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Alicia Klein

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Milionária, Copa do Brasil pode ser a grande perdedora do calendário maluco

Jogador do Altos-PI faz gol de bicicleta sobre o Flamengo na Copa do Brasil - Reprodução/Amazon Prime Video
Jogador do Altos-PI faz gol de bicicleta sobre o Flamengo na Copa do Brasil Imagem: Reprodução/Amazon Prime Video

02/05/2022 11h34

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Olhando os resultados dos jogos de ida da terceira fase da Copa do Brasil, uma coisa fica clara: quase não teve moleza. Nem mesmo para os maiores, aqueles que disputam a Libertadores e só chegaram agora à competição.

Boa parte dos grandes tomou calor. No Maracanã, o Fluminense ganhou de 3 a 2 do Vila Nova, depois de sair perdendo por 2 a 0. O São Paulo empatou com o Juventude. O Santos perdeu do Coritiba. O Corinthians empatou com a Portuguesa-RJ.

Não houve nenhum placar com mais de três gols de diferença, o que é notável se considerarmos que os gigantes do país enfrentam clubes de série D para baixo.

Os mais elásticos foram: CSA 0 x 3 América-MG, Fortaleza 3 x 0 Vitória, Tocantinópolis 2 x 5 Athletico-PR, Ceilândia 0 x 3 Botafogo, Atlético-MG 3 x 0 Brasiliense. Nem o atual campeão brasileiro conseguiu massacrar um time de série D.

E os outros dois mega poderosos, Palmeiras e Flamengo, precisaram suar para vencer os seus jogos. Saíram perdendo, respectivamente, de Juazeirense-BA e Altos-PI (algoz do Vasco na segunda fase). Viraram para 2 a 1.

Ah, mas botaram os reservas. Ah, mas o gramado.

O alviverde entrou com um mistão e terminou o segundo tempo com a maioria dos titulares em campo. Já o rubro-negro poupou quase todo mundo, mas ainda tinha atletas da qualidade de David Luiz, Diego, Pedro, Bruno Henrique.

Sem poder atuar no Allianz Parque, o Palmeiras mandou seu jogo na Arena Barueri, que não é das piores. Já o Flamengo pagou para dar um jeito no gramado do estádio Albertão, no Piauí. Não eram os tapetes do futebol europeu, mas também não eram pastos.

Teoricamente, nada justifica os elencos mais caros do país tomarem sufoco de times de quarta divisão. Nem com suas versões "alternativas".

Na prática do futebol, porém, a teoria é outra. A beleza das copas nacionais no mundo todo é justamente constituírem terreno fértil para zebras. É o charme de Davi versus Golias. Uma equipe que chega meio distraída e uma que entra para a batalha da vida.

No Brasil, especialmente nos últimos dois anos, há um fator adicional de contribuição aos azarões: o calendário. Ainda que a Copa daqui ofereça premiações milionárias (3 milhões de reais aos que avançarem da terceira fase, por exemplo), não há como priorizar três campeonatos simultâneos, com compromissos a cada três dias e viagens longas.

Os gigantes com chance na Libertadores vão acabar investindo por lá, com um olho no Campeonato Brasileiro e sua enormidade de vagas para a Libertadores do ano que vem, enquanto a Copa só oferece uma, ao campeão.

O maior campeão do Brasil este ano será, provavelmente, o melhor gestor de minutagem. Quem souber escolher melhor a hora de economizar talentos e a hora de gastá-los. Nesta matemática maluca causada pelo calendário massacrante, a Copa do Brasil pode acabar sendo a grande perdedora - e os clubes menores os grandes vencedores.