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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Entendendo a gigantesca aposta dos Timberwolves no pivô Rudy Gobert

08/07/2022 04h00

Uma das coisas mais divertidas das redes sociais é que ele permite a diversas pessoas com interesses em comum reagirem ao mesmo tempo a eventos marcantes. E foi particularmente engraçado ver o Twitter do mundo da NBA explodir quando foi anunciada a troca de Rudy Gobert para o Minnesota Timberwolves.

Nem tanto pela troca em si, embora ela também tenha pego todo mundo de surpresa em um momento onde todos os olhos estavam voltados para a situação de Kevin Durant e o Brooklyn Nets, mas pelo GIGANTESCO retorno que os Jazz conseguiram pela sua estrela: QUATRO escolhas de primeira rodada, uma possível inversão de escolhas, Walker Kessler (escolha de primeira rodada duas semanas atrás), Leandro Bolmaro (segundanista, escolha de primeira rodada em 2020), Jarred Vanderbilt, Patrick Beverley e Malik Beasley.

Essencialmente, Minnesota enviou cinco escolhas de primeira rodada, dois outros ativos de Draft, dois titulares e o sexto homem da equipe em 2022 por um único jogador. Esse é um dos retornos mais caros da história do basquete - pelo menos em termos de escolha de Draft nós nunca vimos algo desse tamanho - e por um jogador que, ainda que muito bom e um All Star, não é uma grande estrela.

A troca, naturalmente, foi recebida com muitas polêmicas e opiniões extremas, seja a favor ou contra. Mas, antes de entrarmos no que a troca representa, é importante deixar claro que tem dois pontos que a maioria das pessoas concorda: primeiro, de que os Wolves pagaram extremamente caro para adquirir Gobert, muito acima do que o normal; e, segundo, que a troca faz dos Wolves um time melhor no curto prazo. Gostar ou não da troca não é questão de negar um dos dois aspectos, é simplesmente achar que os prós superam os contras, ou vice-versa.

A ideia por trás da troca é simples. Já fazia algum tempo que os Wolves vinham brincando com a ideia de colocar um outro jogador de garrafão junto a Karl Anthony-Towns, que pudesse fazer o papel defensivo e de proteção ao aro que Towns não consegue fazer, e Gobert encaixa nesse perfil. Os Wolves surpreenderam em 2022 com uma defesa Top10 da NBA, mas muito devido a um estilo agressivo que pegava adversários desprevinidos de forma a ocultar suas próprias limitações; não era algo sustentável ao longo do tempo, e é visível que a direção da franquia também pensava assim. Além disso, mesmo com essa boa defesa, as duas grandes fraquezas de Minnesota em 2022 foram justamente proteção de aro e os rebotes defensivos: você não precisa olhar além da derrota nos playoffs para o Memphis Grizzlies, com Ja Morant fazendo bandeja atrás de bandeja e Brandon Clarke dominando os rebotes ofensivos, para encontrar um exemplo. Gobert é um dos melhores da história do basquete nesses dois fundamentos, então não é difícil ver o que atraiu os Wolves pelo francês.

Trocar por um pivô ganhando 40 milhões por ano pode parecer estranho considerando que os Wolves já tem eles próprios um pivô All Star ganhando 35 milhões, e esse é o ponto fundamental da troca. Como já dito, Towns não tem as habilidades defensivas que você precisa para ancorar uma defesa consistentemente boa no garrafão; adquirir um outro jogador que tenha é uma forma de garantir um piso defensivo maior. E ter um segundo pivô no garrafão é possível justamente porque Towns é um monstro no ataque, com excelente arremesso de fora e habilidades de perímetro que permitem a ele acomodar Gobert. Ano passado, Vanderbilt era quase um pivô de fato, ficando no garrafão ofensivamente e sendo ignorado se jogasse longe da cesta, e nós vimos a dupla funcionar bem por causa dessas qualidades de Towns. Apesar do menor espaçamento que ter Gobert no garrafão oferece, os Wolves estão apostando que não vai ser diferente ofensivamente do que foi com Vanderbilt - ou até melhor, considerando que o francês é um finalizador muito superior - enquanto Gobert, um jogador que é quase um sistema defensivo de alto nível de um homem só, oferece ao time um piso E um teto muito maiores do que antes na defesa.

E é altamente possível que estejam certos, especialmente no que tange à temporada regular. Mas existe o outro lado da moeda: só porque Towns e Vanderbilt podiam coexistir no ataque não quer dizer que fosse a formação que tivesse os melhores resultados. De fato, os Wolves tiveram um ataque muito melhor em 2022 quando Towns era o único jogador de garrafão. Essa é a realidade da NBA hoje: as habilidades de perímetro de Towns são valiosas por poderem acomodar outro pivô, sim, mas elas são ainda mais valiosas pelo total estrago que causam em qualquer defesa que seja forçada a defender Towns sem precisar acomodar outro grandalhão, quando o dominicano é o único pivô em quadra e Minnesota pode espaçar a quadra ao máximo. Towns ainda vai fazer essa função quando Gobert estiver no banco - espere que Chris Finch separe ao máximo os minutos dos dois - mas é algo que deixa os Wolves dependentes em excesso de quem é o adversário, o que não é o ideal especialmente nos playoffs.

E embora seja impossível de quantificar o que perdem com as escolhas de Draft versus essa melhora que a chegada de Gobert traz ao time no curto prazo, a quantidade de ativos saindo pela porta - que impossibilitam a aquisição de novos jovens talentos E de realizar grandes trocas futuras - basicamente significa que os Wolves estão se prendendo em grande medida ao núcleo que tem agora.

Não é, claro, um núcleo ruim: Gobert, Towns e Anthony Edwards são um legítimo trio de jogadores nível All Star, e o time sempre vai ter espaço para pequenas contratações nas margens (eu gosto muito da chegada de Kyle Anderson). Mas é válido questionar qual é o teto exato desse time com Gobert: exceto em um salto fora da curva de Edwards, é muito difícil imaginar esse time sendo campeão. A equipe não tem tantos arremessadores ao redor dos pivôs, e mesmo suas estrelas não são hoje estrelas de primeira prateleira, caras como Giannis ou Durant que podem ganhar uma série sozinhos por serem os melhores em quadra mesmo contra os melhores times da liga.

A equipe também vai ter algumas dúvidas para responder sobre pós-temporada. Gobert é um jogador que famosamente é descrito como sendo "de temporada regular"; alguém cujo impacto consistente e sólido ao longo de 82 jogos é muito valioso, mas que quando chega na pós-temporada tende a desaparecer e ter suas falhas expostas. Equipes jogam em formações mais baixas, tirando Gobert de perto do garrafão e forçando o francês a defender em espaço, onde ele é infinitamente menos eficiente. Nós vimos Dallas, Houston e os Clippers destruindo Utah na pós-temporada com essa fórmula, espaçando cinco jogadores e obrigando Gobert a correr pela quadra como uma barata tonta para cobrir mais espaço do que seria ideal; agora os Wolves vão precisar lidar com isso E com Towns ao seu lado, um jogador muito limitado marcando no perímetro e lento nas rotações que vai ser obrigado a perseguir jogadores ainda mais rápidos agora. A chegada de Gobert aumenta imensamente o piso da equipe na temporada regular, mas os playoffs dependem demais de adaptabilidade contra diferentes estilos, e Gobert oferece exatamente o oposto disso. Muitas vezes Minnesota enfrentará adversários contra os quais suas melhores formações são com Towns de pivô; nesses casos será que o time vai ter coragem de deixar Gobert no banco em momentos críticos

Isso é longe de dizer que a troca faz dos Wolves piores - é quase ponto pacífico que a troca faz da equipe melhor - mas são pontos que ilustram as deficiências que a nova formação de equipe de Minnesota oferece, e que tendem a limitar consideravelmente o quão bom o time pode ser. Por um investimento tão gigantesco como esse - de novo, CINCO escolhas de primeira rodada! - você esperaria um movimento que colocaria a equipe entre os candidatos ao título, que elevasse consideravelmente o patamar da equipe (Bucks com Jrue Holiday, por exemplo, que custou bem menos do que Gobert), e não foi o caso. No fundo, a impressão é que pagaram demais para um retorno real, sólido, mas que não altera em muito a realidade fundamental da equipe.

Mas talvez essa troca não seja sobre isso. Minnesota - com novos donos, aliás - acabou de ir aos playoffs pela segunda vez em vinte anos; em 33 anos de existência, apenas UMA vez os Wolves passaram da primeira rodada. Construir um time que consistentemente brigue por vitórias nos playoffs, de repente beliscando uma final de conferência se as coisas derem certo em um ano específico, já é um gigantesco avanço em relação ao que Minny tem sido durante toda a sua existência - e talvez esse seja o ponto. Existe um valor cultural nesse tipo de mudança de patamar - lento, a longo prazo, difícil de perceber, mas real - que é impossível quantificar, mas que Minnesota pode estar almejando com essa troca mais do que simplesmente vitórias ou brigar por títulos nos próximos anos.

Ou talvez a diretoria dos Wolves acredite que ainda existe um próximo movimento no futuro da franquia. A troca não faz os Wolves subirem os degraus que faltam para entrar no nível dos favoritos ao título, mas faz eles subirem um degrau, e estando mais perto do topo você precisa de menos movimentos para chegar lá. Esse "próximo" passo é mais difícil sem escolhas de Draft, claro, mas a NBA é uma liga imprevisível, onde tudo muda muito rápido e chances surgem e somem em um piscar de olhos; essa variância aumenta o risco dos Wolves ao se livrar das escolhas, mas também pode ser uma chance de encontrar uma abertura que permita ao time encontrar um novo nível que hoje pareça inatingível, e que talvez fosse antes da chegada de Gobert.

Nós não temos como saber, e nem os Wolves. Essa é a definição de aposta: eles pagaram um preço muito alto pela chance e a incerteza de que algo melhor possa acontecer no futuro. Hoje, eu pessoalmente vejo como uma aposta cara demais em um retorno que não compensa. Daqui a um ano, pode ser que eu pense completamente diferente. E, de certa forma, eu admiro o ímpeto de Minnesota de colocar suas fichas no centro da mesa e, depois de 33 anos, sair do lugar-comum para buscar em um momento de glória que simplesmente não existe no seu passado.