UOL Esporte Ciclismo
 
18/11/2008 - 07h00

Desconfiança e preconceito quase tiraram Pagliarini do ciclismo

Maurício Dehò
Em São Paulo (SP)
EFE
Pagliarini puxa a fila em treino em Pequim. Nos Jogos, ele sofreu com de pedra no rim
AFP
Preconceito e desconfiança devido a casos de doping quase o tiraram do ciclismo
PERFIL DO CICLISTA PARANAENSE
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REUNIÃO DECIDE PRESENÇA DE LANCE
Não é de hoje que o ciclismo está entre as modalidades que mais sofrem com o abuso de doping, em casos que a cada ano são escancarados pelas próprias entidades que dirigem o esporte. Mas não é apenas quem faz uso de substâncias ilícitas quem "sofre". Alguns dos mais prejudicados são os que correm de forma honesta. Para o brasileiro Luciano Pagliarini, um dos maiores nomes do país, a desconfiança em torno da profissão quase encerrou sua carreira.

"Pensei em parar de correr de bicicleta", admitiu o paranaense, em entrevista ao UOL Esporte. "Você é tratado como culpado até que prove o contrário". Correndo pela Saunier Duval, ele se viu no meio de escândalos de doping nesta temporada. Os italianos Riccardo Riccò e Leonardo Piepoli, seus companheiros de equipe, foram pegos com Cera, uma evolução do estimulante EPO, em exames realizados durante a Volta da França. O incidente causou uma crise no time.

Com dois ciclistas flagrados, a Saunier Duval acabou deixando o Tour, principal competição do ciclismo. "Eles se sentiram na obrigação de sair. A vergonha foi tão grande que abandonaram", contou Pagliarini, que não esteve na prova, mas sofreu com as conseqüências. A primeira desconfiança partiu da própria equipe, que perdeu parte dos patrocinadores. "Depois do caso do Riccò, ficamos suspensos. A equipe quis garantir que todos estavam limpos e deixou todos em casa por dois meses, enquanto tudo não estivesse resolvido. Pagamos o pato pelos dois, e não quero viver este tipo de situação por causa dos outros."

A irritação foi grande, uma vez que os ciclistas se encontravam no meio da preparação para as Olimpíadas e a parte final do calendário de provas. Assim, o ciclista decidiu deixar o time. Aos 30 anos - dez na Europa, onde pedala ao lado do compatriota Murilo Fischer -, o paranaense se sentiu pronto para dizer adeus, após ter realizado a maioria dos seus sonhos sobre as duas rodas. A salvação veio com um novo contrato, com uma equipe ainda em formação.

ITALIANO ERA ESPERANÇA DO TIME
AP
Italiano chegou a vencer etapa na França
Com apenas 24 anos, Riccardo Riccò foi de esperança a decepção na Saunier Duval. O ciclista italiano era uma das revelações do time e chegou a vencer duas etapas da Volta da França deste ano. No entanto, um exame antidoping detectou a presença de Cera, evolução do estimulante EPO, ocasionando sua suspensão da tradicional competição. "Ele era considerado um novo fenômeno e acabou chamando atenção só pelo doping", lamentou o brasileiro Luciano Pagliarini.
VINOKOUROV AINDA JURA INOCÊNCIA
Agora, Pagliarini defenderá os franceses do TelTech H2O, com um plantel em formação, mas que se espera fazer bonito nas principais provas do calendário profissional como o Tour e as Voltas da Espanha e da Itália. "É um grupo novo, o que tem me deixado empolgado. Vamos poder continuar batalhando e fazendo as coisas do jeito certo", disse o brasileiro, que voltou da Europa e iniciou sua preparação para 2009 pedalando nas estradas do Paraná.

Mesmo com a nova fase em progresso, ele terá de continuar lutando contra o preconceito. "Já passei por muitas situações assim, mas procuro apagar da minha mente. Com certeza o ciclista já ficou taxado. É como dizer que todo político é ladrão. Já senti muito disso, mesmo durante os exames antidoping", explicou o brasileiro, que de acordo com as regras do ciclismo, está sujeito a testes surpresa, que podem acontecer a qualquer momento e em qualquer lugar.

Acostumado com as cobranças e pressões, Pagliarini se prepara para continuar pedalando, deixando as preocupações para trás. "Nem penso mais nisso, quero olhar para o futuro", afirmou ele, que ainda não conhece seu calendário e não sabe se participará do Tour de 2009. "Ciclismo requer muita dedicação, então tem que valer a pena até pela ilusão, o prazer. Se voltar a sofrer, é porque é hora de fazer outra coisa", concluiu o brasileiro, que defendeu as cores do país nas duas últimas edições dos Jogos Olímpicos.

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