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Cinco histórias para acompanhar na temporada 2021 da NFL, que começa hoje

Tom Brady sorri durante jogo de pré-temporada do Tampa Bay Buccaneers contra o Tennessee Titans - Mike Ehrmann/Getty Images/AFP
Tom Brady sorri durante jogo de pré-temporada do Tampa Bay Buccaneers contra o Tennessee Titans Imagem: Mike Ehrmann/Getty Images/AFP

Colunista do UOL Esporte

09/09/2021 04h00

Depois de sete meses de espera, a data finalmente chegou. Quinta-feira, 9 de setembro, começa a temporada 2021 da NFL: os atuais campeões, Tampa Bay Buccaneers, enfrentarão o Dallas Cowboys, às 21h20 (de Brasília).

Para comemorar esse dia, trouxe aqui cinco histórias para se acompanhar nessa temporada, cinco narrativas para se manter um olho ao longo do ano e que pode oferecer um norte para quem está chegando agora na NFL.

1. A defesa do título

Em qualquer esporte, vencer um título é difícil o suficiente; vencer dois seguidos, então, é ainda mais. E a NFL não é exceção: no século XXI, apenas UM time —o New England Patriots de 2003 e 2004— conseguiu esse feito, e os Patriots de Tom Brady e Bill Belichick são um outlier histórico.

Alguns fatores explicam essa dificuldade. Principalmente, a NFL é uma liga com altíssimo índice de variância: a alta incidência de lesões, o número de movimentação de jogadores e uma temporada extremamente curta (e, ainda mais, playoffs disputados em jogo único) oferecem muita margem para flutuações e para o acaso interferir nos resultados, tanto positivos como negativos. Você precisa de uma boa dose de competência, consistência E sorte para vencer na NFL; e, dadas as variáveis já citadas, é difícil manter isso por anos consecutivos.

Isso também se aplica aos Buccaneers. Não há dúvida de que os Bucs foram um excelente time em 2020, e ganharam o Super Bowl com méritos. Ainda assim, também é inegável que Tampa Bay se beneficiou de fatores além do seu controle, principalmente na questão da saúde: os Bucs foram o time mais saudável de 2020 por uma margem gigantesca, com apenas 30 jogos perdidos por seus titulares —quase 20 (!!!) a menos que o segundo colocado. Do outro lado da moeda, três dos quatro adversários de playoffs dos Bucs jogaram com grandes desfalques entre os titulares. Isso não é para dizer que os Bucs são uma fraude e só venceram por lesões, mas é uma mostra dos fatores de pura sorte que contribuem discretamente para resultados, e que dificilmente se repetirão todo ano.

Ainda assim, se tem um time que parece capaz de quebrar a escrita, é esse time de Tampa Bay. Parte da dificuldade de repetir como campeão vem das mudanças no elenco, mas Bucs trouxeram de volta todos os 22 titulares do time campeão do ano passado, e são liderados pelo maior e mais consistente quarterback da história do esporte em Tom Brady —que, aos 44 anos, não está dando sinais de desacelerar. Os fatores favoráveis de 2020 não devem se repetir, mas ainda é um excelente time dos dois lados do campo, com muita experiência campeã e a mesma base do ano passado.

A história indica que Tampa não deve repetir a façanha, mas eles abrem o ano como os favoritos ao título —e merecidamente.

2. Quem pode desafiar os Chiefs na AFC?

Desde que Patrick Mahomes —amplamente considerado o melhor quarterback da atualidade— se tornou titular em Kansas City, os Chiefs têm dominado a AFC. Em três anos, foram dois títulos da conferência, um de Super Bowl, e o único ano no qual não venceram a AFC foi em 2018, quando perderam na final para os Patriots de Tom Brady —um time que, como já dissemos, é um outlier histórico e não existe mais. Com Kansas City mantendo suas principais peças e reforçando amplamente sua grande fraqueza de 2020 (a linha ofensiva) tudo aponta para uma manutenção do domínio dos Chiefs na conferência.

Entre os times que buscam quebrar a hegemonia, o mais perto no papel é o Baltimore Ravens, que venceu mais jogos que qualquer outro time da AFC nos últimos dois anos. Mas, na prática, os Ravens ainda não fizeram por merecer esse posto: foram duas eliminações precoces em playoffs, nas quais o time anotou 15 pontos no total. Isso levantou questões sobre o seu estilo ofensivo, e embora os Ravens tenham feito o possível para reforçar seu ataque aéreo, o plano não parece estar indo tão bem: o calouro Rashod Bateman deve perder boa parte da temporada lesionado, e os outros WRs principais do time (Sammy Watkins e Marquise Brown) já estão lidando com lesões na pré-temporada. Mas Lamar Jackson continua em Baltimore, a defesa tem tudo para ser assustadora mais uma vez, e merecem estar na conversa.

O outro time que aparece como candidato à AFC é o atual vice-campeão da conferência, o Buffalo Bills. Mesmo que a derrota para os Chiefs em 2020 na final de conferência tenha deixado claro que existe um desnível entre as duas equipes, os Bills têm os moldes de uma equipe em trajetória ascendente e que pode continuar a evolução dos últimos tempos. Mais especificamente, os Bills esperam que sua defesa —que terminou em 12th ano passado— volte a ser de elite, como era nos anos anteriores, enquanto o jovem QB Josh Allen mantém o gigantesco salto de qualidade que deu em 2020.

Se o primeiro parece uma aposta razoável, o segundo já é mais questionável, como sempre acontece com jogadores que têm uma mudança tão extrema e repentina —alguma regressão é esperada. Os Bills, na verdade, são um time que deve regredir de modo geral: sua campanha ano passado não foi tão dominante quanto os números finais tendem a indicar, e também foram o quarto time mais saudável da NFL, uma combinação que geralmente tende a prever uma queda no ano seguinte. Não que o time vá ser ruim, mas esperar uma repetição da campanha dominante de 2020 talvez seja otimista.

A história também nos indica que algum time inesperado vá surgir para se juntar ao que hoje parece uma briga de três times na AFC; o nome mais quente é o dos Browns, que venceram seu primeiro jogo de playoffs em 18 anos e tiveram uma das melhores offseasons da NFL. Talvez um time como os Chargers ou Titans achem um nível inesperado e se juntem à conversa. Essa é a NFL, e esperar o inesperado é sempre a melhor aposta.

Mas, no momento, a verdade é que os Chiefs ainda parecem estar um nível acima do resto da conferência.

3. A classe de QBs calouros

Já escrevi uma coluna sobre o assunto, então, não vou me repetir; está tudo lá, e pouca coisa mudou desde então: Lawrence e Wilson foram anunciados titulares, Fields deve começar no banco mas não tardar a disputar a titularidade, e Lance continua sendo parte dos planos do futuro dos 49ers enquanto oferece alguma flexibilidade presente. A única mudança significativa foi nos Patriots, onde Mac Jones foi oficializado como titular e Cam Newton, dispensado —uma decisão que pode ou não ter a ver com os aspectos de saúde indicados na coluna.

Vale ficar de olho nessa classe.

4. A pior divisão da história da NFL, um ano depois

Desde que a NFL mudou para o formato atual, nenhuma divisão foi tão ruim em um ano quanto a NFC East foi em 2020. Seu campeão, o Washington Football Team, teve campanha de apenas 7-9, e isso porque venceram um time dos Eagles na última rodada que estava mais interessado em perder que ganhar —caso contrário, o Giants teria levado a NFC East com 6-10 de campanha. Foi ruim a esse ponto.

A boa notícia é que dificilmente esse nível de ruindade se repetirá em 2021, já que todos os times devem ter alguma evolução. Dallas foi o terceiro time com mais lesões em 2020 e deve ter de volta seu QB, Dak Prescott, comandando o que promete ser um excelente ataque. Os Eagles, da mesma maneira, foram o segundo time com mais lesões em 2020 e finalmente se livraram de Carson Wentz a favor de Jalen Hurts, tendo pelo menos um plano claro pela frente. Por pura regressão, ambas devem ser melhores em 2021.

O atual campeão da divisão, Washington, também promete melhorar: ele adicionou Ryan Fitzpatrick ao que tinha sido o pior grupo de QBs de 2020, e embora Fitzmagic não seja um craque, a simples melhoria na posição mais importante do jogo já deve dar um grande salto à equipe, e sua defesa deve continuar sendo elite. Os Giants são o único time que parece mais estabilizado na mediocridade, mas mesmo sua defesa promete ser interessante o suficiente para manter as atenções vivas.

Não que a NFC East de 2021 prometa ser uma grande divisão, mas admito que estou curioso para ver como ela sai do fundo do poço.

5. O que acontece com os Saints?

Poucos times foram mais consistentes nos últimos anos do que os Saints, liderado por um dos grandes QBs da história em Drew Brees. 2021, no entanto, promete ser um ano de mudanças: não apenas Brees aposentou e os Saints terão seu primeiro quarterback diferente desde 2005, mas muitas das manobras salariais que o time usou para manter a equipe unida nesses últimos anos finalmente cobraram o seu preço e obrigaram New Orleans a perder muito do seu talento. Além de Brees, os Saints hoje têm talvez o pior grupo de recebedores da NFL com Michael Thomas fora, perdeu toda sua profundidade defensiva, e ainda sofre com escassez de escolhas no Draft. É uma queda bem real.

Ainda assim, eu estou curioso para ver exatamente o tamanho dessa queda, e o quanto os Saints vão piorar sem Brees. O ataque sem dúvida vai cair: mesmo com Brees em fim de carreira não sendo sombra do craque do passado, eu ainda tenho dificuldade em ver como esse ataque conservador e eficiente se comporta positivamente com o rei dos turnovers, Jameis Winston, de titular. Não ajuda que os recebedores são péssimos.

Mas o combo de Alvin Kamara uma das melhores linhas ofensivas da NFL dá ao time um piso alto e chance para abrir todo um jogo de play action, o que vai impedir que caia demais. E a defesa, uma das melhores da NFL e talvez até um motivo maior para o sucesso da equipe nos últimos anos, continua muito boa: sua profundidade foi devastada, mas as principais peças ainda estão presentes. Não acho que ela será a segunda melhor da NFL de novo, como foi em 2020, mas se ficar saudável ainda pode ser Top10 da liga. Estou bem interessado em ver o que Sean Payton tira dessa equipe.