Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
A insistência dos estaduais: como diminuir o que já parecia pequeno
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Já faz pelo menos uns 20 anos que preciso me esforçar para acompanhar estaduais. Não sou defensora de sua extinção, na medida em que garantem a sobrevivência da vasta maioria dos clubes brasileiros, mas ficou difícil priorizá-los com a enorme oferta de conteúdo disponível hoje para a ávida consumidora de esporte e entretenimento.
Esta semana, confesso, prestar atenção em Mirassol x Corinthians, São Bento x Palmeiras, Boa Vista x Fluminense, Vasco x Macaé e mesmo Botafogo x Flamengo foi quase tortura. Não pela qualidade sofrível do futebol da maioria dos jogos, mas pelo momento em que estão acontecendo.
Campeonato Paulista em Volta Redonda, quem diria. Trezentos mil mortos, quem diria. O país com a maior estrutura para vacinação em massa do mundo sem conseguir vacinar direito, quem diria. Pessoas acreditando em remédio para piolho, em vez de estudos científicos, quem diria. Assessores presidenciais fazendo gestos de ódio em sessões oficiais, a supremacia branca viva e saudável, em plena luz do dia, quem diria. Brasileiros precisando escolher se morrem de fome ou de coronavírus, quem diria.
Olha, está difícil escolher com o que se indignar primeiro.
Não minimizo as consequências de parar o futebol de novo. Será uma dor de cabeça grande acertar o calendário e garantir os contratos já firmados. Mas, como temos sentido diariamente na carne, o mundo ideal zarpou há mais de um ano. Não estaria na hora, finalmente, de colocar as prioridades no lugar? Que tal começar com a vida das pessoas?
É tanto motivo para revolta, que o futebol parece problema pequeno, eu sei. A sensação que tenho, porém, é de que o futebol está escolhendo se apequenar ainda mais.
Por contraste, a insistência em seguir com os jogos no auge da pandemia ressalta a irrelevância dos torneios. Por que não gastar a energia de realocação das partidas em ações realmente importantes e com impacto social? Por que não se utilizar da enorme plataforma de mídia à disposição para contribuir com o combate à Covid, em vez de ajudar a espalhá-la ou mesmo nos fazer esquecê-la? Mas não. Bora para Volta Redonda.
Poderiam crescer, estão diminuindo.
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