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Alicia Klein

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Você sabe a Seleção de 82 de cabeça, mas acha LGBTQIA+ uma sigla complicada

26/03/2021 14h12

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Comi bola ontem no dia nacional do orgulho LGBTQIA+ por motivos de muito ocupada e privilégio de pessoa hétero que não sente na carne o preconceito todos os dias.

A imagem que ilustra esta coluna, um levantamento do pessoal de O Contra Ataque, dá bem a ideia do atraso do futebol nesta questão. Notem que não estamos falando de clubes com ações efetivas de combate à LGBTfobia, com atletas assumidamente homossexuais, campanhas nacionais pela causa. Estamos falando de tuítes, que é ao que a maioria dos clubes se limita neste assunto.

A gravidade da discriminação para mim é exemplificada por um fato simples: de quantos jogadores de futebol abertamente gays você consegue se lembrar? Pois é. Seria ingenuidade - ou imbecilidade - achar que o futebol é impermeável a homens que gostam de homens, que eles não têm talento ou não conseguem chegar lá.

É óbvio que se trata de ambiente extremamente hostil, mas a ausência de nomes conhecidos não quer dizer que eles não ocupem este lugar. Mas que o medo de retaliação talvez seja maior que a dor de viver escondido.

Será que é também o medo de retaliação que torna tão modestas as iniciativas dos clubes, ou será o enorme preconceito embrenhado nestas instituições, recheadas de gente que ainda acha de boa xingar adversário de viado?

As postagens dos clubes em dias emblemáticos são pouco, porém representam um avanço. Cada mensagem pública de apoio é um passo na direção certa. Cada torcedora e torcedor precisa fazer sua parte junto, mostrando que quem não tem espaço é gente ignorante e intolerante. Que a vergonha é ver estas pessoas vestindo a camisa do time, não uma pessoa trans ou não-binária.

Uma amiga lésbica me falava outro dia sobre a diferença de "aceitação" de homens e mulheres gays na comunidade da bola. Os ignorantes percebem a mulher que gosta de mulher como mais próxima da imagem de um homem do que o homem que gosta de homem. Logo, uma mulher lésbica jogar bola faz mais sentido do que um homem gay. Embora simplista, fez bastante sentido: uma vitamina reforçada de LGBTfobia com dose extra de misoginia.

Não tenho lugar de fala nesta luta, mas tenho obrigação de lutar por esta causa. Peço desculpas antecipadamente por qualquer idiotice dita por quem tem o privilégio de ser branca, hétero e de classe média em uma sociedade tão racista, homofóbica e classista.

E, para você que acha tudo isso um saco, que tem preguiça de sigla longa, que não entende por que GLS virou LGBTQIA+, digo apenas uma coisa: me poupe. Você sabe a escalação completa do seu time desde 1993, mas não consegue decorar o significado de sete letras. Mais dedicação e amor, por favor.