e recompensas financeiras.

É aviltante. Que ao menos agora, antes tarde do que nunca, a investigação possa eliminar estes abusadores e jogar luz sobre tantos outros casos que continuam acontecendo todos os dias, fazendo milhares de vítimas mundo afora, sejam homens, mulheres ou crianças. O futebol não pode mais dar guarida a criminosos.