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19/06/2009 - 07h20

Entre estudos e viagens, jovem baiana desafia peruana por cinturão mundial

Maurício Dehò
Em São Paulo
Halana dos Santos tem apenas 19 anos, mas já ganhou respeito no mundo do boxe. Não é à toa que leva consigo o apelido de Leoparda dos ringues. Com um cartel de apenas nove combates, ganhou sua primeira chance de disputar um título interino, mas terminou derrotada. Neste sábado, em sua 12ª luta, ela terá a chance de trazer o cinturão mundial para o Brasil.

Arquivo Pessoal
Brasileira Halana dos Santos (d) foi à Itália, mas não conquistou o cinturão interino
Arquivo Pessoal
Halana tem a sua primeira luta por título mundial, enfrentando Kina Malpartida (PER)
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A tarefa da baiana não será nada simples. Ela terá de enfrentar a atual campeã Kina Malpartida, em duelo que será disputado na casa da adversária. A luta está marcada para ocorrer na Arena Coliseo Eduardo Dibos, com espaço para 6 mil espectadores, na capital do Peru, Lima.

Mas Halana já está acostumada às adversidades, que fazem parte de seu dia a dia. A jovem pugilista, fã da sérvia radicada brasileira Duda Yankovich, nasceu em São Filipe, cidade situada a três horas da capital Salvador, mas viaja diariamente para treinar em Santo Antônio de Jesus, com o técnico Edson Dias. As duas cidades são próximas de Cruz das Almas, chamada de "Cuba brasileira" após revelar nomes como Sertão e Washington Silva.

O obstáculo só não traz tantos problemas porque o pai da lutadora trabalha justamente com o transporte entre as cidades e dá uma carona à filha. A dificuldade é que, com apenas 19 anos, Halana ainda cursa o ensino médio e tem de dividir o tempo entre cadernos, luvas e viagens, contando com apoio apenas da prefeitura local e de uma farmácia. "Eu estudo pela manhã, no segundo ano do ensino médio, e viajo de tarde para treinar", conta ela. "Mas dá tempo para estudar e meus professores entendem a minha situação."

O contato com o mundo do boxe veio por meio dos amigos. Aos 13 anos, Halana gostava de assistir aos treinos e passou a vestir as luvas. "Comecei a fazer aulas só para passar o tempo. Mas, seis meses depois, meu professor achou que eu estava em condições e fui lutar como amadora", lembra ela. A primeira experiência não foi das melhores, contra uma rival cerca de seis anos mais velha. "Eu perdi porque estava com medo. Subi no ringue e minhas pernas tremiam. Foi uma sensação muito estranha."

EX-SURFISTA SE PREPAROU NOS EUA
EFE
Kina Malpartida é a atual campeã mundial na categoria superpena, na versão da AMB
Kina Malpartida preferiu deixar a expectativa de seus compatriotas e permaneceu nos Estados Unidos, onde reside, na preparação para enfrentar Halana "Leoparda" dos Santos. Celebridade em seu país, ela foi surfista antes de se arriscar profissionalmente no boxe.

O título nos ringues veio apenas depois de sua naturalização. Kina Malpartida é também cidadã australiana, meio que usou para entrar nos Estados Unidos. "A Austrália me ajudou a ter minha licença para lutar boxe. Mas sou mais peruana que o pisco", brincou ela, referindo-se à tradicional bebida de seu país.
Por sorte, a Leoparda não desistiu. Apesar de também gostar de capoeira e tentar a sorte como goleira de futebol, ela tornou-se profissional em 2007, aos 17 anos. A partir daí, somou as vitórias que a levaram a disputar o título interino. Ainda que sem rivais de expressão, Halana realizou dez combates na Bahia e venceu todos, sendo cinco por nocaute.

Em novembro passado, viajou à Itália, na tentativa de chegar longe na categoria leve. Enfrentando um país estranho e o frio intenso do inverno europeu, ela garante que venceu dentro do quadrilátero. No entanto, quem levou, por pontos, foi a pugilista da casa Laura Tavecchio. "A torcida até vaiou a italiana no final", conta o empresário de Halana, Adimilson da Cruz, o Lalá. "Ela vai com zebra. Mas treinamos muito e ela tem se dedicado para conquistar o título."

Rival de peso
Para conseguir o cinturão mundial, Halana dos Santos terá de tirá-lo da peruana Kina Malpartida. A lutadora subiu ao topo da categoria superpena ao vencer Maureen Shea no último mês de dezembro.

Kina foi a Nova York para enfrentar ninguém menos do que a pugilista que ficou famosa por ser a principal sparring da atriz Hillary Swank para o filme "Menina de Ouro" - Swank ganhou o Oscar pela interpretação. A peruana venceu por nocaute no décimo assalto e fará contra a brasileira a sua primeira defesa do título, na versão feminina da Associação Mundial de Boxe.

Com o triunfo, Dinamita, como é chamada, foi a primeira campeã mundial de boxe e passou a ser celebridade local. "É um provilégio levar esperança a tanta gente", afirmou ela, à agência EFE. "Eu me preparei bem e espero vencê-la (Halana) da melhor maneira. Ela é rápida, mas não lhe darei chances."

As duas travaram um bate-boca nas coletiva de imprensa anterior ao combate. A brasileira brincou com o sobrenome de Kina, dizendo que ela seria "bem-partida" durante a luta. "Halana acabou de cavar sua própria cova. Para mim, ela é só um gatinho de sofá", provocou a campeã.

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