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OPINIÃO

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Sem Devin Booker, o Phoenix Suns precisa ligar o sinal de alerta

Devin Booker, jogador do Phonix Suns, comemorou uma cesta cumprimentando um bebê durante os Playoffs da NBA - Reprodução/Twitter
Devin Booker, jogador do Phonix Suns, comemorou uma cesta cumprimentando um bebê durante os Playoffs da NBA Imagem: Reprodução/Twitter

26/04/2022 04h00

Em uma pós-temporada da NBA que se desenhava como sendo a mais aberta da história recente da liga, e na qual todos os principais candidatos ao título entravam nos playoffs com alguma questão, o Phoenix Suns era a única certeza do basquete. Sua mistura de eficiência e consistência sem paralelos na temporada dava ao time não só o maior piso de toda a NBA, como fazia de Phoenix o mais forte candidato ao título na visão de muitos.

Mas aqui estamos; com quatro jogos disputados, os Suns estão empatados em 2-2 com o New Orleans Pelicans e vindo de uma dolorosa derrota fora de casa. Quando eu escrevi a coluna de segunda sobre em que pé está cada série de playoffs, eu não quis colocar essa com as outras 2-2 na parte de "Totalmente Aberto" simplesmente porque em teoria ainda existe um desnível considerável entre as duas equipes, e apesar do empate os Suns ainda deveriam ser favoritos por uma margem razoável no papel. Meu medo era estar lendo demais em uma amostra de poucos jogos, em especial ao Jogo 4. Phoenix foi melhor o ano todo; não é exagero manter fé que vai continuar sendo por mais dois ou três jogos. E, no entanto... eu não consigo deixar de lado a sensação de que existe um perigo real aqui.

Os Pelicans estão +28 em dois jogos e meio desde que Devin Booker deixou a série com uma lesão muscular na coxa no Jogo 2, e é difícil falar dessa série sem falar da ausência de Booker - possivelmente o melhor jogador do Phoenix Suns em 2022. Mas os Pelicans também estão sem o SEU melhor jogador, Zion, e a verdade é que os Suns deveriam jogar melhor do que isso mesmo na ausência do camisa 1. Phoenix foi um excelente +4,7 em pontos por 100 posses de bola sem Booker na temporada regular, e +7,6 quando Paul estava em quadra sem ele. Phoenix foi 8-6 sem o armador na temporada regular, mas três dessas derrotas foram com times primariamente reservas nas duas últimas semanas. Phoenix sobreviveu perfeitamente bem às ausências de quaisquer jogadores ao longo do ano, graças à sua identidade, coesão e profundidade. Então mesmo que Booker - claro - faça muita falta, a expectativa era de que os Suns deveriam ser capazes de continuar no controle mesmo sem o seu All Star.

Mas os playoffs são um animal diferente. Uma das questões que alguns levantavam em relação aos Suns - uma que permeou os times de Chris Paul ao longo de toda sua carreira - era se o time não teria um altíssimo piso, mas faltasse um teto mais alto, uma marcha extra para se alcançar nos playoffs. Times de Paul são famosos por maximizarem cada posse de bola de cada jogo, uma vantagem enorme na temporada regular mas que não significa tanto nos playoffs quando todos os times fazem o mesmo, e então você precisa de mais talento bruto, variabilidade e a capacidade de elevar o nível geral em momentos de dificuldade.

Os Suns, é claro, tem um piso alto o suficiente para que isso talvez sequer importe, mas é nesse "algo a mais" que é onde Booker mais faz falta. Nos playoffs, você vai ter momentos onde toda sua movimentação de bola e jogador fica estagnada por defesas mais sofisticadas, e é nesses momentos que é importante ter alguém capaz de criar ataque individualmente contra qualquer tipo de defesa. Booker é particularmente valioso nisso: se você colocar um jogador mais baixo nele, Booker vai arremessar por cima ou jogar de costas para a cesta; coloque um jogador maior, e Booker vai atacar a partir do drible e abrir linhas de passe para o resto do time, ou se movimentar fora da bola para encontrar um bom arremesso. Sem ele, os Suns perdem por completo essa dimensão, e começam a depender em excesso de Chris Paul - ele é capaz de fazer isso em alto nível ainda, mas não por 40 minutos e por tantos jogos seguidos. Antes, quando o ataque dos Suns estagnava, eles davam a bola para Booker e deixavam ele criar; agora, essa opção saiu da mesa - e oferece aos Pelicans muito mais variedade de formações sem se preocupar em oferecer um missmatch para Booker.

Phoenix também tem um problema de falta de criadores no elenco. Se um entre Paul e Booker está fora, os Suns tem só um jogador capaz de realmente criar ataque a partir do drible ou do pick and roll, e contra defesas mais agressivas nos playoffs isso se faz sentir mais. Mikal Bridges e Cam Johnson fizeram avanços nesse sentido, mas ainda não são jogadores confiáveis para a função em alto volume. Jae Crowder é nulo. Ayton não é capaz de iniciar ataque consistentemente vindo do garrafão. A alternativa dos Suns é Cameron Payne, mas Monty Williams tem hesitado em dar mais minutos para o reserva. Isso força ou Paul a fazer tudo sozinho em altíssimo nível, como fez no Jogo 3, ou ao resto da equipe a sair demais das suas características e tentar assumir esse papel, como aconteceu no Jogo 4. A ausência de Booker também permite aos Pelicans colocar seu melhor defensor, Herb Jones, em Paul com mais liberdade - um confronto que não foi favorável aos Suns no Jogo 4.

Então sim, Devin Booker faz falta, sem dúvida, mas os problemas dos Suns não se limitam a ele. Phoenix foi a terceira melhor defesa da temporada regular inteira, mas tem sofrido demais desse lado da quadra contra um ataque que é bom, mas não espetacular. NOLA tem anotado 119 pontos por 100 posses contra os Suns, terceira pior marca dos playoffs e uma que seria a pior da temporada regular por muito. A defesa dos Suns não é lotada de grandes defensores por todos os lados, e muito do seu sucesso na temporada regular veio do coletivo impecável e ausência de erros; os Pelicans tem quebrado isso simplesmente atacando onde tem vantagem nos confrontos individuais, e os Suns não tem conseguido chegar perto de parar Brandon Ingram ou CJ McCollum, que estão pontuando adoidados e abrindo para o resto do time

Os Suns tem optado por usar seu melhor defensor, Mikal Bridges, para defender o baixinho CJ McCollum, até como uma forma de poupar Paul do esforço defensivo, enquanto usam seus alas mais longos como Jae Crowder ou Cam Johnson em Ingram. Essa estratégia, no entanto, não tem funcionado: Ingram tem passado por cima dos alas dos Suns, e Bridges não tem conseguido conter McCollum o suficiente para justificar mantê-lo longe de Ingram (Bridges tem sido o melhor defensor de BI, embora em poucas posses). Com Booker fora, eu entendo que poupar Paul do esforço defensivo se torna ainda mais fundamental, mas parte de mim questiona se os Suns não deveriam colocar Bridges em Ingram de uma vez, e viver com McCollum torturando Crowder ou algum armador menor. Phoenix não precisa parar os dois jogadores por completo; tirar um deles do jogo já neutralizaria em muito a vantagem dos Pelicans nesse momento.

Desde a lesão de Booker, os Pelicans tem dois criadores capazes de bater os adversários a partir do drible e criarem para si ou para os outros, enquanto os Suns só tem de fato um; mesmo que McCollum continue batendo outros defensores, se Bridges conseguir segurar Ingram, a série já muda de figura. Mas, por incrível que pareçaa, nesse momento são os Pelicans, e não a seed #1, que tem uma vantagem tática na série - muito por causa da ausência de Booker, sim, mas Booker não deve voltar antes de pelo menos a segunda rodada. Existe um motivo real para os Suns estarem com medo.

Mas, ainda assim, eu não consigo apostar contra os Suns. Eu vi esse time jogar o ano inteiro, e por 82 jogos eles simplesmente acharam respostas para tudo, se adaptaram a qualquer adversidade, e continuaram não só ganhando mas também dominando. Mesmo sem Booker, eles ainda são o melhor time dessa série, e a discrepância em lances livre do Jogo 4 não vai se repetir. Os rebotes ofensivos também devem normalizar. E, em algum ponto, eu ainda acho que os Suns vão fazer valer o fato de serem pura e simplesmente melhores, com ou sem Devin Booker.

Ainda assim, o perigo é real, e os Suns precisam reagir de acordo. Não vai ser o passeio no parque que parecia a princípio, e se os Suns não encararem o desafio como tal, correm risco verdadeiro de eliminação. Se os Pelicans podem fazer história, e se tornarem apenas o quinto time da história da NBA a derrubar um seed #1 sendo o #8, eu não sei. Mas ELES acreditam que podem, e essa talvez seja a parte mais perigosa de todas.